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Glossário Direitos Humanos

Quando nós nascemos, muitas coisas supostamente já estão dadas, prontas e acabadas. Uma delas é a linguagem. Conforme crescemos e nos socializamos, vamos aprendendo vocabulário e introjetando as regras gramaticais, que posteriormente aprendemos de modo mais estruturado na escola. A forma como a língua é formalmente ensinada, por meio unicamente da gramática normativa, passa a mensagem de que precisamos apenas aprender a repetir, decorar regras aparentemente sem sentido, arbitrárias (sendo essas regras parte da gramática normativa), como se aquele conteúdo não tivesse relação alguma com a nossa realidade cotidiana. Com isso, não aprendemos a pensar criticamente sobre a linguagem, sua história, e sobre o conteúdo que ela carrega, isto é, o que reproduzimos de modo invisibilizado em nosso uso da linguagem, nossa comunicação.

Já nos dizia Silvia Lane, em sua obra seminal “Psicologia Social: o homem em movimento” (1995, pp. 32), que a origem da linguagem humana foi uma forma cooperativa de lidar com a necessidade de transformar a natureza e garantir a sobrevivência do grupo social. Assim, a linguagem, enquanto produto de uma coletividade, reproduz “os conhecimentos – e os valores associados a práticas sociais que se cristalizaram, ou seja, a linguagem reproduz uma visão de mundo1”. Porém,

se, por um lado, os significados atribuídos às palavras são produzidos pela coletividade, […] por outro, os significados se processam e se transformam através de atividades e pensamentos de indivíduos concretos e assim se individualizam, se ‘subjetivam’, na medida em que ‘retornam’ para a objetividade sensorial do mundo que os cerca, através das ações que eles desenvolvem concretamente (LANE, 1995, p. 32).

Além dos aspectos social e individual, a linguagem é um elemento que permeia e até mesmo possibilita as relações, estabelecendo uma comunicação ou sinalização acerca das coisas, pessoas, locais, intenções, prerrogativas, desejos. A linguagem é uma ferramenta utilizada para representar os mais diversos conteúdos, desde termos simples e diretos como “árvore”, para designar um agrupamento específico de plantas que compartilham, em algum nível, uma forma comum entre elas, até termos mais específicos, como “angiospermas”, para representar, dentro deste grupo de “forma similar”, diferenças – neste caso “árvores que têm flores”. É a linguagem que permite a construção da relação simbólica do indivíduo com o mundo e, por consequência, influencia na disposição da relação que é estabelecida tanto com o que é externo quanto com o que é interno.

É a linguagem que permite a construção da relação simbólica do indivíduo com o mundo e, por consequência, influencia na disposição da relação que é estabelecida tanto com o que é externo quanto com o que é interno. É por meio deste repertório simbólico que se estabelecem o senso comum, as representações sociais e o conhecimento pré-estabelecido sobre algo. Do mesmo modo, é a partir deste repertório que também se constroem as relações de preconceito, sobre as quais podem se fundamentar as relações de poder e exclusão.

(…) as representações sustentadas pelas influências sociais da comunicação constituem as realidades de nossas vidas cotidianas e servem como o principal meio para estabelecer as associações com as quais nós nos ligamos uns aos outros (DUVEEN, 2015, p. 08).

Bagno (2007, p. 9) comenta sobre a regra de ouro da linguística: “só existe língua se houver seres humanos que a falem”, e, para pensar em seres humanos, é necessário nos reconhecermos enquanto um grupo heterogêneo, amplamente plural. No entanto, devido aos processos de colonização e domínio, passou a existir uma demanda por homogeneidade, uma normatização da existência humana. Isso transforma qualquer existência para além do eixo do “Homem/Branco/Cis/Hetero/Cristão/Com poder aquisitivo” em algo que passa a enfrentar a resistência dessa força normatizadora.

Esta necessidade de resistência ou esforço para existir torna a existência do diferente uma existência política, e a linguagem, como apreensão do mundo, uma ferramenta pela qual essas existências passam a ser construídas, concebidas e expressadas. Com isto, também passa a ser fundamental pensar a linguagem como elemento de grande importância para a reflexão acerca dos direitos humanos.

