Notícia

Campanha do Dia da Psicologia em 2025 defende regulamentação, além de outros pilares para psicoterapia com qualidade e ética

A psicoterapia vem conquistando mais espaço na sociedade. Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) divulgados pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) apontam que sessões de psicoterapia com profissionais da Psicologia via planos de saúde aumentaram mais de 208% em 2023, em comparação com 2019, enquanto consultas com psiquiatras cresceram 115% no período. Dados do Mapa Assistencial da Saúde Suplementar mostram que foram realizadas 45 milhões de sessões de psicoterapia individual e 6 milhões de sessões de psiquiatria apenas em 2023.

No entanto, a popularização da psicoterapia como recurso de cuidado em saúde mental, especialmente na era das redes sociais, nem sempre vem acompanhada da atenção à qualidade e ética do serviço oferecido, e a população ainda carece, por vezes, de informações para subsidiar a busca por profissionais que cumpram os requisitos necessários para um bom atendimento

O cenário da psicoterapia, já bastante fragilizado pela ascensão de metodologias sem comprovação científica, se agravou com um fenômeno recente e meteórico: uma pesquisa realizada pelo portal de notícias UOL, baseada em relatório da agência de estudos de comportamento Talk Inc., revelou que ao menos 12 milhões de pessoas no Brasil admitiram já ter procurado ferramentas de inteligência artificial generativa, como Chat GPT e Gemini, para fins de terapia e companhia.

🎯 No mês em que é celebrado o Dia da Psicologia, comemorado em 27 de agosto, o Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) lança a campanha “Psicoterapia é com regulamentação”, destacando a importância de uma prática de qualidade orientada por regulamentação, ética, formação, direitos humanos, políticas públicas, práticas antirracistas e relações humanas

A campanha vai, ao longo do mês de agosto, abordar de forma mais aprofundada estes sete pilares da psicoterapia

📣 Venha com a gente neste debate! Curta, compartilhe e ajude a espalhar esta ideia!

✅ Psicoterapia é com regulamentação

De acordo com a Resolução CFP n° 13/2022, define-se por psicoterapia as práticas individuais, em família ou grupo com o objetivo de promover a saúde mental e propiciar condições para o enfrentamento de conflitos ou sofrimentos psíquicos. Este acompanhamento deve ser feito com conhecimentos teóricos e técnicos fundamentados cientificamente e embasados por princípios éticos da profissão.

A normativa, válida em todo o país para profissionais da Psicologia com registro em um Conselho Regional de Psicologia, traz ainda uma série de princípios, deveres e diretrizes que devem reger todo o contato entre profissional e pessoas atendidas, incluindo aspectos como sigilo, gravação de sessões e critérios para a utilização de uma abordagem psicoterapêutica.

Além disso, o Sistema Conselhos vai além de apenas orientar. É parte da atuação dos órgãos de classe, entre eles o Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR), fiscalizar a correta aplicação desta diretriz, bem como do Código de Ética. A Comissão de Orientação e Fiscalização (COF), por exemplo, empreende fiscalizações periódicas em estabelecimentos nos quais há o exercício da Psicologia, efetuando as orientações necessárias ou mesmo encaminhando casos de apuração à Comissão de Ética (COE). Cabe à COE também o recebimento e averiguação de denúncias por parte da sociedade: qualquer pessoa pode comunicar uma possível falta ética por meio do site https://crppr.org.br/fazer-denuncia    

Nunca é demais lembrar: psicoterapia é uma ciência, e vai muito além de uma conversa ou atividade que nos traga bem-estar. Um processo psicoterapêutico de qualidade é embasado em estudos, pesquisas e práticas sustentadas por evidências científicas, com escuta atenta às singularidades de cada pessoa. Sem a garantia de que a pessoa profissional escolhida para o seu atendimento siga diretrizes cuidadosamente pensadas pelo Sistema Conselhos para proteger a sociedade, porém, as pessoas podem ficar a mercê de alguém que se apresenta como terapeuta sem o preparo necessário para lidar com questões delicadas de nossa psique. 

A partir daí, há um risco importante de que o sofrimento seja agravado devido a abordagens sem comprovação científica, atrasando o atendimento e cuidado. Não haverá, ainda, a quem recorrer para relatar casos de negligência, má conduta, abuso de poder ou quebra de sigilo, por exemplo. 

