Doar sangue é fundamental para salvar vidas, e isso quase todo mundo sabe (em tempo: cada bolsa de sangue pode salvar até três pessoas que necessitam de transfusões). Se antes da pandemia os estoques já sofriam com baixas, especialmente em alguns períodos do ano, como festas de final de ano, as restrições de circulação impactaram ainda mais os estoques. Conscientizar sobre a importância de doar é um dos motivadores do Dia Mundial do(a) Doador(a) de Sangue, celebrado neste 14 de junho.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca que a data é importante para promover valores comunitários e o fortalecimento da solidariedade e da coesão social ao redor da doação de sangue, além de encorajar a juventude a abraçar esse ato humanitário e inspirar outras(os) jovens a fazer o mesmo.
A estudante de Fisioterapia Raphaela Kuniyoshi, de 20 anos, é exemplo da importância de incentivar que a juventude doe sangue. Desde 2018, a jovem contribui com o Hemepar a cada quatro meses, percurso de quase três anos interrompido poucas vezes — seguindo a orientação de não doar sangue logo após a colocação de piercings e tatuagens. Além disso, ela é cadastrada no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome).
A estudante já incentivou muitas pessoas a seguirem seu exemplo: “Eu levei meu irmão primeiro, depois minha mãe, levei as minhas amigas e amigos em condições de doar…”, conta, sem esconder o contentamento com os resultados. Além de seu estímulo enquanto voluntária, Raphaela informa as pessoas com as quais convive sobre os benefícios aos quais doadoras(es) de sangue têm acesso. Em sua opinião, é preciso que os benefícios da doação sejam mais destacados que os possíveis medos e receios.
Benefícios para doadoras(es) de sangue
No Brasil, a compra, venda ou qualquer outro tipo de comercialização do sangue, componentes e hemoderivados é vedada em todo o território nacional (Lei no 10.205, de 21 de Março de 2001). Logo, não é possível receber remuneração pelo serviço. No entanto, vantagens amparadas em leis federais e estaduais buscam estimular, inclusive com incentivos financeiros, novas(os) voluntárias(os) a contribuírem com hemocentros.
Na esfera federal, o Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943 (Consolidação das Leis do Trabalho), por exemplo, concede ao(à) empregado(a) doador(a) voluntário(a) de sangue (mediante comprovação) o direito de deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário por um dia, a cada 12 (doze) meses de trabalho.
No Estado do Paraná, a Lei nº 13.964/2002 concede desconto de 50% em eventos culturais e artísticos para doadoras(es) de sangue cadastradas(os) em hemocentros ou bancos de sangue de hospitais paranaenses. Ademais, a isenção do pagamento de taxas de inscrição em concursos públicos e processos seletivos realizados no âmbito dos Poderes do Estado é direito de doadoras(es) de sangue pela Lei nº 19.293/2017.
Mas, por vezes, nem as vantagens oferecidas são suficientes para que pessoas aptas a doar sangue superem o medo da coleta.
O medo como empecilho
Ao conversar com colegas e amigas(os) sobre doar sangue, Raphaela muitas vezes se deparou com a insegurança de potenciais voluntárias(os) frente ao medo da agulha ou da dor: “Às vezes eu falo que sou doadora e a pessoa fala ‘meu sangue é O-’, e quando pergunto se ela nunca pensou em doar a resposta é ‘Não, eu tenho medo!’. Tento desmistificar, mas é difícil”, relata a estudante. Ela reforça sempre que esse é um procedimento rápido e pouco desconfortável em comparação com os benefícios que proporciona para a saúde pública.
Mesmo com tantos argumentos favoráveis, doar sangue é impensável para muitas pessoas que se encaixam nos pré-requisitos para se voluntariar. Fobias e traumas relacionados a procedimentos hospitalares como esse se tornam obstáculos para aumentar a base de doadoras(es).
A coordenadora da Comissão de Psicologia Clínica de Curitiba, Psicóloga Mariana Mansur Soares Santos (CRP-08/15044), afirma que, muitas vezes, o medo do procedimento pode ter relação com um trauma ligado a alguma situação desagradável que a pessoa passou durante a infância ou mesmo já na fase adulta. Esse trauma pode também decorrer de uma situação que envolva uma pessoa querida — como ver os braços machucados de um familiar durante alguma visita no hospital.
A Psicóloga comenta que a sensação de medo pode ainda estar relacionada à fantasia e à ansiedade: “Até você ir ao local e doar, realizar a ação concreta, nada passa de uma fantasia. A gente não sabe se vai doer, se não vai, se vai dar certo ou errado. Tudo isso são suposições e se você está, às vezes, em um momento de ansiedade e não está muito bem, isso pode atrapalhar ainda mais”, explica.
