Pesquisar
Close this search box.

Notícia

Orientações à sociedade sobre a redução de danos decorrentes do uso de álcool e outras drogas durante a quarentena

O atual contexto de isolamento social decorrente da pandemia de Covid-19 tem impactado nossa saúde mental de diversas maneiras. Esse fato traz consigo novas percepções sobre a realidade, produzindo novas formas de sociabilidade e de estar no mundo, muitas vezes permeada por meios virtuais, onde a distância se faz presente, sem que exista um prazo para voltarmos ao “normal”. Inevitavelmente, as categorias de sofrimento ético-políticos oriundas de questões políticas, culturais e socioeconômicas acabaram intensificadas pelo enclausuramento necessário para a prevenção e enfrentamento do contágio decorrente do novo coronavírus, levando, em algumas situações, a importantes reflexões sobre o cuidado de si, o cuidado do outro e sobre o futuro.

Junto a essa questão, temos o uso abusivo de álcool e outras drogas. Ora visto por nossa sociedade como tabu ou questão de segurança pública – e raramente como questão de saúde, assistência, educação e outras políticas públicas -, essa problemática tem sido evidenciada como ponto de atenção. Somado a este contexto, as restrições no convívio social como medida de prevenção à disseminação do Sars-CoV-2 interromperam o funcionamento de locais e a realização de eventos públicos como bares, casas noturnas, festividades culturais e campeonatos esportivos. Consequentemente, os comportamentos sociais e de consumo relacionados a estes espaços de convívio social, como o consumo de drogas, também foram impactados.

Organizações e universidades ao redor do mundo estão desenvolvendo pesquisas sobre o consumo de álcool e outras drogas durante a pandemia. No Brasil e no restante da América Latina destacam-se os estudos da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Centro de Convivência É de Lei (SP) e da Escola Livre de Redução de Danos (PE).

De acordo com a OPAS:

O consumo de álcool é principalmente uma atividade social, geralmente realizada em público, em locais públicos, festivais, eventos esportivos. A disponibilidade de álcool nesses locais tem diminuído com a implementação da quarentena e outras medidas para conter a propagação da COVID-19. É importante saber o que mudou nos hábitos da população, para que possamos melhor responder com informação, educação, serviços de assistência e outras estratégias, conforme necessário e de maneira oportuna.

Já o estudo inédito desenvolvido pelo Centro de Convivência É de Lei, em parceria com o Grupo de Pesquisas em Toxicologia e o Laboratório de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos, ambos da Unicamp, aponta que 38,4% dos usuários relataram aumento do uso de substâncias psicoativas, 34% afirmaram diminuição e 27% alegaram que a frequência foi mantida em relação ao período anterior à pandemia. O levantamento foi realizado entre 30 de abril e 15 de maio através de formulário online e contou com a participação de 4 mil pessoas.

Os dados obtidos na pesquisa evidenciam que 52,1% dos entrevistados consideram que o uso de substância psicoativa ajudou a lidar com os efeitos psicossociais da pandemia. Para 43,7% não houve implicações positivas ou negativas em decorrência do uso de drogas. E 4,2% apontou que o uso de drogas durante a pandemia está associado a algum sofrimento psicossocial.

Os dados obtidos na pesquisa evidenciam que 52,1% dos entrevistados consideram que o uso de substância psicoativa ajudou a lidar com os efeitos psicossociais da pandemia. Para 43,7% não houve implicações positivas ou negativas em decorrência do uso de drogas. E 4,2% apontou que o uso de drogas durante a pandemia está associado a algum sofrimento psicossocial.