Como dito anteriormente, a linguagem parece ser algo dado e acabado. Porém, essa percepção errônea invisibiliza o fato de que a língua tem uma história. Ela tem uma origem e ela sofre transformações constantes, influenciadas pelos elementos da realidade na qual essa língua acontece e pela vida experienciada pelas pessoas que dela fazem uso. A língua se transforma conforme se transformam as pessoas, as relações, a sociedade. Ela não é estanque. É muito fácil perceber essas transformações quando pensamos no surgimento de novos termos relativos à tecnologia. Os verbos “inicializar” e “deletar”, por exemplo, surgiram e se popularizaram a partir do uso do computador doméstico. Outra demonstração disso é o fato de que os dicionários precisam ser revisados de tempos em tempos, seja para incluir novas palavras que foram adicionadas ao vocabulário corrente, seja para acrescentar novos significados a um verbete já incluso (como ocorreu com o termo família, em 20152).

Assim, fica evidente como a linguagem é social, histórica e política. E, quando falamos de política, estamos falando de relações de poder. Quais relações de poder estamos reproduzindo quando não pensamos criticamente sobre a língua, que é o instrumento que usamos para estabelecer relações e comunicar sobre nossos conteúdos, conscientes e inconscientes?

 

Silvia Lane (1995, p. 33) traz ainda que

Esta análise nos permite apontar para uma função da linguagem que é a mediação ideológica inerente nos significados das palavras, produzidas por uma classe dominante que detém o poder de pensar e ‘conhecer’ a realidade, explicando-a através de ‘verdades’ inquestionáveis e atribuindo valores absolutos de tal forma que as contradições geradas pela dominação e vividas no cotidiano dos homens3 são camufladas e escamoteadas por explicações tidas como verdades ‘universais’ ou ‘naturais’, ou, simplesmente, como ‘imperativos categóricos’ em termos de ‘é assim que deve ser’.

Nesse sentido, este material nasce da tentativa de produzir uma nova inteligibilidade e tornar perceptível o quanto a linguagem é um instrumento de poder e de inúmeras violências, ou seja, demarcar que a linguagem é um instrumento de comunicação, construção, inclusão e propagação da consciência coletiva. Por isso, analisar a origem e os significados de palavras, expressões e ditados populares que reproduzem e reforçam o racismo, a xenofobia, misoginia e o capacitismo constitui-se uma tarefa árdua e imprescindível.

Expor os preconceitos e as violências “veladas” que sempre se expressaram no cotidiano social é, portanto, essencial quando se trata de Direitos Humanos e para uma promoção e prevenção quando falamos de saúde mental, uma vez que ser alvo de violência, de maneira pontual ou contínua, gera impactos significativos no desenvolvimento emocional, enquanto pessoa e na significação que pode ser gerada sobre si e o mundo que lhe circunda.

O tornar-se existente, justamente para demarcar e reeducar o imaginário popular com outras expressões que não segregam, oprimem, desumanizam e objetificam outros seres humanos, é um trabalho que requer sensibilidade, persistência, atenção e acessibilidade. Afinal, explicitar o existente é demarcar que o processo de perceber é um ato político e intencional, ou seja, algo que não é neutro e que reverbera efeitos. 

Efeitos de percepção, de invisibilidade e de apagamento possibilitam que a construção simbólica do mundo a partir da linguagem tenha como ponto de sustentação conceitos que valorizem os direitos humanos, a empatia e respeito às pessoas, demarcando espaços, zonas e campos em que este conhecimento deve avançar.

Por isso, este glossário é um instrumento de enfrentamento das estruturas violentas e excludentes que organizam a sociedade brasileira. Neste material traremos outra percepção sobre o que muitas vezes compõe o senso comum, a maneira que nos habituamos a conversar, que palavras usar, refletindo sobre estes termos e expressões, no sentido de problematizar seu uso e escolha, dando outra direção a nossa apreensão sobre a linguagem e relações e, ao mesmo tempo, provocar o questionamento acerca do que anteriormente não tinha atenção, como é o caso dos termos e expressões que mais segregam do que aproximam. 

Desta forma, quando pensamos neste glossário e na afirmação: tornar-se existente, estamos concebendo a possibilidade de afirmar que:

a linguagem é carregada de sangue e que muitas vidas não importam dentro de uma lógica estruturada pelos sistemas de opressão e violência.

