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Maio Furta-Cor | A Psicologia e a saúde mental materna

A maternidade pode ser vivenciada em múltiplas facetas, e a sociedade deve estar atenta aos seus atravessamentos sobre mulheres e pessoas que gestam. A campanha Maio Furta-Cor, criada em 2021 em alusão ao mês em que se celebra o Dia das Mães, busca sensibilizar, conscientizar e engajar a sociedade sobre os impactos desta vivência sobre a saúde mental. O movimento, que conta com 250 representantes no Brasil e em oito países diferentes, já contabiliza 150 leis Maio Furta-Cor, colocando o movimento nos calendários municipais e estaduais.

O Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) conversou com a psicóloga Deborah Eliete Marques Sanches Carvalho (CRP-08/11139), coordenadora da campanha em Curitiba-PR, sobre o papel da Psicologia nesta importante pauta. Deborah, que se juntou ao movimento por também ser mãe de duas crianças, tem formação em Parentalidade e Perinatalidade pelo Instituto Gerar e atua na Clínica com foco em mulheres atravessadas pela maternidade. 

Na entrevista, ela compartilha suas percepções sobre a maternidade, comenta os objetivos no movimento e traz reflexões importantes sobre como a Psicologia pode contribuir para a causa da saúde mental durante a maternidade. “Saúde mental materna vai além de depressão pós-parto. São muitas questões que atravessam, ao longo da vida, quem materna, e a Psicologia deve oferecer cuidado e escuta atenta”, afirma. 

CRP-PR: Qual foi a motivação na escolha do nome Maio Furta-Cor – uma tonalidade que pode variar de acordo com a maneira como a luz incide sobre ela – e qual a relação com os objetivos deste movimento em prol da saúde mental materna?

Déborah Eliete Marques Sanches Carvalho: Escolhemos furta-cor para representar que não existe apenas uma maternidade. Furta-cor é algo ao mesmo tempo muito diverso e muito singular. A maternidade é única para cada pessoa e é impactada por diversos fatores. Há os atravessamentos de raça, classe e renda, se essa mãe é solo ou não, se tem filhos atípicos ou com uma doença grave, por exemplo, se possui acesso a direitos sociais, entre outros.

O movimento Maio Furta-Cor organizou um momento público no último dia 17 de maio, em Curitiba, com espaço para brincadeiras para crianças e cuidado para as mães. Qual a importância desta ocupação de espaços públicos para a promoção de saúde mental?

Quando temos crianças pequenas, ocupar o espaço público se torna um ato de resistência. Seja em um restaurante, na rua, em espaços de cultura, teatro, enfim, todos os lugares acabam reprimindo as crianças e, por consequência, as mães acabam sendo expulsas do espaço público. Então nós fizemos uma programação toda voltada a mulheres e crianças para que, enquanto as mulheres estivessem fazendo alguma atividade, as crianças estivessem se divertindo. Tivemos pintura de mães com bebês, recreação e musicalização infantil, tudo para que as mães também pudessem se sentir cuidadas naquele momento.

No que diz respeito ao cuidado, a Psicologia tem muito a contribuir. O que você considera mais importante que profissionais considerem ao prestar algum tipo de atendimento a pessoas que maternam?  

Acho importante que a categoria compreenda que saúde mental materna vai além de depressão pós-parto. São muitas questões que atravessam, ao longo da vida, quem materna, e a Psicologia deve oferecer cuidado e escuta atenta ao que aquela pessoa está passando, está sentindo, seja durante a gestação, puerpério ou em outras fases da maternidade.

Quando estamos falando de saúde mental materna, estamos falando também de promoção de saúde, promoção de bem-viver, promoção de uma saúde integral. Precisamos acolher essa pessoa, muitas vezes exausta e esgotada, e entender do que ela precisa. A gente volta nossa atenção para a criança, se a criança está precisando disso ou daquilo, mas a gente precisa também ouvir e validar a mãe enquanto ser humano. 

A pessoa que é mãe precisa ter rede de apoio, precisa se sentir pertencente ao círculo social, ter liberdade de ir e vir garantida, liberdade para ocupar espaços públicos, direitos sociais assegurados – como vagas em creche, por exemplo, para ela poder ser outra coisa para além de mãe – além de pensar na construção social em que a mulher ainda é o pilar do cuidado. Precisamos, enquanto sociedade e categoria, pensar neste adoecimento materno e na promoção de saúde, equidade de gênero e outras formas de cuidado.