Por isso, ao procurar um atendimento de psicoterapia, recomenda-se a busca pelo nome da pessoa profissional no sistema do Conselho Federal de Psicologia, pelo site: https://cadastro.cfp.org.br/. E atenção: é preciso que o cadastro esteja ativo para que todo o arcabouço de regulamentação, orientação e fiscalização se aplique a esta pessoa profissional.  

➡️ Psicoterapia com regulamentação é psicoterapia com orientação e fiscalização.

✅ Psicoterapia é com ética

A versão mais recente do Código de Ética Profissional da Psicologia (CEPP), aprovada em 21 de julho de 2005 pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) por meio da Resolução CFP nº 010/2005, completa 20 anos em 2025. É o Código de Ética que, em sete princípios fundamentais e 25 artigos, orienta a conduta profissional, promovendo a dignidade, a igualdade e também a responsabilidade social, valores alinhados à Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Este conjunto de diretrizes preza pelo respeito aos direitos de cada pessoa, sem discriminação, priorizando a autonomia e o bem-estar, além de orientar profissionais da Psicologia a combater situações de injustiça ou sofrimento nas relações e contextos sociais.

O CEPP vai além de um simples mapa de como agir eticamente ao incentivar profissionais a adotar uma postura reflexiva, pensando criticamente sobre cada situação e alinhando sua prática aos valores éticos e sociais. Este documento é o principal pilar para a identidade profissional, pois garante a qualidade ética ao estabelecer padrões que protegem as pessoas atendidas em serviços de Psicologia e legitimam a profissão. 

Mas a categoria não está sozinha nesta tarefa. A Comissão de Orientação e Fiscalização (COF), amparada no arcabouço normativo e nas demais instâncias do Sistema Conselhos, como Comissões Temáticas, oferece orientações coletivas (por meio do Guia de Orientações no site do CRP-PR, de artigos e outros materiais de comunicação) e individuais, presencialmente ou de forma remota em canais como e-mail e videoconferência. Para saber mais, acesse: https://crppr.org.br/guia-de-orientacao/ 

O resultado de uma estrutura tão forte é que a sociedade fica segura ao procurar um atendimento com profissionais que têm regulamentação. Afinal, as abordagens e o formato (online ou presencial) da psicoterapia podem variar, mas uma coisa é certa: todo o atendimento será regido, acima de tudo, pela ética, e o Conselho estará de portas abertas para acolher denúncias em casos de desrespeito a este código. 

➡️Psicoterapia com ética é psicoterapia com qualidade e segurança.

✅ Psicoterapia é com formação

Exercer a Psicologia – e oferecer a psicoterapia como um serviço à sociedade – exige uma longa trajetória de estudos, que se inicia na graduação e, não raras vezes, se estende pelos anos subsequentes com a formação continuada. Esta é, inclusive, uma prerrogativa do Código de Ética da Psicologia, que estabelece o dever de “atuar com responsabilidade, por meio da melhoria contínua, contribuindo para o desenvolvimento da Psicologia como ciência e prática”.

Da mesma forma que a atuação de profissionais da Psicologia é regida por um conjunto robusto de normas e legislações, a formação deve se atentar a critérios estabelecidos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs). O Ministério da Educação publicou as DCNs atualmente em vigor para os cursos de graduação em Psicologia em 2023, definindo os princípios, fundamentos, condições e procedimentos para a implementação, avaliação e oferta de cursos de Psicologia, que devem contemplar todas as competências para o exercício desta profissão. 

Mais recentemente, no dia 19 de maio de 2025, o Governo Federal regulamentou a oferta de educação a distância por instituições de educação superior em cursos de graduação, o que foi recebido por instituições competentes da formação e exercício profissional da Psicologia como importante vitória para a formação de qualidade. De acordo com o art. 8º do Decreto nº 12.456/2025, a oferta de cursos de graduação em Direito, Medicina, Enfermagem, Odontologia e Psicologia será realizada exclusivamente no formato presencial. A limitação dos cursos EaD para a Psicologia, bem como outras áreas da saúde, já era uma luta antiga do Sistema Conselhos, uma vez que a presencialidade é fundamental na formação de profissionais que lidarão diretamente com a complexidade das questões humanas.

