A Comissão Étnico-Racial (CER) do Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) realizou, no último dia 30 de agosto, o evento de lançamento dos cadernos temáticos “Raízes que Tecem Cuidado: Psicologia e Povos Indígenas” e “Resistências: Psicologia, Negritude e Saúde Mental”, além da cartilha “Cuidar sem Colonizar: Ética, Cultura e Práticas em Psicologia”.
O evento contou com a participação de membros da Comissão, além de pessoas convidadas como a psicóloga indígena e conselheira do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Nita Tuxá (CRP-03/25213), o professor da Secretaria Estadual de Educação do Paraná e da PUCPR, Sergio Luis do Nascimento, e o presidente do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Consepir), Aloísio Justino Nascimento.

“Estamos em um país plural e diverso. Como vamos fazer uma Psicologia rígida e dura? A gente precisa amplificar, ampliar, acolher, entender esses corpos, essas realidades”, lembrou a psicóloga Nita Tuxá. A coordenadora do Núcleo de Povos Indígenas do CRP, Ana Lucia Ortiz Martins (CRP-08/45516), também comentou sobre os impactos do racismo sobre estas populações e o papel da Psicologia em endereçar tais questões.
“Não é possível ser psicóloga e ser neutra. Trabalhar isso junto com as pessoas negras [durante a produção dos livros] foi muito importante porque a gente também conseguiu perceber que há questões que afetam as duas populações [pessoas negras e indígenas], na mesma dimensão, e que isso precisa ser observado pela categoria também. Trazer isso nesse espaço é muito importante e necessário”, afirmou Ana Lucia Ortiz.


O presidente do Consepir também saudou a iniciativa, que é importante, segundo ele, por representar um passo na direção de uma reparação do racismo institucional. “O racismo e a discriminação racial são fruto de uma política pública equivocada em que o governo dizimou, escravizou e condenou à morte os povos originários e africanos. Então o combate, via instituição, também é necessário e relevante. Hoje [o dia do lançamento] é um ato de resistência, hoje é um ato de reflexão, hoje é um ato político, além do pedagógico.”


"Que esta publicação possa seguir circulando como território de escuta, como encruzilhada de saberes e como afirmação de que outras Psicologias – negras, indígenas, populares, comunitárias, insurgentes – não só são possíveis, como já estão sendo tecidas. Que cada página convoque a continuidade do que ali se iniciou, um fazer profissional capaz de seguir com ética e conhecimento, resistindo sensivelmente, re-imaginando mundos possíveis, em conjunto, em roda e com alacridade!"
Prefácio do livro Resistências: Psicologia, Negritude e Saúde Mental
Sobre a trilogia
Esta trilogia, fruto de um longo e dedicado trabalho da Comissão Étnico-Racial (CER), dá forma ao percurso que o CRP-PR vem trilhando nos últimos anos, entrelaçando reflexões éticas, expressão estética e considerações práticas para orientar a categoria profissional de maneira situada em relação às questões étnico-raciais. Ao oferecer este rico material ao público, a CER tem entre os seus objetivos ensejar o exercício de uma Psicologia que se faz a partir dos territórios, das memórias e das lutas dos povos racialmente e etnicamente implicados.


A coordenadora da CER, psicóloga e conselheira Pamela Cristina Salles da Silva (CRP-08/20935), explica que cada obra é um elo de uma rede viva.
📚 O primeiro caderno, Raízes que Tecem Cuidado: Psicologia e Povos Indígenas, abre o caminho, com narrativas e reflexões que nascem do chão vermelho paranaense e se expandem em práticas de cuidado construídas por e com povos originários.
📚 Já o texto Resistências: Psicologia, Negritude e Saúde Mental articula vozes e experiências que desafiam o racismo estrutural e afirmam saberes específicos das culturas como fundamento de uma Psicologia contracolonial.
📚 Por fim, Cuidar sem Colonizar: Ética, Cultura e Práticas em Psicologia oferece ferramentas conceituais e dicas práticas para transformar o compromisso antirracista em ação cotidiana, valorizando as formas de vida, cura e pertencimento forjadas nas ancestralidades.


A ideia das produções acerca da questão étnico-racial surgiu ainda em 2022, quando, dentro da Comissão Étnico-Racial, discutia-se sobre a atualização do Caderno de Orientações criado em 2016. Mas foi durante o XVIII Encontro Paranaense de Psicologia, no Fórum “Resistências: Psicologia, Negritude e Saúde Mental” e no “Encontro de Povos Indígenas”, que a iniciativa ganhou seus contornos definitivos.
A iniciativa de uma trilogia é inovadora especialmente com relação à Cartilha que, em linguagem acessível, surge como material essencial de orientação à categoria. O texto indica, por exemplo, que não se deve patologizar as diferenças, tentando estabelecer uma suposta “cura” para um modo de ser que só precisa ser respeitado, e que cuidar de forma antirracista é reconhecer modos de vida, tradições e formas de cuidado de cada território.
Mais que apenas um texto reflexivo, a cartilha é um guia prático de como atuar com povos indígenas, quilombolas, de favelas, de periferias e de comunidades tradicionais, com tópicos de fácil leitura que compilam boas práticas e ações antirracistas e contracoloniais, além de recuperar todo o arcabouço ético para tal atuação.
“Visualmente vibrante e conceitualmente profunda, a trilogia é tanto arquivo de memória quanto manifesto para o compromisso ético”, celebra a conselheira Pamela C. Salles da Silva. “Suas páginas são feitas para serem lidas com a mente aberta e o corpo presente, convidando a categoria profissional, e também a sociedade, a reconhecer que cuidar é também resistir, e que resistir é, sempre, criar novos mundos possíveis para todas as formas de vida.”

