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Reflexões sobre o câncer de mama: a Psicologia como peça fundamental do tratamento para além do Outubro Rosa

O câncer de mama está entre os tipos da doença com mais incidência no Brasil: 15,3% do total de novos casos, segundo o Cancer Country Profile (Perfil do Câncer por País, em tradução livre) de 2020 da Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), este é o câncer mais presente na população feminina e, como estima a OMS, está longe de diminuir em sua relevância, pois o número de casos anuais deve saltar de 85 mil (em 2018) para 133 mil em 2040.

Por ser uma doença que acarreta diversas mudanças – físicas e emocionais –, reconhece-se a importância de tratar a enfermidade em uma dimensão biopsicossocial. Desde 1998, a partir da publicação da Portaria nº 3.535, o Ministério da Saúde reconhece a necessidade de disponibilizar uma equipe multidisciplinar que inclua Psicólogas(os) para as(os) pacientes em tratamento oncológico em Unidades e Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia. Esse entendimento foi renovado com a Portaria SAES/MS nº 1399, de 2019, que estipula como requisito básico a Psicologia Clínica nos quadros de serviços desses locais.

Efeitos da doença e benefícios do acompanhamento psicológico

Os efeitos físicos e emocionais decorrentes do câncer de mama e seus tratamentos geram, nas mulheres – público-alvo da campanha anual Outubro Rosa – uma série de sentimentos, como ansiedade, tristeza, desespero, susto e estado de choque. A constatação é de um estudo realizado pela Psicóloga Amanda Braz Ramirez (CRP-08/28197), que realizou uma pesquisa sobre a autoestima de mulheres em tratamento oncológico — em especial, aquelas que passaram pelo procedimento da mastectomia, ou seja, a retirada parcial ou total das mamas. Além disso, mais da metade das participantes da pesquisa relataram ter sentido medo da morte ao receberem o diagnóstico da doença.

Na visão de Laura Domingos Alves Machado (CRP-08/20662), Psicóloga voluntária na Associação das Amigas da Mama (AAMA) há sete anos, o acompanhamento psicológico é fundamental para a adaptação das pacientes ao cenário posterior ao diagnóstico – início do tratamento, cirurgias, quimioterapia, exames, radioterapia. Isso porque, por diversas razões como a perda dos cabelos e da própria mama, possíveis efeitos colaterais do tratamento, a nova rotina desgasta física e emocionalmente.

A Psicóloga e pesquisadora Amanda Ramirez confirma que a mastectomia, por exemplo, impacta na visão que a paciente tem dela mesma e também em sua produtividade: “algumas relatam que se sentem inferiores a outras mulheres, pois não conseguem mais trabalhar, fazer o serviço de casa que antes era comum”, explica. Para a profissional, é neste contexto de mudanças que o acompanhamento psicológico pode trazer benefícios, em especial no processo de ressignificação dessa experiência.

Alguns destes benefícios são percebidos no dia a dia do trabalho de Laura: maior bem-estar emocional, melhor adesão ao tratamento e atenuação significativa dos riscos de desenvolvimento de quadros depressivos ou de ansiedade. Ademais, a voluntária afirma que o trabalho terapêutico promove a participação mais ativa e positiva da paciente durante o tratamento: “à medida que esse trabalho vai acontecendo é muito bonito de ver o quanto essa mulher vai se reencontrando e vai fazendo as pazes com a sua feminilidade, com a sua identidade enquanto mulher mesmo diante de uma nova imagem corporal”, conta.

Acesso ao acompanhamento psicológico

Apesar de ser um serviço reconhecido como essencial para o tratamento completo da doença, ainda falta acesso à informação sobre a sua disponibilidade. Neste sentido, Amanda comenta que, apesar de já “existir atendimento psicológico ambulatorial tanto para as mulheres que estão passando pelo câncer de mama que retiraram a mama tanto para outras(os) pacientes oncológicos”, a disponibilidade desses serviços é limitada e concorrida. Recentemente, ela verificou por meio de uma experiência familiar que também falta a divulgação desses serviços. Quando sua tia teve câncer de mama, foi ela que orientou sobre os serviços psicológicos disponíveis para pacientes como ela, enquanto nenhuma informação foi fornecida pelo hospital.

Laura trabalha em uma organização da sociedade civil que acolhe mulheres com câncer de mama e, apesar de ver a inserção da(o) Psicóloga(o) no ambiente hospitalar como uma conquista, acredita que há muito o que melhorar no atendimento a essas mulheres. “O Brasil ainda está inserido em um cenário em um contexto político e social em que a saúde emocional, em especial, não é vista como uma prioridade”, explica.

Redes de Apoio

Os protocolos de distanciamento social exigidos para o combate à pandemia da Covid-19 dificultaram a construção de redes de apoio para as pacientes em tratamento oncológico. Neste momento atípico, Amanda vê a internet como uma ferramenta importante para fornecer apoio: “elas vão para a internet em busca de ajuda, para saber quais alternativas têm”, explica.

A Associação das Amigas da Mama atua como uma rede de apoio e de sustentação das mulheres com câncer de mama, possibilitando a troca de experiência que contribuem no tratamento da doença com mais segurança e otimismo. Em março, por conta da pandemia, a AAMA fechou seu espaço físico, mas não deixou de atender suas associadas. Laura relata que a instituição se adaptou ao novo cenário e seguiu com orientações, empréstimos de perucas, próteses, sutiãs e doações de lenços. Além desses serviços, foram mantidos os atendimentos jurídicos e psicológicos de forma online e presencial (quando necessário) através de agendamento.

Para continuar próxima das mulheres atendidas, em suas redes sociais, a associação passou também a realizar lives, rodas de conversa e encontros virtuais com para fornecer orientações e propiciar um espaço para que as mulheres possam ser ouvidas.

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