Além disso, o Conselho Federal de Psicologia (CFP), em articulação com os Conselhos Regionais, tem atuado ativamente para garantir que a prática da psicoterapia seja reconhecida como uma atribuição privativa da Psicologia e da Psiquiatria. Clique aqui para saber mais sobre esta incidência política do Sistema Conselhos.

➡️ Psicoterapia com formação é psicoterapia com base em ciência e teorias comprovadas.

✅ Psicoterapia é com relações humanas

Contar ao Chat GPT algo que aconteceu em relacionamentos interpessoais, pedir conselhos ou mesmo buscar companhia na conversa com uma ferramenta de inteligência artificial generativa é uma prática que vem ganhando popularidade. Uma pesquisa realizada pelo portal de notícias UOL, baseada em relatório da agência de estudos de comportamento Talk Inc., revelou que ao menos 12 milhões de pessoas no Brasil admitiram já ter procurado ferramentas de inteligência artificial generativa, como Chat GPT e Gemini, para fins de terapia e companhia. A substituição da psicoterapia com profissionais pela interação com a máquina, porém, esconde armadilhas. 

Os modelos de linguagem são treinados a partir de grandes volumes de informações, e depois lapidados para terem empatia, simulando, grosso modo, uma interação humana. Como ela aprende à medida que é utilizada, pode até mesmo moldar suas respostas ao que determinada pessoa espera – e aí está um dos perigos de confiar na máquina para fazer as vezes de “terapeuta”, já que ela pode passar a validar qualquer comportamento e até mesmo facilitar práticas que colocam a vida da própria pessoa ou de outras em risco. 

A psicóloga Nádia Giacomazzi Silva (CRP-08/24085), integrante da Comissão de Psicologia Clínica do CRP-PR, alerta que à IA faltam elementos essenciais que fazem parte do processo terapêutico, como a escuta qualificada, o vínculo humano, o manejo ético do sofrimento, a elaboração psíquica e o uso de técnicas apropriadas para acessar emoções e fatos que não conseguiríamos sem este auxílio especializado. A isso se somam diversos estudos que demonstram que a IA pode ser reprodutora de estigmas e preconceitos de raça, gênero, padrões de beleza e orientação sexual, entre outros, podendo aprofundar as já complexas consequências que estas violências têm sobre pessoas que se distanciam de normatividades impostas de forma arraigada pela sociedade há séculos.

Embora este recurso possa ser útil, se usado com parcimônia, para oferecer informações pontuais ou auxiliar em processos educativos, tais modelos de linguagem não têm a capacidade de compreender a complexidade emocional e social de um ser humano nem de conduzir um processo terapêutico seguro e ético. Reduzir a psicoterapia a uma interação com uma máquina pode colocar em risco a saúde mental das pessoas e banalizar o cuidado psicológico, que deve ser conduzido por profissionais com preparo para lidar com as nuances subjetivas de cada indivíduo, respeitando princípios éticos, técnicos e legais. 

Em julho, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) publicou uma nota de posicionamento sobre os impactos e desafios da IA para o exercício da Psicologia. O documento aborda a integração da IA na prática psicológica e ressalta a necessidade de uma abordagem ética e crítica por profissionais da área. “Não se trata de negar o avanço tecnológico, mas de garantir que sua implementação esteja alinhada aos princípios que orientam a Psicologia”, afirma o CFP.

Clique aqui para ler a nota do CFP na íntegra. 

➡️ Psicoterapia com relações humanas é psicoterapia com escuta atenta e cuidado individualizado.

✅ Psicoterapia é com direitos humanos

A Psicologia, enquanto ciência e profissão comprometida com a promoção de saúde mental, social e emocional de todas as pessoas, não pode se dissociar da defesa intransigente dos direitos humanos. 

A história do desenvolvimento da Psicologia no Brasil é marcada pelo seu entrelaçamento aos interesses das classes dominantes que buscavam a adequação da população no processo de industrialização do país. Nesse contexto, a Psicologia atuou a partir da naturalização e universalização de fenômenos psicológicos, em uma suposta posição de neutralidade e sem contextualização sócio-histórica, através da emissão de laudos e diagnósticos em escolas, empresas e instituições que responsabilizavam unicamente os sujeitos, além de contribuir para a disseminação de preconceitos e discriminações, promovendo o ajustamento e a adaptação a padrões de “normalidade”. 