 Com isso, utilizar a linguagem para reeducação e para tornar existente uma vida que historicamente foi construída para não ser importante é um ato político, urgente e necessário. Nós existimos e resistimos e, por isso, é de suma importância nomearmos essas vidas que são construídas para não importarem, uma vez que essas vidas possuem uma raça, classe, gênero, territorialidade e existência. A língua se transforma a partir de seu uso e das relações de poder, por meio de processos sociais, históricos, políticos e ideológicos muitas vezes invisibilizados.

A língua é língua não apenas por seu sistema interno (SAUSSURE, 2012), mas também por seu uso, o qual prevê reflexão por parte das pessoas, as quais deixam de ocupar o lugar de falantes para ocuparem o lugar de linguistas populares com consciência linguística. Ademais, a língua é o lugar em que se constrói e se negocia sentidos, identidades, espaço de conflitos e de construção da vida em sociedade (GOMES, 2022, p. 40).

Assim, fica evidente que a linguagem expressa, implícita ou explicitamente, relações de poder. E, conforme explica o psicólogo salvadorenho Martín-Baró, uma das tarefas da Psicologia latino-americana é desvelar as relações de poder por meio da desideologização do cotidiano, sendo que, segundo Mendonça (2017, p. 131),

desideologização é uma forma de desconstrução dos mecanismos do sistema dominante, os quais distorcem e falseiam as explicações sobre a realidade, de desmantelamento da ideologia; é um processo que, ao mesmo tempo, complementa e compõe a conscientização, a qual, por sua vez, equivale a um processo de conhecimento dos determinantes históricos da sociedade e a ação para sua transformação.

Ainda, o posicionamento desta gestão com relação à desinvisibilização das relações de poder referente ao gênero na linguagem está em plena concordância com os debates que vêm sendo realizados pela Associação Brasileira de Linguística (Abralin4).

Concluímos afirmando que entendemos haver o imperativo ético de influenciar nessas transformações, desvelando tais processos e direcionando mudanças que auxiliem no combate às violências históricas e estruturais, e é esse o objetivo do trabalho materializado agora neste glossário.

AVISO DE GATILHO!

Este material tem como foco justamente expor como as relações de poder são representadas e construídas através da linguagem, expondo termos que compreendemos não serem adequados e, ao mesmo tempo, sugerir termos que desloquem esta relação de poder. Por consequência, este material contém terminologias e expressões ofensivas e que podem ser consideradas gatilhos devido a sua natureza de representação.

Notas

[1] Importante ressaltar que consideramos essa expressão capacitista, pois coloca uma centralidade no sentido da visão e desconsidera as pessoas cegas e com deficiência visual. Porém, optamos por mantê-la aqui, considerando a importância da obra e época em que foi escrita, assim como explicitando que os estudos da deficiência avançaram nessa discussão e nessa crítica.

[2]  https://ibdfam.org.br/noticias/5990/Dicion

[3] Consideramos sexista o uso do termo “homem/ns” como sinônimo de pessoas ou humanidade, pois coloca o homem como sujeito universal, hierarquizando e até mesmo invisibilizando as demais identidades de gênero. Porém, novamente, optamos por mantê-lo aqui, considerando a importância da obra e época em que foi escrita, assim como explicitando que os estudos de gênero avançaram nessa discussão e nessa crítica.

[4] Conforme apresentado em seu simpósio “Língua, gramática, gênero e inclusão”, realizado em julho de 2020 (https://revista.abralin.org/index.php/abralin/article/view/1627).

Referências

BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico. 49º edição. São Paulo: Loyola, 2007.

DUVEEN, Gerard. O poder das ideias. In: MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigação em psicologia social. 11º ed. Petrópolis: Vozes, 2015

GOMES, Robert Moura Sena. Por uma linguística (mais) popular: a construção do gênero neutro como dissidência linguística. Dissertação em Linguística. Universidade Federal de São Carlos. 2022. Disponível em <repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/16586>. Acesso em 07 fev. 2023.

