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E quem não pode parar? Cuidados em saúde mental para trabalhadores da Saúde

Equipes de Limpeza, Maqueiras(os), Técnicas(os) de Enfermagem, Enfermeiras(os), Fisioterapeutas, Biomédicas(os), Médicas(os) e, em muitos casos, Psicólogas(os) são algumas das profissões que estão na linha de frente no combate ao Covid-19, causado pelo coronavírus. Essas e esses profissionais atuam nos leitos e ambientes dos serviços de saúde que recebem quem precisa de atenção médica e, por isso, para boa parte dessas profissões não é possível o isolamento social ou quarentena. Neste momento, a situação de crise se soma à sobrecarga de trabalho, à falta de recursos e às equipes reduzidas em um contexto que pode colocar em risco a saúde mental destes profissionais. Por isso, alguns cuidados são essenciais.

A coordenadora da Comissão de Psicologia Hospitalar do Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR), Manuela Pimentel Leite (CRP-08/22419), orienta que, primeiramente, é preciso que as(os) profissionais cuidem de suas necessidades básicas, como higiene, alimentação, descanso e convívio social. “É importante realizar intervalos durante e entre suas jornadas de trabalho, alimentar-se de forma equilibrada e manter contato com familiares e amigos, ainda que por meios digitais, de forma a manter-se vinculado a uma rede de apoio psicossocial”, afirma.  Para Manuela, além do trabalho, é importante manter atividades de lazer e prazerosas, tais como atividades físicas, meditação e hobbies.

A Psicóloga comenta que o estresse é uma experiência que certamente será sentida por muitas(os) profissionais de saúde neste período de crise, visto ser um momento de grande mobilização da categoria. “Assim, senti-lo neste contexto não é um sinal de que o profissional não pode mais exercer o seu trabalho, mas sim um lembrete para redobrar a atenção nos cuidados com sua saúde emocional”, alerta.

Acolhendo o medo

 

O medo – como o receio de levar o vírus para casa e atingir familiares, por exemplo – também é um sentimento que pode estar presente, explica Manuela. Nessas horas, é essencial estar munido de informações, realizar uso correto dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e seguir as orientações de prevenção. “Conversar com colegas de trabalho pode auxiliar a formar uma rede de apoio, pois podem estar passando por situações semelhantes, assim como auxilia a elaborar estratégias para minimizar este sentimento”, acrescenta a Psicóloga.

 

Nesse aspecto, Bianca Louise Lemes (CRP-08/12093), Psicóloga que também compõe a Comissão de Psicologia Hospitalar do CRP-PR, lembra que muitas(os) trabalhadoras(es) que estão nas equipes têm renda reduzida e precisariam ter acesso ampliado a políticas públicas de saúde mental.  “São pessoas que algumas vezes não têm condições de deixar um idoso em isolamento domiciliar porque, muitas vezes, há poucos cômodos na casa e não há ninguém com quem essa pessoa possa dividir os cuidados. Esse trabalhador precisa mais do que nunca de orientação e de acolhimento”, alerta. “Daí a importância da valorização das políticas públicas de saúde e da oferta em saúde mental. É preciso realizar muito mais em relação ao atendimento em saúde mental do trabalhador da saúde durante todo o ano, não só quando temos uma epidemia”, defende.

Gerenciando os recursos disponíveis

 

Para Manuela, é preciso que profissionais de saúde busquem manter a calma e viver a realidade com os recursos disponíveis naquele momento, inclusive os seus próprios – priorizar seus recursos psíquicos para gerenciar o aqui-agora, sem se colocar na pior situação antecipadamente. “Vale lembrar de situações semelhantes e quais recursos foram empregados para solucioná-las”, explica.

 

Ainda assim, as(os) trabalhadoras(es) da saúde podem manifestar sentimentos de impotência e culpa diante da alta demanda de trabalho, porém é preciso lembrar de todas as contingências que determinam esta situação, minimizando a responsabilização individual de uma situação que ocorre em âmbito social e coletivo.

 

Lidando com perdas

 

Outro aspecto que pode gerar sentimentos como frustração, culpa e impotência, é a perda de pacientes, ainda mais diante de momentos de crise na saúde coletiva. A reação de cada profissional pode variar de acordo com seus recursos cognitivos, emocionais, sociais e espirituais, assim como experiências anteriores similares.

