Para discutir as relações entre a Psicologia e a segurança pública, o Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) está promovendo neste sábado (21) um seminário sobre o tema. O evento, que segue até o fim do dia, teve pela manhã a participação de três palestrantes que trouxeram visões diferentes para o problema.
A presidente do CRP-PR, Cleia Oliveira Cunha (CRP-08/00477), fez a abertura do evento
A Psicóloga Gabriela Reyes, que trabalha com prevenção da violência, falou sobre a importância de atuar com as crianças e adolescentes, em especial aqueles em situação de maior vulnerabilidade. “Se não trabalharmos os filhos de presos, eles serão a próxima geração de encarcerados”, disse. Reyes lembrou que o perfil das pessoas que acabam no sistema penitenciário indica um baixo grau de escolaridade, mostrando a importância de se trabalhar desde a infância para prevenir o crime. “Devemos nos perguntar o que está errado, o que a Psicologia pode fazer, qual a nossa responsabilidade”, concluiu, frisando que todos devem fazer a sua parte, ainda que não seja possível resolver todos os problemas, e não apenas esperar que o governo a faça.
Gabriela Reyes (à esquerda) falou sobre a prevenção à violência no trabalho com crianças e adolescentes
Criminalização x Incriminação
O Psicólogo Pedro Paulo Gastalho de Bicalho (CRP-05/26077) trouxe à plateia uma discussão mais teórica sobre a segurança pública. Segundo ele, existem dois processos distintos em nossa sociedade: o da criminalização e o da incriminação. O primeiro diz respeito à estigmatização de determinadas características ou ações, como a pobreza e a homossexualidade. “Este processo é subjetivo, e a Psicologia se insere em todo ele”, explica Bicalho. Já na incriminação, processo que perpassa várias esferas desde a prevenção até o julgamento e execução, a(o) Psicóloga(o) também atua. “Existem momentos de subjetividade, como determinar se o crime foi doloso ou culposo, se o autor é imputável ou não e quais as motivações do crime, como a legítima defesa, em que a Psicologia se insere”. Bicalho listou ainda outras discussões que precisam ser feitas para mudar a forma como a sociedade lida com a segurança pública, como o exame criminológico de progressão de pena e a política de egressos do sistema penitenciário. “A questão não é pensar quais são os direitos, mas quem são os humanos”, concluiu o Psicólogo.
Pedro Paulo Gastalho de Bicalho falou sobre os processos de criminalização e incriminação
Psicologia para a polícia
Para finalizar a mesa-redonda, o Psicólogo da Polícia Militar do Paraná (PMPR) Rafael Penkal apresentou as políticas de apoio psicológico que existem hoje para os agentes de segurança no Paraná. “Como os policiais passam por situação bastante estressantes, é importante promover ações para este público”, explicou. Pensando em melhorar a saúde mental daqueles que lidam diretamente com a segurança nas ruas, o setor de ação social da PMPR oferece acompanhamento psicológico para os policiais e seus familiares, ações de prevenção ao suicídio, programas antiestresse, entre muitos outros serviços. “Um dos desafios que enfrentamos é o de quebrar o preconceito que muitos policiais ainda têm em relação à Psicologia, mostrar para eles que é algo bom”, conta Penkal.
Rafael Penkal é Psicólogo da Polícia Militar do Paraná