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Por que a Psicologia deve discutir gênero, diversidade sexual e espiritualidade?

Neste ano de 2015, enfrentamos, em diversos momentos, movimentos de reação a alguns direitos que há muito tempo estavam (ou já deveriam estar) garantidos. Redução da maioridade penal, estatuto da família e, recentemente, uma nomeação que gera temores de retrocesso na política de saúde mental e atenção psicossocial. Acrescente-se a estes, questionamentos fundamentados em crenças ou fé ou em doutrinas religiosas às questões de sexualidade e gênero, que nos surpreendem a cada nova roupagem para a intolerância. Estes ataques nos servem para lembrar a necessidade de manter a discussão viva e pujante, de abrirmos espaços democráticos e demonstramos exaustivamente os fundamentos que o sustentam. Se pudéssemos dizer tudo numa frase diríamos: “Não passarão!”. Mas temos muito mais a dizer.  Em pé sobre os ombros de gigantes, vemos que “gênero, enquanto um conceito, identifica processos históricos e culturais que classificam e posicionam as pessoas a partir de uma relação sobre o que é entendido como feminino e masculino. É um operador que cria sentido para as diferenças percebidas em nossos corpos e articula pessoas, emoções, práticas e coisas dentro de uma estrutura de poder.(1)” Ou seja, um conceito bastante útil para que a ciência identifique os mecanismos de desigualdades nos contextos sociais. Essas fundamentações nos cercam de razão para propor e construir políticas públicas que defendam, por exemplo, os direitos das mulheres, das pessoas homoafetivas que, por preconceito, tem restrições no mercado de trabalho, das travestis e transsexuais vítimas de crimes de ódio. Servem-nos também para propor uma identidade masculina diferente daquela baseada na agressividade e da repressão dos sentimentos. E a Psicologia? Ora, pelas suas características, mais do que possibilidades, a Psicologia tem o dever ético de produzir conhecimento para instrumentalizar as decisões da sociedade. A Psicologia tem instrumentos para dizer como se dá o desenvolvimento da sexualidade, da intimidade e, apontando a importância da subjetividade, elaborar estratégias sociais e institucionais que combatam o preconceito e promovam dignidade, respeito e alteridade. Formas de acolhimento, escuta, diálogo e compreensão podem ser ensinados, trabalhados e desenvolvidos por todos e por todas! Neste caminho, entendemos a religiosidade e a espiritualidade como nossas aliadas. Entretanto, ressaltamos o papel da experiência da religião, não apenas enquanto instituição, sistema de credo e de orientação moral, mas sim da experiência do sagrado. Esta vivência do sagrado deve ser compreendida como expressão humana legítima. “A ciência psicológica não pode se eximir do estudo da experiência do sagrado, mas deve ter cautela para não reduzi-la apenas a aspectos psicológicos ou instrumentalizá-la como prática profissional, pois tal redução descaracteriza o que há de mais essencial em tal experiência, que aquela dimensão do inefável, do inexplicável e do indescritível, ou melhor, de algo além da descrição.(2)” Com isso, queremos dizer que se a ciência psicológica não pode reduzir a experiência do sagrado, de igual modo, a postura religiosa não deve reduzir uma expressão humana (seja da sexualidade ou de quaisquer outras formas) aos códigos morais que a conduz. Finalmente, as proposições de igualdade de gênero, expressão sexual e expressão do sagrado, antes de serem posturas ideológicas, e mais do que estarem calcadas pela produção científica, são bases para uma sociedade justa, em busca de paz. Disponível para continuar este diálogo em 2016, o CRP-PR está de portas abertas para acolher as discussões que se realizem neste sentido e não deixará de zelar pela imagem da psicologia como promotora de subjetividade, bem-estar, qualidade de vida, igualdade e justiça social. Referências e sugestões de leitura: (1) Associação Brasileira de Antropologia. Manifesto pela igualdade de gênero na educação: por uma escola democrática, inclusiva e sem censuras. Disponível em: http://www.portal.abant.org.br/images/Noticias/Manifesto_Pela_Igualdade_de_Genero_na_Educacao_Final.pdf (2) Conselho Regional de Psicologia do Paraná. Nota Técnica sobre a Confissão de Fé e a Atuação Profissional. Disponível em:http://portal.crppr.org.br/uploads/ckfinder/files/Nota%20T%C3%A9cnica%20sobre%20a%20Confiss%C3%A3o%20de%20F%C3%A9%20e%20a%20Atua%C3%A7%C3%A3o%20Profissional%281%29.pdf (3) Conselho Federal de Psicologia. Psicologia e Diversidade Sexual: Desafios para uma sociedade de direitos. Disponível em:http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2011/05/Diversidade_Sexual_-_Final.pdf (4) Conselho Regional de Psicologia de São Paulo. Psicologia e diversidade sexual. Disponível em: http://www.crpsp.org.br/portal/comunicacao/cadernos_tematicos/11/frames/caderno_tematico_11.pdf

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