A Comissão de Ética (COE) do Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) publicou em junho deste ano o relatório dos processos éticos iniciados entre 2012 e 2017. O documento analisa números coletados sobre denúncias e características das(os) profissionais denunciadas(os) e penalizadas(os) – como gênero, idade e tempo de registro –, além das áreas da Psicologia em que as infrações mais acontecem e os artigos do Código de Ética Profissional do Psicólogo (CEPP) mais infringidos. Por fim, o autor do relatório, Bruno Angelo Strapasson (CRP-08/10940), traz algumas conclusões sobre o perfil dos processos éticos e as estratégias a serem adotadas para diminuir o número de denúncias e penalizações.
Essa publicação é uma continuação da pesquisa referente ao ano de 2012 e surge a partir da preocupação da gestão com a qualidade da formação da(o) profissional, de modo a promover uma avaliação da atuação profissional em termos éticos, considerando que o CRP-PR é um espaço de orientação da categoria. A Conselheira Rosângela Lopes de Camargo Cardoso (CRP-08/01520), integrante da Diretoria na época da proposição da pesquisa, afirma que o documento tem o objetivo de verificar quais eram os dispositivos de enganos e erros cometidos pelas Psicólogas(os) dentro dos processos éticos, possivelmente causados por desconhecimento.
Segundo a Conselheira do CRP-PR Carolina de Souza Walger (CRP-08/11381), também integrante da Diretoria no período da pesquisa, o interesse da COE não é o de punir as(os) Psicólogas(os), mas de orientar e fiscalizar para que seja feito um trabalho profissional adequado. “O objetivo era compreender o volume de processos éticos que nós tínhamos e quais eram as principais falhas cometidas pelas(os) profissionais, para que a gente pudesse colocar em prática intervenções, seja através da criação de referências técnicas, de resoluções ou a realização de eventos”, explica.
Além disso, a pesquisa possibilita uma devolutiva aos cursos de graduação, para que os currículos possam ser revistos. Para a Presidente da COE, Deisy Maria Rodrigues Joppert (CRP-08/01803), é através das constatações do documento que trabalhos podem ser pensados e realizados para prevenir as possíveis falhas e promover conscientização e capacitação. Como exemplo, a Psicóloga relata um caso em que os processos éticos gerados em relação ao processo de avaliação das Carteiras Nacionais de Habilitação (CNH) estavam muito intensos. A partir disso, a COE e o CRP-PR como um todo desenvolveram diversas ações junto ao Detran/PR, o que proporcionou uma diminuição das denúncias.
Segundo Deisy, o mais importante a se pensar com esses dados não é somente a quantidade de denúncias, mas a possibilidade de se fazer uma análise qualitativa. Ela também ressalta o papel que cada profissional tem quando conhece o conteúdo do relatório: “É muito importante a categoria se tornar ciente de onde estão os maiores problemas éticos da atuação profissional. Dessa forma, cada um pode avaliar de forma crítica a sua própria prática, inclusive para perceber qual é o impacto da atuação para a sociedade”. Sobre isso, Rosangela ressalta que a caracterização dos processos éticos é uma importante ferramenta para a(o) Psicóloga(o) conhecer e perceber em quais situações está mais vulnerável de descuido e que exigem mais cuidado, o que possibilita a prevenção. Ela cita, por exemplo, as áreas da clínica e da jurídica.
Para Deisy, outro aspecto que os números mostram é o quanto a sociedade está se tornando exigente em termos de qualidade técnica do serviço prestado, percebendo possíveis falhas e atenta aos recursos do CRP-PR para que os casos sejam examinados. “Isso requer da gente mais atenção, mais capacitação, mais empenho em levar a nossa profissão com muita seriedade”, alerta a Psicóloga. Ainda que os números de denúncias sejam pequenos se comparados à quantidade de Psicólogas(os) no Estado, Deisy demonstra preocupação referente ao aumento de casos com temas graves, o que pode ser constatado na análise dos artigos pelos quais as(os) profissionais são penalizadas(os).
Carolina Walger conclui que foi importante refazer a pesquisa, percebendo que desde 2012 o panorama e as falhas mudaram. Isso demonstra que as ações que foram feitas nos problemas anteriormente verificados surtiram algum efeito. Porém, outros problemas surgiram, e a pesquisa permite pensar em desdobramentos e estratégias para tentar resolver essas questões e prevenir para que elas não aconteçam.