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O dia em que a força venceu a democracia

Bombas, armas, tiros. Um batalhão de choque contra a multidão. Seria a perfeita descrição de uma guerra sangrenta deflagrada no Oriente Médio. Mas as bombas de gás lacrimogênio e as balas de borracha eram desferidas contra uma multidão de…professores! Junto com aqueles que fazem de suas vidas uma constante missão de educar crianças e jovens de uma nação, estavam cidadãs e cidadãos, todos cansados dos mandos e desmandos em um país em que os políticos decidem e a população obedece e consente, destituída de seu pleno direito de participar.

Se democracia vem do grego e significa “governo do povo”, temos a certeza de que o que vivemos hoje está longe de ser democrático. As pessoas que foram ontem até a praça Nossa Senhora de Salete queriam que o Projeto de Lei 252/2015, que alterava as regras da Paranaprevidência – para o bem das finanças do Estado, diria o governador – fosse rejeitado. Mas elas não queriam apenas isso. O que os milhares de manifestantes buscavam – e, em sua busca, foram brutalmente agredidos – era o direito de trabalhar tranquilamente, exercendo suas dignas funções com a certeza de um futuro garantido. Nada mais justo, sendo que são trabalhadores, quites com suas obrigações morais, financeiras e tributárias.

Com a aprovação ontem do PL por 31 votos a favor – diante de apenas 20 contrários –, estes trabalhadores passam a se preocupar com a aposentadoria. “Não ter garantias quanto ao futuro gera insegurança e ansiedade no trabalhador”, diz a Psicóloga Sarita Malaguty (CRP-08/11374). “Ao mesmo tempo, porém, o fato de os professores terem se colocado em luta pelos seus direitos é uma forma de promoção de saúde e de fortalecimento da categoria”.  

Neuzi Barbarini (CRP-08/02835) lembra que o trabalho pode ser fonte de prazer ou sofrimento. “Para que o trabalho dê prazer, é preciso que a pessoa seja reconhecida pelo que faz”, explica a Psicóloga. “Na medida em que os professores deixam de ter reconhecimento, passam a trabalhar infelizes, pensando que não têm valor, e o trabalho pode perder o sentido para eles”. 

Sua fala é baseada na obra A Loucura do Trabalho, de Christophe Dejours, que diz:

“A organização do trabalho exerce sobre o homem uma ação específica, cujo impacto é o aparelho psíquico. Em certas condições emerge um sofrimento que pode ser atribuído ao choque entre uma história individual, portadora de projetos, de esperanças e de desejos e uma organização do trabalho que os ignora.” 1

Às vésperas do Dia do Trabalhador, o presente que os trabalhadores paranaenses ganham é de grego: a violência que fere e mata o corpo e a alma. A luta, porém, segue, incessante, ainda que os nossos governantes tentem nos obrigar a parar. As lágrimas nos olhos não podem impedir que lutemos, não como membros de uma categoria profissional, mas como compatriotas e conterrâneos. 

Brunno Covello

Brunno Covello

Brunno Covello

Brunno Covello

DEJOURS, C. (1987). A Loucura do Trabalho: Estudo de Psicopatologia do Trabalho. São Paulo: Cortez.

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