Mesmo que essa sensação seja uma barreira para contribuir com doações de sangue, hemocomponentes, medula, entre outras, o trabalho psicológico pode ajudar na superação dessa dificuldade. Mariana destaca que há psicoterapias focadas em traumas e fobias, o que pode auxiliar a pessoa a olhar para além do desconforto e da dor que a doação ou outro procedimento possa causar.
É normal que procedimentos hospitalares que envolvam etapas invasivas (ou espaços limitados, como ressonância magnética) causem sensações ruins antes e/ou depois de realizados e, por isso, clínicas e hospitais costumam disponibilizar apoio psicológico. E, para tornar o ambiente mais acolhedor e confortável, também é necessário trabalhar com a equipe. “Se você passou por um trauma esse medo não é à toa, logo é difícil confiar. Então, é preciso estabelecer a confiança entre a pessoa e a equipe”, detalha Mariana.
Por outro lado, existem histórias que exemplificam o potencial que a superação do medo tem de amplificar boas ações. A profissional relata já ter visto pessoas que tinham muito medo de procedimentos médicos, mas que buscaram acompanhamento psicológico e, por conta de uma doação, superaram isso pelo amor e solidariedade envolvidos no ato. Ela comenta ainda que, se a pessoa realmente deseja realizar uma doação, ter vontade é fundamental. “Acho que principalmente agora, em tempos de pandemia, a gente tem visto que tem diminuído muito as doações de sangue, até porque não se pode sair o tempo inteiro, mas que é fundamental e que salva muitas vidas. Então se você passou por algum trauma ou situação semelhante, é uma boa forma de encarar”, explica a Psicóloga.
Outro fator decisivo para a superação do medo, de acordo com a profissional, é ter um objetivo. Raphaela conta um bom exemplo de objetivo que jovens de sua universidade estabeleceram como estímulo para mais pessoas doarem sangue: o trote solidário nos cursos universitários. “Acho um bom incentivo”, comenta.
Tanto Raphaela quanto Mariana ressaltam que se deve sempre pensar no bem que doar sangue pode fazer para alguém, porque esse é um recurso insubstituível e que salva muitas vidas.
Pandemia
Com as medidas contra a transmissão da Covid-19, muitos serviços notaram a drástica diminuição de movimento em suas instalações. Os hemocentros e bancos de sangue não são exceção. Por prestarem um serviço essencial para o funcionamento adequado da rede hospitalar, a redução do fluxo de doadoras(es) põe a sociedade em risco.
No entanto, não há o que temer quanto à realização segura da doação de sangue. Muitos locais de coleta se adaptaram para receber doadoras(es) em segurança com estritos protocolos de segurança. Raphaela continuou doando sangue durante a pandemia e garante que os protocolos são seguidos onde doa (Hemepar). “Continuei doando sangue regularmente e o hemocentro está com um programa de agendamento muito tranquilo, é só entrar no site, selecionar uma data e um horário, e todas as vezes que fui durante a pandemia só tinha eu e meu irmão na sala de doação”, relata.
Outra importante ação que ganhou protagonismo durante a crise sanitária foi a doação de sangue para obtenção de plasma Convalescente/Hiperimune, hemocomponente obtido através de doações de sangue de quem já teve Covid-19 e se curou que pode ser usado no tratamento de pacientes com Covid-19. Desde 2020, o Hemepar tem coletado sangue de pessoas que se encaixam nos pré-requisitos para essa doação.
Homens ou mulheres de 18 a 59 anos completos
Trazer impresso o resultado positivo para Covid-19
Não ter sido submetido a ventilação mecânica/respirador
Nunca ter recebido transfusão de sangue
Ausência de gestações/abortos
45 a 90 dias pós-diagnóstico
Se enquadrar nos critérios básicos de doação de sangue total
Não ter recebido a vacina para Covid-19
Observações:
Para doação de sangue total é necessário realizar o agendamento através do site: www.saude.pr.gov.br/doacao
Para agendar a doação do plasma hiperimune na Unidade Hemepar Curitiba, ligar para: (41) 3281-4074
Pré-requisitos para doação
Se você se interessou em se tornar um(a) doador(a) de sangue e contribuir com o sistema de saúde e com a rede hospitalar, confira alguns dos pré-requisitos para se registrar em um hemocentro ou banco de sangue — segundo informações retiradas do site da Secretaria da Saúde do Estado do Paraná.