LANE, Silvia Tatiane Maurer. Linguagem, pensamento,  e representações sociais. In: LANE, Silvia Tatiane Maurer; CODO, Wanderley (orgs.). Psicologia social: o homem em movimento. 1a reimpressão. São Paulo: Brasiliense, 1995. Pp. 32-39.

MENDONÇA, Gabriel Silveira. O conceito de ideologia em Martín-Baró: reflexões a partir do materialismo histórico-dialético. Dissertação (mestrado). PUC Campinas. Programa de Pós-graduação em Psicologia. Disponível em <repositorio.sis.puc-campinas.edu.br/handle/123456789/16026> . Acesso em 03 mar. 2023.

Sugestões de leitura

NERY, Alfredina. Gramáticas – normativa, descritiva e internalizada. Página 3 Pedagogia e Comunicação. Disponível em <educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/gramaticas-normativa-descritiva-e-internalizada.htm>. Acesso em 03 mar. 2023.

OLIVEIRA, Janaína; VIANA, Patrícia Graeff; CRUZ, Priscilla de Souza. Análise estilística do texto “Gigolô das palavras”, de Luis Fernando Verissimo. Soletras. Ano VII, N° 14. São Gonçalo: UERJ, jul./dez.2007. Disponível em <www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/soletras/article/download/4721/3483>. Acesso em 03 mar. 2023.

PFEIL, Bruno Latini; PFEIL, Cello Latini. A ofensa da nomeação, In: MIRANDA, Eduardo Oliveira; SANTOS, Marta Alencar dos; CASTANHEIRA, Rodrigo Pedro. Enviadescer a decolonialidade. Salvador: Devires, 2022.

SIQUEIRA, Maria Juracy Toneli; NUERNBERG, Adriano Henrique. Linguagem. In: STREY, Marlene Neves et al. Psicologia social contemporânea: livro-texto. 6 ed. Petrópolis: Vozes, 2002. Pp. 118-132.

“a realização do ato decolonial pela linguagem é um mecanismo de reivindicação da autonomia, da capacidade de autodeterminação e revolta de corpos que fogem às normatizações coloniais”

Bruno Latini Pfeil e Cello Latini Pfeil
Legendas com recomendação
Legendas com cores e números

Termos

Legendas com cores e números, em atualização. Agradecemos a compreensão.
Forma extrema de negligência que ocorre por longos períodos de tempo e de forma reiterada.
Conferir: violência; negligência

 

Acessibilidade é um direito humano. É a possibilidade de uso dos espaços, serviços e comunicações com segurança e autonomia. Todas as pessoas demandam acessibilidade, porém esta necessidade se torna mais evidente para pessoas que não atendem à expectativa social de funcionalidade, uma vez que as construções são realizadas de forma excludente, sem considerar as singularidades destes sujeitos. Em alguns contextos, a acessibilidade pode ocorrer por adaptação, quando são geradas estratégias para transposição de barreiras já existentes. Porém, o ideal da acessibilidade é a construção de espaços, serviços e comunicações em uma perspectiva inclusiva, considerando o desenho universal, de forma a não depender de adaptações posteriores.
Conferir: desenho universal

 

O IMC (Índice de Massa Corporal) foi um cálculo desenvolvido no início do século XIX – 1832 exatamente – a partir de um estudo para saber quais as medidas da população, propondo um peso adequado. No entanto, qual o peso ideal e por que essa ideia se sustenta? Passados quase dois séculos, mesmo a população tendo mudado tanto, esse índice passou a ser tido como um parâmetro para tentar normalizar os corpos, em especial os femininos. Por isso, o uso do conceito “acima do peso” é também resultado da pressão estética, da gordofobia e da opressão ao corpo feminino.
Conferir o livro “O Mito da beleza” de Naomi Wolf.
Referência: AzMina – Dicionário Antigordofóbico
O visto humanitário serve para facilitar o ingresso e regularização migratória de pessoas vindas de qualquer país em situação de grave ou iminente instabilidade institucional, de conflito armado, de calamidade de grande proporção, de desastre ambiental ou de grave violação de direitos humanos ou de direito internacional humanitário.