Essa construção histórica contribuiu para o distanciamento dos profissionais da Psicologia de uma prática verdadeiramente comprometida com os direitos humanos. No entanto, essa trajetória forneceu subsídios para reflexão crítica e para a consolidação de práticas psicológicas orientadas pela promoção integral da dignidade humana.  Os avanços alcançados, e em constante construção, se refletem no Código de Ética Profissional do Psicólogo, que estabelece como princípios fundamentais de atuação o compromisso da profissão com a dignidade, a liberdade, a justiça e a responsabilidade social. 

A psicoterapia, como prática clínica da Psicologia, deve ser entendida não apenas como um instrumento técnico de intervenção, mas também como espaço de escuta, reconhecimento e reconstrução subjetiva diante de contextos de sofrimento atravessados por desigualdades sociais, exclusão e violações de direitos.

A relação entre Psicologia e direitos humanos se intensifica na medida em que os processos de subjetivação estão implicados em sistemas de poder que produzem sofrimento ético-político. Profissionais da Psicologia, portanto, são convocados a reconhecer a historicidade, a classe, o gênero, a raça e a orientação sexual como dimensões constitutivas da experiência humana e da subjetividade. Nesse sentido, a Psicologia, como ciência e profissão, deve se posicionar criticamente frente às violências estruturais, como o racismo, a misoginia, a LGBTQIAPN+fobia, a pobreza e o capacitismo. 

A psicoterapia com direitos humanos é uma prática ética, compromissada e aliada ao acolhimento e ao cuidado, que oferece um espaço de elaboração subjetiva sem reproduzir normatividades, patologizações ou silenciamentos. Ela se sustenta em uma escuta sensível às singularidades e atenta às condições, às potencialidades, à transformação pessoal e coletiva, constituindo-se como um território existencial de resistência e afirmação de vida.

➡️Psicoterapia com direitos humanos é psicoterapia com acolhimento, cuidado e compromisso social.

✅ Psicoterapia é com políticas públicas

A psicoterapia, historicamente vinculada ao contexto clínico privado, vem, nas últimas décadas, sendo ressignificada no âmbito das políticas públicas, assumindo um papel fundamental na garantia do cuidado integral em saúde mental. Essa ampliação está em consonância com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), que assegura o direito à saúde como dever do Estado e direito de todos, com base nos princípios da universalidade, da integralidade e da equidade.

No campo da saúde mental, a constituição da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) representa um importante avanço na materialização das diretrizes da Reforma Psiquiátrica brasileira e da luta antimanicomial. A RAPS substitui o modelo hospitalocêntrico por um modelo de cuidado centrado na pessoa, territorializado e baseado no cuidado em liberdade e na autonomia dos sujeitos, articulando os diferentes pontos de atenção, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), as Unidades Básicas de Saúde (UBS), os Consultórios na Rua, os serviços de urgência e emergência, entre outros, visando a oferta de espaços de escuta, acolhimento e cuidado.

Nesse contexto, a psicoterapia, como prática da Psicologia, exerce um papel fundamental, promovendo fortalecimento de vínculos, elaboração subjetiva do sofrimento, percepção de cidadania e reconstrução de projetos de vida. Essas práticas, quando inseridas nas políticas públicas, devem se pautar por uma ética comprometida com os direitos humanos, superar a abordagem individualizante e adotar uma concepção social e coletiva, reconhecendo que o sofrimento psíquico é atravessado por múltiplas determinações sociais, econômicas, históricas e culturais. 

O cuidado em saúde mental à populações vulnerabilizadas – como pessoas em situação de rua, negras, indígenas, LGBTQIAPN+, mulheres em situação de violência, pessoas com deficiência e pessoas em sofrimento psíquico ou em uso abusivo de álcool e substâncias psicoativas, por exemplo – requer abordagens interseccionais e intersetoriais, sensíveis às suas especificidades. 

A saúde mental também está intrinsecamente relacionada ao acesso a outros direitos e políticas públicas, como alimentação, acesso à moradia, ao lazer, à educação pública de qualidade, à emprego e renda e à políticas ambientais e garantia da vida humana. O cuidado, portanto, deve estar articulado à efetivação de uma rede de proteção social que promova a cidadania e a dignidade humana em sua totalidade. 

