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Notícia

Saúde mental para a população idosa durante o período de isolamento social

As pessoas idosas estão no centro da atenção quando se fala de coronavírus, uma vez que em vários lugares do mundo parte significativa dos casos graves observados estavam nesta faixa etária, geralmente associados a comorbidades, ou seja, outras doenças que a pessoa já possuía antes de ter Covid-19.

 

Em meio a medidas de precaução como o distanciamento social e muitas informações circulando – algumas verdadeiras e outras não – pessoas idosas podem ficar privadas de seu convívio social e também ser advertidas de vários modos sobre os riscos. Esse excesso pode trazer ansiedade, medo e angústia.

 

Para saber mais sobre como tratar do tema com as pessoas idosas, o Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) conversou com a Psicóloga Solange do Carmo Bowoniuk Wiegand (CRP-08/03266). Solange é colaboradora do CRP-PR,  mestre em Bioética, professora universitária e de cursos de extensão em Tanatologia, membro dos grupos de pesquisa em “Bioética, Cuidados em Humanização e Saúde” e “Bioética, Saúde Pública Global e Direitos Humanos”, ambos da PUCPR-CNPq. Confira a seguir a entrevista:

CRP-PR – Que estratégias adotar para lidar com pessoas idosas que demandam atenção psicológica?

 

Solange do Carmo Bowoniuk Wiegand – Para as idosas e os idosos, sendo a população com principal risco, esse período pode causar estresse e ansiedade. O apoio emocional da família e amigos, nesse momento, é imprescindível, ajudando a gerenciar as emoções e aliviar a ansiedade. Manter as atividades diárias e as atividades físicas, na medida do possível, também é recomendável. Lembrar que o isolamento social é físico e não precisa ser emocional, uma vez que a comunicação entre as pessoas pode continuar, seja pela internet ou pelo telefone.

 

As sugestões para (as)os idosas(os) que não tem acesso a telefone celular ou internet é de que possam realizar atividades das quais eles gostem e que promovam relaxamento: colocar a leitura em dia; realizar um trabalho manual como o tricô ou o crochê; rever o álbum de fotografias da família e assistir a filmes, são alguns exemplos. A meditação também pode promover momentos de relaxamento.

 

É importante lembrar ainda sobre a importância do sono, da alimentação saudável e de se seguir as orientações das autoridades sanitárias sobre a higienização das mãos e distanciamento do convívio social.

 

Percebe-se também que, neste momento significativo para as pessoas, muitas buscam novo sentido de vida, voltando-se para a espiritualidade. É importante buscar formas de viabilizar esse contato – como as transmissões online e canais de conversa – caso as(os) idosas(os) mostrem interesse pela temática.  

 

Outro aspecto importante é passar a mensagem de que a(o) idosa(o) não está sozinha(o), que pode contar com a ajuda de familiares, amigas(os) e vizinhas(os), que não precisam, por exemplo, sair de suas casas para fazerem compras. Marcar que é algo temporário e que, daqui a algum tempo, poderão retomar seus passeios com amigas(os), visitas aos seus filhos, filhas, netas e netos também pode ajudar a aliviar a ansiedade, com a compreensão de que este é um momento de recolhimento especial para todas e todos.

CRP-PR – Como familiares podem conversar com idosas e idosos que porventura não considerem necessárias as medidas de segurança?

Solange – Paciência com as(os) idosas(os) é a palavra de ordem nesse momento. As explicações devem ser francas, sobre como se prevenir contra a Covid-19, e repetidas quantas vezes sejam necessárias. Não é o momento de incutir medo, mas de conversar sobre a enfermidade, inclusive, citando exemplos ou passando vídeos do que já aconteceu em outros países. No entanto, se faz necessário cautela nos comentários sobre notícias sensacionalistas, buscando informações em fontes seguras, principalmente se houver algum familiar infectado, o que pode gerar preocupação e mais estresse na(o) idosa(o), equilibrando também com a informação de pessoas recuperadas e boas notícias.