 

Dentro do guarda-chuva da não binariedade, a pessoa agênero é aquela que não se identifica com nenhum gênero.
Conferir: identidade de gênero
Referência: Orientando – Lista de Gêneros
Termo que essencializa o fenômeno da violência, como se “ser agressor(a/e)” fosse uma característica ou predisposição intrínseca da pessoa. Utilizar: autor(a/e) de violência.
Conferir: violência
O oposto de assexual, isto é, pessoa que sente atração sexual e/ou romântica.
Conferir: orientação sexual/afetiva

 

A ancestralidade é vivida a partir da singularidade da experiência do corpo e do mito desde a cultura de matriz africana. O corpo como tecido escritural e simbólico para conhecermos o mundo. […] A ancestralidade pode ser lida como uma categoria de alteridade. Mais que isso, uma categoria de transalteridade, posto que se referencia no local de relação, ou seja, de encontro da diferença. A ancestralidade é a categoria que permite entender os territórios desterritorializados que, ao se reconstruírem (a exemplo da experiência negra no Brasil), constroem outros territórios capazes de suspender a temporalidade e a linearidade de uma história de cunho progressista e unívoca; ou, como a história indígena, cuja própria existência e resistência determinam o local de rasura de uma nação que se pretende homogênea (SÃO BERNARDO, 2018, p. 231.)

Referência: SÃO BERNARDO,S. S. A . A LENDA E A LEI: A ancestralidade afro-brasileira como fonte epistemológica e como conceito é tico-jurídico normativo. Odeere: Revista do Programa de Pós-Graduação em Relações Étnicas e Contemporaneidade – UESB. ISSN: 2525-4715 – Ano 2018, Volume 3, número 6, Julho – Dezembro de 2018.

Destruição ou anulação de um sujeito ou grupo. Destituição de direitos, apagamento de uma cultura.
Conferir: violência estrutural; epistemicídio
Pessoa que não seja considerada como nacional por nenhum Estado.
Referência: Lei de migração Lei nº 13.445, de 24 de maio de 2017.

 

Termo utilizado para designar toda e qualquer expressão de omissão ou negligência, assim como as violências (física, psicológica, moral, simbólica, institucional, patrimonial, estrutural) cometidas contra pessoas em situação de rua ou de classes empobrecidas, motivadas por sua sua classe e/ou condição socioeconômica.
A concessão, por um Estado, de proteção em seu território às pessoas fora de seu país de nacionalidade ou residência habitual, que estão fugindo de perseguições ou danos graves ou por outros motivos.
Pessoa que não sente atração sexual e/ou romântica por gênero algum. Não significa necessariamente que a pessoa não se relacione, apenas que não sente o desejo ou a necessidade disso. O termo correto é “assexual”, e não “assexuada(o, e)”.
Conferir: orientação sexual/ afetiva
Referência: Orientando – Lista de Gêneros
A autodefensoria é um movimento que visa ao desenvolvimento de sujeitos políticos que compreendam seus direitos e possam atuar em sua defesa. As ações de autodefensoria no campo dos direitos da pessoa com deficiência ganharam força no início dos anos 2000, direcionadas a proporcionar suporte para que jovens com deficiência participem efetivamente da vida social e política.
Barreiras são entraves que limitam os sujeitos em sua participação social e exercício da cidadania. A lógica social capacitista direciona à construção de espaços, instrumentos, serviços, comunicações e relações que excluem formas de existir que se afastam da norma funcional esperada e valorizada.
Conferir: capacitismo
Referência: DINIZ, Debora; BARBOSA, Lívia; SANTOS, Wederson Rufino dos. Deficiência, direitos humanos e justiça. Sur. Revista Internacional de Direitos Humanos, São Paulo, v. 6, n. 11, p. 64-77, dez. 2009.
Orientação sexual que identifica quem se atrai
afetiva e sexualmente tanto por pessoas do mesmo gênero quanto de gênero diverso. Não significa que a pessoa se
atraia pelos diferentes gêneros da mesma forma.
Em tradução livre da língua inglesa: ridicularização do corpo, vergonha do corpo, envergonhar o corpo.
Conferir: humilhação estética
Esse “elogio” é um reforço da atribuição de valor estético aos corpos, de forma que o corpo gordo é considerado feio.
Referência: AzMina – Dicionário Antigordofóbico

