Nos últimos anos, mais do que nunca, o tema da preservação do meio ambiente veio à tona na mídia. Protestos como o “Sextas-Feiras pelo Futuro” (Fridays for Future), encabeçados por jovens ativistas ambientais para denunciar as mudanças climáticas, dão o tom do problema: preservar o meio ambiente é, em última instância, preservar a nossa própria existência. Então, por que o ser humano ainda é tão resistente a essas transformações em suas atitudes?
A pergunta, obviamente, não tem uma resposta única, e nem fácil. Mas é na Psicologia que podemos encontrar algumas hipóteses. Segundo o Psicólogo e mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento, Caetano Fischer Ranzi (CRP-08/14605), o ideal de mundo sustentável é impossível na realidade que hoje vive a humanidade. Ele explica que tecnicamente a sociedade já tem conhecimento suficiente para otimizar a produção de alimentos até mesmo em locais pouco propícios e para sobreviver a condições extremas, por exemplo. Mesmo assim, desmatamos as florestas, poluímos as águas e os ares, entre outras ações destrutivas, por uma questão emocional. “Brincamos com o perigo como uma criança que brinca no parapeito de uma janela”, exemplifica, sem desconsiderar que existem, sim, diversas questões sociais e econômicas envolvidas nestes processos. “O ser humano tem um vício pelo crescimento sem limites, sem ao menos entender o motivo”, diz. Trabalhar essas questões, então, é fundamental para lidar com o problema ambiental.
Outra vertente fundamental é a informação precisa e de qualidade, segundo a Bióloga e doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento, Dailey Fischer. Ela avalia que atualmente as informações científicas de qualidade são frequentemente contrapostas por outras, incentivadas por alguns setores econômicos preocupados com ganhos financeiros imediatos, sem preocupação com os impactos negativos à natureza. “As pessoas não sabem em quem acreditar e, na dúvida, acabam não se comprometendo com as mudanças necessárias”, avalia a profissional, que atua como consultora ambiental e coordena projetos em instituições como o Instituto de Estudos Ambientais Mater Natura e a Associação MarBrasil.
Além disso, a Bióloga e conservacionista acredita que há dois atores sociais essencialmente importantes para a disseminação correta de informações: a mídia e a própria comunidade científica. “A mídia geralmente não faz relações entre os processos ecológicos. Por exemplo, de que o desmatamento na Amazônia afeta os rios voadores, que trazem chuva para o sul e sudeste, causando a estiagem nessas regiões. E a ciência precisa traduzir o conhecimento gerado para o público leigo”, afirma.
A Psicologia pode também ser uma aliada, segundo Dailey, “para ajudar as pessoas a compreenderem que o planeta está no seu limite, e de que é a vida humana que está sob risco”.
Os territórios indígenas como forma de existência
Ao se falar sobre meio ambiente, é preciso falar sobre os povos indígenas, que mantêm com as florestas e seus territórios uma relação da qual depende sua própria existência. Sobre isso o Psicólogo Paulo Cesar de Oliveira (CRP-08/17066) reflete que a apropriação dos territórios produz sofrimento e mortes (inclusive por suicídio). “A sobrevivência não diz respeito apenas ao biológico, por certo. Veja a quantidade de suicídio indígenas quando são obrigados a ocupar um território (não apenas físico) a que não pertencem e que não pertencem a eles”, destaca, lembrando que outros grupos, especialmente os minoritários, também enfrentam processos semelhantes. “Isso tem que ver, grosso modo, com as relações e com possibilidades de escolhas. O que se quer, o que não se quer e o que tanto faz. Perceba quanto isso é negado aos povos e às minorias além dos diferentes. Aqui acho que é um espaço onde a Psicologia tem responsabilidade em posicionar-se”, salienta o profissional.
Desta forma, o meio ambiente não pode ser dissociado de nós, seres humanos, que fazemos parte dele independentemente dos nossos modos de vida. “Penso meio ambiente como todo o território existencial inclusive, onde a natureza se insere e se inscreve. Portanto não considero possível a sua preservação se não nos preservarmos e aos nossos corpos e as nossas relações, produzindo relações saudáveis com o todo. Não se pode pensar a natureza como ‘fora’. Estamos circunscritos e fazemos parte, embora talvez já não sejamos naturais”, reflete o Psicólogo.
Sobre a inserção da Psicologia neste debate, Paulo deixa algumas questões para reflexão: “É possível uma Psicologia que leve em conta os territórios existenciais indígenas? E onde esses territórios (brancos e indígenas) podem se encontrar. E esse encontro pode ser saudável? Em outras palavras, a luta não é por pertencimento, mas por existência. Por isso os assassinatos de indígenas, que se juntam aos suicídios. Matamos por negar existência, o que também gera os suicídios. Negamos territórios existenciais”.