 

“É importante destacar que, diante de catástrofes, a elaboração do luto é tanto individual quanto coletiva. Existe uma mobilização social em torno das perdas – as pessoas choram não só por aqueles que se foram, mas também pelas suas próprias dores em meio às incertezas e angústias geradas pelo evento adverso. Além disso, diante da morte mobilizam-se recursos psíquicos para significação deste acontecimento, daí a importância dos profissionais compreenderem em qual contexto estão trabalhando e quais contingências influenciam neste desfecho – fatores biológicos e políticas públicas, por exemplo. Assim, amplia-se o fato para além da responsabilização individual, retomando seu caráter coletivo”, comenta Manuela.

Cuidando de quem cuida

 

AS(os) profissionais de saúde, diante da alta carga de trabalho e de estresse, podem manifestar sinais de esgotamento tais como: dificuldades para dormir, prejuízo das atividades laborais e de autocuidado e sentimentos de raiva, ansiedade, solidão e medo. Podem ainda manter-se em estado de alerta, com necessidade constante de informações sobre a epidemia e perguntas persistentes aos familiares e colegas sobre seus estados de saúde.

 

“Em um quadro como este, é importante sinalizar à pessoa a percepção de que ela se encontra fragilizada e incentivá-la a buscar ajuda de profissionais de saúde mental, sem confundir fragilidade com fraqueza ou inabilidade de lidar com a situação. A exposição de profissionais de saúde nestes momentos os coloca como vulneráveis ao adoecimento psíquico, sendo fundamental respeitar os limites humanos ao entrar em contato com uma carga tão grande de sofrimento e angústia”, alerta Manuela.

 

Bianca lembra que colegas não-psicólogas(os) podem também acolher e auxiliar a identificar quando é preciso buscar ajuda. “É importante estar disposto a ouvir, consultando se a pessoa deseja falar sobre seus sentimentos e respeitando se ela não quiser conversar. Em casos mais graves, cabe também procurar a chefia imediata ou o departamento de recursos humanos para passar o caso e possibilitar que a ou o colega receba ajuda profissional especializada de Psicólogas(os) ou psiquiatras”, orienta.

 

A Psicóloga também recomenda que, neste momento, gestoras(es) dos serviços de saúde possam atuar de forma ativa, oferecendo informações para colaborar na redução dos níveis de ansiedade. “Fixar informativos nos locais próximos ao ponto ou de circulação dos profissionais e se colocar disponíveis para a escuta poderá fazer com que o trabalhador ou a trabalhadora perceba que não está sozinha e que tem o apoio da instituição”.

 

“Minimizar o sofrimento psíquico das equipes permite o melhor desempenho de suas funções. O gestor que fornecer apoio, monitorar o estresse e reforçar procedimentos de segurança irá fazer com que seus colaboradores se sintam cuidados em momentos difíceis”, concorda Manuela.

Prevenção também vale para saúde mental

 

A Psicóloga Bianca ressalta que a prevenção também deve estar presente quando se fala sobre saúde mental. “As instituições precisam dar capacitações e treinamentos, se adiantando às epidemias ou outras emergências. Há uma grande diferença entre fazer um preparo gradual ou a necessidade de uma ação emergencial. Essa experiência também pode nos ajudar a refletir sobre qual o apoio em saúde mental que se dá ao trabalhador em outros momentos. As dificuldades ficam ressaltadas na crise, mas estão presentes no dia a dia das equipes de saúde”, avalia.

 

“Aqui cabe perguntar, temos Psicólogas ou Psicólogos presentes em número suficiente para oferecer esse atendimento nos serviços de saúde? Compreendendo que esse é um serviço que não pode ser prestado pela mesma equipe que dá assistência aos pacientes. São questões diferentes, que podem envolver questões íntimas, de cunho familiar ou até mesmo chefias, colegas em comum, estruturas administrativas, por isso demandam profissionais específicos para esse atendimento. Esta é uma reflexão que esse momento nos proporciona e precisamos avançar sem esperar a próxima crise”, alerta a profissional.  

 

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