Segundo Schucman (2014), W. E. B. Du Bois, com o livro Darkwater (1920) e, mais especificamente, o ensaio “The souls of white folk” (“As almas do povo branco”), foi responsável por um dos primeiros trabalhos sobre estudos raciais cujo objeto de estudo não diz respeito à população negra, ou seja, o negro estudado pelo branco, mas sim a população branca se torna objeto de estudo sob o olhar do negro. Para Cida Bento (2021), branquitude diz respeito ao lugar de privilégio racial, econômico e político, no qual a racialidade, não nomeada como tal, carregada de valores, de experiências, de identificações afetivas, acaba por definir a sociedade.
A branquitude se insere enquanto importante conceito no processo da ação antirracista atual. Buscando refletir sobre a experiência racial branca e sobre o ideal de brancura – características fenotípicas que remetem a uma imaculada ascendência, em geral europeia, e à pele clara – abre-se a possibilidade de transformação dos sentidos atribuídos à própria brancura e, consequentemente, à criação de frestas entre a brancura e a branquitude. Um movimento a caminho da demolição de estruturas materiais e simbólicas racistas que viabilizam o privilégio branco e o genocídio negro.

Referência: Schucman, L. V. (2014). Entre o encardido, o branco e o branquíssimo: branquitude, hierarquia e poder na cidade de São Paulo. São Paulo: Annablume.

Em tradução livre da língua inglesa: homem que se apropria.
Termo racista tradicionalmente utilizado para designar uma pessoa indígena nascida em um dos povos originários isolados (“selvagens”).
Fundamento da discriminação contra pessoas com deficiência, o capacitismo hieraquiza os sujeitos em função de suas capacidades funcionais, valorizando-os quanto mais adequados estejam à corponormatividade. O capacitismo se expressa por mecanismos de controle biopolítico de corpos. Seja de forma sutil, por discriminação, apagamento e microviolências, ou de forma explícita, com recusa de adaptações razoáveis, negação de direitos, violências e negligências. Em contraposição, o anticapacitismo estrutura-se como ferramenta de emancipação, numa perspectiva interseccional, focada na transformação social e quebra de barreiras.
Conferir: interseccionalidade; barreira; corponormatividade

Referência: GESSER, Marivete; BLOCK, Pamela; MELLO, Anahí Guedes. Estudos da Deficiência: interseccionalidade, anticapacitismo e emancipação social. In: Estudos da defi ciência: anticapacitismo e emancipação social / Marivete Gesser, Geisa Letícia Kempfer Böck, Paula Helena Lopes (organizadoras) – Curitiba : CRV, 2020. p. 17-36.

