No último sábado (09), Psicólogas(os) e estudantes participaram de mais um evento promovido pelo Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) sobre refugiados, migrantes e apátridas. O Seminário “Crise Migratória Internacional e o Lugar da Psicologia” foi uma iniciativa da Comissão de Direitos Humanos e do Núcleo de Psicologia e Migrações (NUPSIM) para falar de um assunto bastante atual: como oferecer qualidade de vida a uma população que chega ao Brasil em cada vez maior número, vindo de regiões de conflitos armados e com situações de extremo sofrimento?
Da esquerda para a direita: Psicóloga Mariana Bassoi Duarte da Silva (CRP-08/10730), Fátima Ikiko Yokohama e Gabriel Gulano de Godoy
O Oficial de Proteção da ACNUR no Brasil (Agência da ONU para Refugiados), Gabriel Gulano de Godoy, lembra que o fluxo migratório que vemos hoje é o maior desde a Segunda Guerra Mundial – mais de 63 milhões de pessoas vivem em situação de refúgio. “Este momento está sendo dramático. As vítimas, que são os refugiados, estão sendo vistas como os culpados, como perigosos e autores da crise migratória”, disse, destacando que os mecanismos de proteção lidam com as consequências e não com as causas do problema. Godoy, que falou do ponto de visto do Direito, destacou que os países exercem uma hospitalidade seletiva, aceitando em seus territórios aqueles que poderão exercer funções não desejadas pelos cidadãos nativos, por exemplo. Além disso, a cidadania é precária, pois a fronteira pode estar aberta em um momento, mas mudar logo em seguida. “Este é um dos grandes desafios do Direito Internacional”, completou.
Para tentar resolver alguns dos problemas impostos aos refugiados no Brasil, existem Políticas Públicas sendo pensadas para este público. Quem contou um pouco do histórico destas Políticas foi Fátima Ikiko Yokohama, diretora adjunta do Departamento de Direitos Humanos e Cidadania do Paraná. Desde 2012, um grupo de profissionais trabalha em prol dos refugiados. “O maior desafio que encontramos hoje é a língua, pois ela se torna uma barreira. Além disso, a falta de inserção social e de acesso aos direitos e ao mercado de trabalho são questões que precisamos trabalhar”, disse, frisando ainda que a formação de agentes públicos é de fundamental importância. Para 2016, o recém-criado Conselho Estadual dos Direitos dos Refugiados, Migrantes e Apátridas do Paraná (CERMA/PR) pretende aprovar seu regimento e dar início às atividades. “Estamos planejando fazer uma coleta de dados para saber quem são os refugiados e em que municípios estão”, disse.
Os participantes se reuniram em grupo para oficinas
A contribuição da Psicologia
Para falar do ponto de vista da Psicologia, Mariana Bassoi Duarte da Silva (CRP-08/10730) contou algumas de suas experiências no atendimento a refugiados. Ela destaca que as pessoas, quando chegam a um país novo, perdem suas referências sobre comportamentos adequados, perdem os significantes que aprenderam quando crianças com suas famílias e comunidade. “Lembro de um jovem que não entendia o olhar das pessoas, se era de aprovação ou de crítica”, conta. “Este sujeito perde a sua identidade, é um não-sujeito. Que possibilidades ele tem?”, questiona-se Mariana.
Assim, o trabalho da Psicologia é o de ressignificar e reorganizar o sujeito, que vive o mal-estar de não fazer parte. “Uma frase muito comum entre os refugiados é ‘eu não me reconheço neste lugar’”, conta a Psicóloga, lembrando que a história de vida da pessoa normalmente já é de violência e dificuldades, e o trauma psíquico da perda do que era conhecido é muito grande. “Alguns não conseguem aprender coisas novas, pois ainda estão lidando com a perda do conhecido”.
O evento reuniu Psicólogas(os) e estudantes em torno do tema “crise migratória”