O agravamento da pandemia do novo coronavírus (COVID-19) no Brasil tem exigido das autoridades competentes e da população cuidados e medidas para evitar a exposição ao vírus e sua propagação no país. Esta crise sanitária intensifica a situação crítica da economia brasileira e as consequências da desigualdade social no Paraná e em todo o Brasil. Além disso, revela um desafio sem precedentes para o exercício profissional da Psicologia e para a própria função social da nossa profissão. A atuação das(os) Psicólogas(os) neste momento deve contribuir para que a sociedade elabore emocionalmente a situação vivida por todas(os) e coloque em prática as medidas de prevenção preconizadas pelo Ministério da Saúde e pelas demais autoridades, sendo a principal medida o distanciamento social. Não sendo possível realizar o isolamento, as(os) profissionais devem atentar para as demais recomendações de prevenção e proteção à Covid-19, não colocando em risco a si nem à população atendida.
Neste contexto, temos visto a criação de estratégias por parte da categoria, entre eles diversas(os) colegas que atuam nas diferentes políticas públicas e em Programas de Residência Multiprofissional e na Área da Saúde, na direção de ofertas de cuidados psicológicos à população, especialmente às pessoas pertencentes aos grupos vulnerabilizados e de risco. São colegas que atuam na ‘linha de frente’, que devem ser reconhecidas(os) e valorizadas(os) por gestoras(es) e empregadoras(es) pelas imensas contribuições que oferecem à sociedade neste momento. Isto demonstra como nossa categoria transformou a Psicologia brasileira ao longo dos 58 anos de profissão regulamentada no país, entendendo que o compromisso social, ético e político que orienta o nosso olhar deve estar presente mesmo nos momentos mais graves e difíceis.
No contexto das Residências Multiprofissionais e na Área da Saúde, em específico, compreendemos relevantes a suspensão de atividades presenciais não-essenciais, considerado o risco imposto às(aos) estudantes, docentes e sociedade como um todo, diante do elevado poder de propagação do coronavírus. Apesar disso, é fundamental atentar para a situação das(os) residentes multiprofissionais que seguem atuando, imensamente agravada à medida que não há, em sua maioria, qualquer tipo de seguro no que compete à insalubridade e à periculosidade e outros direitos trabalhistas, como vale-alimentação ou mesmo vale-transporte.
Estamos diante de uma pandemia que agudiza e explicita a situação de imensa precarização da estrutura de políticas públicas no Brasil – ampliada pelo ajuste fiscal representado pela Emenda Constitucional 95 – e de um sucessivo desinvestimento no SUS. As condições de trabalho e a justa remuneração são, portanto, cada vez mais relacionadas à qualidade do exercício profissional, não apenas da Psicologia, mas para todas as profissões.
Neste sentido, ressaltamos que para a boa prestação de serviços à sociedade no contexto dos Programas de Residência Multiprofissional e na Área da Saúde, é necessária remuneração em dia e condizente com o desgaste advindo do desempenho profissional da(o) Psicóloga(o). Além disso, reiteramos que a imperiosa garantia de equipamentos de proteção individual (EPI) quando o atendimento presencial for comprovadamente emergencial, tendo por base o cumprimento das recomendações sanitárias, de modo a permitir a continuidade de forma segura das atividades profissionais.
É inegável a importância de se garantir dignidade nas condições de trabalho de Psicólogas(os) residentes, que enfrentam históricos atrasos no pagamento de suas bolsas-salários. Sobretudo neste momento, suas atividades profissionais são de elevada complexidade, exigindo uma intensa atividade psíquica no desempenho de suas atribuições, que as(os) colocam, inclusive, em risco de vida. É importante, também, atentar para o fato de que estas(es) Psicólogas(os) estão, como todos as(os) trabalhadoras(es) em saúde, diretamente expostos aos efeitos do profundo sofrimento humano diante desta pandemia.
Para o bom desenvolvimento do exercício profissional, o Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) reitera que compreende fundamental a garantia de condições de trabalho às(aos) Psicólogas(os). O CRP-PR ressalta que cuidar das(os) profissionais da saúde, sobretudo nesse momento de calamidade pública significa reconhecer seus esforços, dedicação e compromisso social, bem como proteger toda a sociedade. A adoção desta medida é um dever ético do Estado que beneficiará tanto as(os) profissionais, suas(seus) gestores e principalmente a população atendida, que será acompanhada por profissionais mais bem-dispostas(os), em equilíbrio e com saúde.