Termo capacitista. Historicamente utilizado para se referir a pessoas que fazem uso de cadeiras de rodas, este termo direciona a uma adjetificação, reduzindo a pessoa ao meio auxiliar de locomoção por ela utilizado. O melhor termo para se dirigir a esta população é “pessoa em cadeira de rodas” ou “pessoa que utiliza/faz uso/usuária de cadeira de rodas”.
As pessoas cegas compõem, juntamente com as pessoas com baixa visão e visão monocular, a categoria visual da deficiência. Para além de seu original contexto médico, o termo é utilizado afirmativamente no posicionamento de defesa de direitos desta população. Utilizar o termo “cego” de forma pejorativa em frases como “mais perdido que cego em tiroteio” e “em terra de cego, quem tem olho é rei”, ou questionar se uma pessoa é cega com intuito de ofendê-la são posicionamentos capacitistas que contribuem para a exclusão social desta população.
Conferir: capacitismo
Termo tradicionalmente utilizado por sociedades brancas de língua portuguesa para designar povos nômades Rom (Rômani), Calón e Sinti.
Preconceito contra pessoas que não são cisgêneras.
Conferir: Cissexual/Cisgênero/Cis
Referência: Orientando – Lista de Sistemas Opressivos
Pessoa que se identifica com o gênero que foi atribuído ao seu corpo quando nasceu. Na nossa sociedade, o que geralmente ocorre é que o saber-poder médico designa o sexo do feto ou do bebê a partir de algumas características físicas aparentes. Com o passar do tempo, a pessoa pode se identificar ou não com o sexo que a ela havia sido atribuído. Quando a pessoa se sente em conformidade com esse gênero, ela é uma pessoa cisgênero, cissexual ou simplesmente cis. Caso contrário, trata-se de uma pessoa transgênero, transexual ou trans.
Conferir: identidade de gênero
O termo neste glossário está sendo abordado para além de sua origem etimológica. Terminologias de condescendência criam a conotação de que a pessoa em questão não tem agência ou gerência sobre sua vida, inferindo uma não autonomia e capacidade de decisão e ação sobre si. Isso pode resultar em um sentimento/sensação de impotência, incapacidade e/ou invalidez a respeito de si ou de determinada pessoa.
Conferir: coitada(o/e); condescendência
Enquanto os termos “colonização” e “colonialismo” dizem respeito a um período histórico específico na história mundial, no início do século XVI, envolvendo uma ideologia política que legitimou a dominação de um povo sobre outros, assim como a ocupação e exploração de terras habitadas por outros povos, com a imposição de leis e “o consumo parasitário dos recursos naturais, incluindo o trabalho humano” (MORRELL; SWART, 2005, p. 91-92), o termo “colonialidade” se refere a um fenômeno mais amplo e que perdura para além desse período histórico, abrangendo inclusive as subjetividades. A colonialidade hierarquiza pessoas, saberes, locais e cria dicotomias e as classifica também em hierarquias, como ocorre com os conceitos de gênero (homem/mulher) e raça (branco/negro), a fim de justificar a exploração dos corpos que não são homens cis brancos heterossexuais com recursos financeiros e sem deficiências.
Método de dominação de uma nação sobre outra por meios territoriais, culturais e econômicos. Existem dois modelos de formação de colônias: o modelo de exploração, que busca a extração de recursos e matérias-primas da região colonizada para o império colonizador, e o modelo de povoamento, relacionado com o deslocamento de uma massa de colonos para o território a ser colonizado. O colonialismo está diretamente ligado ao imperialismo e ao orientalismo, este último vinculado a uma falsa ideia de globalização que compõe uma narrativa de legitimação do processo de invasão e opressão do ocidente sobre o oriente (MARRANO; CRUXEN, 2021).
Domenico Losurdo, em seu livro “Colonialismo e a luta anticolonial”, descreve: “[…] o colonialismo é sinônimo de pilhagem e de exploração; e implicou guerra, agressão e imposição, em larga escala, de formas de trabalho forçado em detrimento das populações coloniais, mesmo quando se declarou movido pelo intento humanitário de promover a realização da paz perpétua e a abolição da escravidão e mesmo quando alguns expoentes políticos ou alguns ideólogos das grandes potências do Ocidente acreditaram sinceramente em tais boas intenções!”

Referências: LOSURDO, Domenico. Colonialismo e a Luta Anti-Colonial. Boitempo Editorial: São Paulo, 2020.

SAID, Edward. Orientalismo: O Oriente como invenção do Ocidente. Companhia das Letras: São Paulo, 2007.

MORRELL, Robert; SWART, Sandra. Men in the Third World: postcolonial perspectives on masculinity. In: KIMMEL, Michael; HEARN, Jeff; CONNELL, R. W. Handbook of Studies on Men and Masculinities. Thousand Oaks: Sage, 2005. Pp. 90-113. Disponível em <https://bit.ly/3Yyc12r>. Acesso em 23 dez. 2022.

HOLLANDA, Heloisa Buarque de (org.). Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020. Disponível em <www.mpba.mp.br/sites/default/files/biblioteca/direitos-humanos/direitos-das-mulheres/obras_digitalizadas/heloisa-buarque-de-hollanda-pensamento-feminista-hoje_-perspectivas-decoloniais-bazar-do-tempo-_2020.pdf>. Acesso em 07 mar. 2023.

Falas que inferem uma fragilidade na outra pessoa e demonstram uma relação de poder e, consequentemente, uma hierarquização. Além disso, trazem uma lógica de tutela, diminuindo o senso de agenciamento do sujeito.