Nesse sentido, a garantia do direito ao cuidado em saúde mental é indissociável do fortalecimento da RAPS, o que requer investimento público para a ampliação dos equipamentos, capacitação, estruturação e valorização das equipes profissionais. Esse fortalecimento deve estar articulado à ampliação e à garantia do acesso aos demais direitos e políticas, uma vez que o sofrimento ético-político vivenciado por essas populações está diretamente relacionado à exclusão social, à violação desses direitos e à negligência do Estado.

A psicoterapia com políticas públicas é a defesa intransigente da vida. É reconhecer que o cuidado em saúde mental só se efetiva quando articulado à garantia de direitos humanos, sociais e políticos e ao fortalecimento da rede intersetorial de políticas públicas. Trata-se de construir uma clínica ampliada, comprometida com a escuta, com a transformação social e com a produção de novas formas de existir e resistir, mesmo em contextos de vulnerabilidade.

➡️Psicoterapia com políticas públicas é psicoterapia com dignidade, com justiça social e com compromisso com a vida em todas as suas formas.

✅ Psicoterapia é com práticas antirracistas

No Brasil, o racismo vai além de ações individuais: está enraizado nas instituições e na própria estrutura social. Reconhecer essa realidade é fundamental para uma psicoterapia que não invisibiliza o sofrimento racial, mas o acolhe com profundidade e responsabilidade

No contexto terapêutico, as práticas antirracistas incluem a escuta qualificada sobre vivências de discriminação, validando a experiência da pessoa e reconhecendo o impacto que o racismo tem na saúde mental. Ao incorporar práticas antirracistas, a psicoterapia passa a validar a dor causada pelo racismo, favorecendo a elaboração emocional dessas experiências e auxiliando na construção de estratégias de enfrentamento que não culpabilizam a vítima. Isso fortalece a autoestima, amplia a sensação de segurança e pertencimento e promove autonomia para lidar com situações futuras de forma mais saudável.

Buscar um letramento racial que vá além da racionalização, sendo integrado à vivência cotidiana, é o primeiro passo para que profissionais da Psicologia ofereçam uma psicoterapia baseada em práticas antirracistas. Uma das principais ações é atentar-se para suas próprias formas de ler o mundo, que aparecem nos seus comportamentos e falas, para não estereotipar comportamentos. 

Em suma, práticas antirracistas na psicoterapia não são um “bônus” ou uma pauta restrita ao ativismo social: são uma exigência técnica e ética para garantir que o espaço terapêutico seja, de fato, seguro, acolhedor e transformador para todas as pessoas

Uma psicoterapia comprometida com a vida precisa reconhecer que raça e etnia são determinantes sociais da saúde. É preciso escutar o sofrimento sem patologizar culturas, modos de vida e resistências. Cuidar significa valorizar saberes do território, tradições, espiritualidade, música, oralidade, comunidade e ancestralidade, reconhecendo que esses elementos promovem saúde, bem-estar e pertencimento.

E nada disso é novidade no Sistema Conselhos. A atuação da Psicologia com práticas antirracistas vem sendo sistematicamente promovida por legislações como o próprio Código de Ética, que já em seus princípios fundamentais destaca a obrigação da categoria de atuar para “a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”, bem como “analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural”. 

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) também regula a prática antirracista por meio da Resolução CFP nº 18/2002, a qual estabelece normas de atuação em relação ao preconceito e à discriminação racial. Além disso, diversas campanhas vêm abordando, nos últimos anos, o tema do racismo e seus impactos sobre a subjetividade das pessoas violentadas, assim como a responsabilidade de profissionais da Psicologia. Mais recentemente, o Prêmio Profissional Virgínia Bicudo: Práticas para uma Psicologia Antirracista reconhece e incentiva ações transformadoras, acolhendo trabalhos individuais e coletivos que promovem equidade racial na Psicologia.

O Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) também faz desta pauta um dos pilares de sua atuação, a partir da Comissão Étnico-Racial (CER) e do Núcleo de Povos Indígenas – no Paraná, a CER se tornou uma comissão permanente pelo reconhecimento da importância deste debate não ser afetado por transformações políticas e estruturais da instituição. O lançamento, no mês da Psicologia, da Trilogia de Cadernos Temáticos sobre questões étnico-raciais é um marco desta jornada em prol da orientação da categoria e da sociedade.

➡️ Psicoterapia com práticas antirracistas é psicoterapia que acolhe, valida e valoriza vivências em um ambiente promotor de saúde para todas as pessoas.

plugins premium WordPress