O ideal é que cada pessoa doe sangue ao menos duas vezes ao ano. O limite de doações varia de acordo com o gênero biológico: homens podem doar sangue a cada 60 dias (quatro doações a cada 12 meses) e mulheres podem doar a cada 90 dias (três doações a cada 12 meses).
Para mais informações, acesse o site da Secretaria da Saúde do Estado do Paraná.
- Estar em boas condições de saúde
- Ter entre 16 e 69 anos completos (menores de idade com autorização e presença do responsável legal) | observação: durante a vigência da pandemia, doadores acima de 59 anos completos deverão, preferencialmente, permanecer em suas residências.
- Pesar no mínimo 51 kg na balança do HEMEPAR
- Estar descansado, alimentado e hidratado (evitar alimentação gordurosa nas 4 horas que antecedem a doação)
- Apresentar documento oficial com foto (Carteira de Identidade, Carteira do Conselho Profissional, Carteira de Trabalho, Passaporte ou Carteira Nacional de Habilitação)
Manifestações gripais (tosse, febre, dor de garganta): aguardar 15 dias após a cura
Diarreia: aguardar 7 dias após a cura;
Durante a gravidez: aguardar 90 dias após parto normal e 180 dias após cesariana;
Amamentação 12 meses após parto/cesárea: não pode doar enquanto for a única e principal fonte de alimentação do bebê;
Ingestão de bebida alcoólica e uso de maconha nas 12 horas que antecedem a doação;
Tatuagem, micropigmentação e piercing nos últimos seis meses (se piercing genital e/ou oral aguardar 12 meses após a retirada);
Tratamento dentário: aguardar 72 horas após limpeza e obturações; sete dias após extração e canal; e de três a seis meses após implante;
Alergias em atividade: rinite (coriza/espirros) em uso de medicação; urticária;
Hepatite: pode doar se teve hepatite antes dos 11 anos de idade;
Se convive na casa de quem teve hepatite: em caso de Hepatite B, deve-se comprovar a imunidade pela vacina; se for Hepatite C, é preciso comprovar a cura da pessoa que teve Hepatite;
Medicações: aguardar 15 dias após o fim de tratamento com antibióticos; em uso de medicação para hipertensão como propanolol, atenolol, pindolol, metoprolol, doxasosina (selozok); mais de três medicações para doença crônica, mais de duas para tratamento de saúde mental. Outros tratamentos também podem ter medicações que impeçam a doação;
Diabetes: mediante avaliação do triador; com uso de insulina não pode doar;
Cardiopatias: alterações de infância como sopro não impedem a doação. Cateterismo, infarto, cirurgias cardíacas impedem a doação.
Pressão alta: Acima de 180×100 mmHg;
Cirurgias: seis meses a um ano;
Situações nas quais houve maior risco de adquirir doenças sexualmente transmissíveis (aguardar 12 meses); nova parceria sexual (se o relacionamento for fixo, aguardar seis meses contados a partir da primeira relação sexual com a pessoa, se for ocasional a pessoa fica inapta por 12 meses);
Vacinas: febre amarela, tríplice e dupla viral e dengue nos últimos 30 dias; dupla e tríplice bacteriana, H1N1, Hepatite B, HPV nas últimas 48 horas; antirrábica: se profilática, por 48 horas, se por mordida de animal, 12 meses.
Vacina Covid-19: O recebimento da vacina contra Covid-19 contraindica doações de sangue por um período variável:
- Coranovac/Butantan: 48 horas após o recebimento.
- AstraZeneca/Oxford/Fiocruz: sete dias após o recebimento.
* Imprescindível a apresentação do seu comprovante de vacinação para ser avaliado na triagem.
Endoscopia, Colonoscopia e Cirurgias Laparoscópicas: seis meses
Viagens:
- Exterior: 30 dias
- Brasil – Região Norte, Nordeste, Centro-oeste e Sudeste (RJ, SP, ES, MG): 15 dias
- Área de Malária – Acre, Amazonas, Rondônia, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Amapá e Roraima: 12 meses.
* Outras situações a serem avaliadas
Hepatite viral após os 11 anos de idade
Diabetes insulinodependente
Epilepsia ou convulsão
Hanseníase
Doença renal crônica
Antecedentes de Neoplasias (Câncer)
Antecedentes de acidente vascular cerebral (Derrame)
Evidência Clínica ou Laboratorial das seguintes doenças transmissíveis pelo sangue: Hepatites B e C, AIDS (Vírus HIV)
Doenças associadas ao HTLV I/II e Doença de Chagas