CRP-PR – Quais os sinais a que idosas(os) e familiares devem estar atentas(os) para indicar que algo não vai bem com a saúde mental?

 

Solange – O distanciamento social pode provocar nas pessoas ansiedade, irritação, preocupação, estresse e agitação. É possível que o distanciamento social precise se alongar ou se transforme em quarentena – quando pessoas já tiveram contato com alguém doente – quando o tédio, o medo de contrair o vírus, a falta de alimentos e a perda financeira, entre outras, são questões que podem aparecer.

 

Neste momento é preciso estar ainda mais atenta(o) a alguns sinais e sintomas de depressão em idosas(os). Além dos sinais de tristeza e angústia, a diminuição de atividades rotineiras, as dores físicas e a perda de memória devem ser levadas em conta, pois estes fatores podem contribuir para que a saúde mental seja abalada, mesmo que seja por um período temporário.

 

Devemos lembrar também que epidemias, principalmente as pouco conhecidas, como é o caso da Covid-19, podem causar pânico nas pessoas, uma vez que, nas redes sociais, as “fake news” (como são chamadas as notícias falsas) circulam sem qualquer critério. Esse cenário pode abalar a saúde mental causando o estresse e ansiedade, semelhante ao sofrido por pessoas que passaram pelo estresse pós-traumático.

 

As emissoras de televisão mudaram sua programação para que as notícias pudessem chegar em primeira mão, entretanto, o fluxo constante de informação pode gerar mais preocupação e estresse, fazendo com que a ansiedade se torne mais alta ainda. Por isso, é importante dosar a quantidade de informação a que estamos expostas(os).

 

Por outro lado, a solidariedade passou a fazer parte da vida das pessoas, com a ajuda às(aos) mais vulneráveis, na busca de um conforto coletivo. Os contatos virtuais estão aliviando o isolamento social. É preciso estar atenta(o) e quando necessário buscar o apoio profissional. Psicólogas(os) estão ofertando o atendimento na modalidade online, o que permite o acompanhamento de casos que demandem ajuda profissional,  respeitando as orientações sanitárias, adequando a modalidade de atendimento e garantindo acesso ao serviço de saúde mental.

CRP-PR Como cuidar de quem cuida? Quais os cuidados que as pessoas e familiares que atendem idosas(os) devem tomar em relação à saúde mental?

 

Solange – O cuidador, seja ele membro ou não da família que cuida da(o) idosa(o), passa por momentos de sobrecarga emocional ao assumir a responsabilidade pelo cuidado. Diante deste encargo é comum apresentar cansaço físico, tensão, distúrbio do sono e por vezes se sentir depressiva(o).


Assim sendo, ela ou ele também necessita de cuidados e, para isso, precisa da ajuda de outras pessoas. É primordial que tenha algum tempo livre para cuidar de si própria(o); relaxar, fazendo alguma atividade que gosta (assistir um filme, ler um livro, são alguns exemplos); executar algum tipo de atividade física (caminhar, fazer ginástica, entre outros).
Importante salientar que, em se tratando de uma cuidadora ou cuidador da própria família, por vezes acaba deixando de lado o cônjuge ou a vida profissional, gerando um conflito pessoal. 

 

Cada cuidador(a), seja familiar ou profissional, tem o seu próprio modo de se reenergizar, de acordo com a sua necessidade. Porém, a busca do equilíbrio entre o seu eu interior e exterior deve ser constante.

 

Complemento com uma frase: “Tudo que existe e vive precisa ser cuidado para continuar existindo. Uma planta, uma criança, um idoso, o planeta Terra. Tudo o que vive precisa ser alimentado. Assim, o cuidado, a essência da vida humana, precisa ser continuamente alimentado. O cuidado vive do amor, da ternura, da carícia e da convivência”. (Boff, 1999)

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