Outras estatísticas levantadas por esse mesmo estudo apontam que:
● 43,1% fazem uso de substâncias psicoativas durante as atividades relacionadas ao trabalho na modalidade home office. Para 56,9% dos participantes o uso não está associado ao contexto do trabalho.
● 28,5% dos participantes afirmaram que fizeram uso de drogas na pandemia para evitar discussões, problemas e responsabilidades. Para 71,5% a situação não se aplica.
● Para 35,8% o uso de drogas se apresentou moderada; 34,6% tem muita necessidade e 29,6% afirmou não ter necessidade ou pouca.
● 30,5% tem apreciado mais, 14,7% menos; 50,1% não identificou nenhuma alteração e 4,6% tem apresentado experiências negativas (bad trips).
● 84% disse que não está compartilhando objetos de uso de drogas, como cigarros, cachimbos, canudos, piteiras, bongs, etc.; 16% afirma que sim.
● 66,3% dos entrevistados não considera que a pandemia seja o momento oportuno para o aumento do consumo; 12% acredita que sim e 21,8% não respondeu.
● 74,5% afirma que o consumo de álcool se mantêm durante a pandemia; 11,3% interrompeu o uso; 8,5% não faz uso antes e durante a quarentena; 5,7% passou a consumir bebidas alcoólicas.
● 78,1% não faz uso de ansiolíticos antes e durante a pandemia; 12% mantêm o uso; 5,6% interrompeu o uso; 4,3% iniciou o uso na quarentena.
● 94,7% não está frequentando a residência de amigos ou bares para fazer uso de drogas; 5,3% afirma que mantém o hábito.
● 57,4% diz sentir muita falta dos espaços de convívio social; para 22,2% a falta é moderada; 20,5% afirma não sentir falta.

Sendo assim, é importante avançar nas discussões sobre uso de drogas para além de olhares preconceituosos e de criminalização, avançando para abordagens que acolham e que considerem esse fenômeno como pertencente à humanidade, mas que pode causar danos em momentos de vida difíceis e inomináveis. Nestes casos, será importante ir para além da substância, construindo um olhar de cuidado permeado pela compreensão de quem é o sujeito que faz o uso, qual a substância e, por fim, como seu contexto tem influenciado na dinâmica de uso problemático dessa(s) substância(s).

Apontamos algumas estratégias para o cuidado de si e de outra pessoa que se encontre em situação de uso problemático de álcool e outras drogas:

  • Caso venha a fazer uso, higienize as mãos com água e sabão ou álcool 70% antes de manipular substâncias;
  • Lembre-se de, além das mãos, higienizar os objetos de uso pessoal (cigarros, cachimbos, seringas, etc) com água e sabão ou álcool 70% e evite o compartilhamento;
  • Evite misturar substâncias;
  • Evite o uso de substâncias estimulantes, como café e energéticos, à noite ou próximo do horário de dormir;
  • Em caso de sintomas de ansiedade e pânico associados ao uso de substâncias (bad trip), lembre-se de beber água, respirar corretamente, e se necessário, acione a sua rede de apoio (familiares, amigos, vizinhos ou profissionais da saúde);
  • Procure se manter atualizada(o) sobre o funcionamento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) no seu município durante a pandemia da Covid-19, como os horários e os serviços disponíveis;
  • Em caso de sintomas como falta de ar, dor ou desconforto no pulmão e nas costas, suspenda o uso do tabaco/cigarro e entre em contato com a unidade de saúde mais próxima para verificar qual a melhor estratégia para a busca de atendimento;
  • Procure manter uma rotina saudável, com a prática de exercícios físicos e alimentação equilibrada;
  • Caso queira mais informações sobre saúde mental, acesse as orientacões disponíveis no link https://crppr.org.br/saudementalnaquarentena/. Vamos enfrentar essa situação juntas(os)!
Formulário para participação na pesquisa da Universidade Federal de São Paulo:

Acesse e participe da pesquisa clicando neste link – https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSe8U2F2ReFAM4w9Az6GxoP1RgJZOgColsrN_0Dl2ksbVjLw7Q/viewform?vc=0&c=0&w=1

plugins premium WordPress

Utilizamos cookies e tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços. Ao continuar navegando, você concorda com estas condições. Para ter mais informações sobre como isso é feito, acesse Política de cookies.