Um conflito em que há recurso à força armada entre Estados ou violência armada prolongada entre governos, autoridades e grupos armados organizados ou entre esses grupos dentro de um Estado.
Referência: IOM – Glossary on Migration 
Conjunto de informações de comunidades tradicionais adquirido por meio de sua vivência em meio a natureza e da observação e experimentação de procedimentos e resultados.
Consciência negra é um termo que ganhou notoriedade na década de 1970, no Brasil, em razão da luta de movimentos sociais que atuavam pela igualdade racial, como o Movimento Negro Unido. O termo é, ao mesmo tempo, uma referência e uma homenagem à cultura ancestral do povo de origem africana, que foi trazido à força e duramente escravizado por séculos no Brasil. É o símbolo da luta, da resistência e a consciência de que a negritude não é inferior e que o negro tem seu valor e seu lugar na sociedade.
A aquisição para obter, direta ou indiretamente, benefício financeiro ou material da entrada irregular de uma pessoa no território de um Estado do qual a pessoa não é nacional ou residente permanente.
Referência: IOM – Glossary on Migration 
A corponormatividade diz respeito a padrões hegemônicos corporais, estéticos e funcionais balizadores da estrutura social. O sistema de opressão capacitista é marcado pela corponormatividade compulsória, em que, na dicotomia entre pessoas com e sem deficiência, estas aparecem como padrão de normalidade.
Conferir: capacitismo
Referência: MELLO, Anahí Guedes de. Deficiência, incapacidade e vulnerabilidade: do capacitismo ou a preeminência capacitista e biomédica do Comitê de Ética em Pesquisa da UFSC. Ciênc. Saúde Colet. (Impr.) ; 21(10): 3265-3276, Out. 2016.

 
O termo tem como base o conceito de que a criança pertence à rua, que não tem direito ou acesso aos serviços e direitos da sociedade, uma vez que teria nascido “fora” dela. O termo escancara um processo crônico de desestrutura para com as pessoas em situação de rua, em que as famílias passam a se constituir nesta situação.
Uma criança que foi separada de mãe, pai e outros familiares e não está sendo cuidada por uma pessoa adulta que, por lei ou costume, é responsável por fazer isso.
Referência: IOM – Glossary on Migration 
Em 2015, com a guerra na Síria, tornou-se comum a expressão “crise de refugiados”. Não existe uma crise de refugiados: os fluxos migratórios podem se intensificar considerando questões geopolíticas, econômicas, ambientais e climáticas. Muitas vezes, é o apoio e a cooperação internacional (ou a ausência deles) que configuram uma situação possivelmente “crítica”.
Conjunto de crenças, valores e práticas sociais e historicamente compartilhadas, em uma ou mais populações, que validam e naturalizam a violência sexual cometida contra mulheres, pessoas com corpos lidos como femininos e com outras dissidências de gênero, endossando e reforçando a misoginia presente nas estruturas sociais das sociedades patriarcais.
Referência: Federici, Silvia. Calibã e a Bruxa: Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Editora Elefante, 2017

A cultura surda diz respeito à maneira com que as pessoas surdas compreendem e modificam o mundo, suas ideias, costumes e uso de língua e escrita próprios – de modalidade visual-espacial. As identidades surdas são constituídas no contexto desta cultura, multifacetadas, fragmentadas e em constante mudança, contando com classificações de acordo com alguns fatores, tais como a relação com a língua e a participação política. Algumas delas são: híbrida, flutuante, embaçada, de transição, de diáspora e intermediária.

Referência: CROMACK, Eliane M. P. da C.(2004). Identidade, Cultura Surda e produção de Subjetividades e Educação: Atravessamentos e implicações Sociais. Psicologia ciência e Profissão, p. 68-77.

Curatela é um processo jurídico que visa a proteger os direitos financeiros e patrimoniais de algumas pessoas com deficiência com necessidades mais evidentes de suporte. A teoria das capacidades sofreu alterações a partir da Lei Brasileira de Inclusão (LBI – Lei Federal nº 13.146/2015). Até então, pessoas poderiam ser consideradas incapazes em função de sua deficiência pelo processo de interdição. Com a mudança, a curatela recai apenas sobre as questões financeiras e patrimoniais, permanecendo garantido o direito ao exercício da capacidade civil nas tomadas de decisões sobre todas as demais áreas da vida. Somada à curatela, a LBI prevê também a medida de tomada de decisão apoiada, na qual são nomeadas pessoas de confiança para assinar conjuntamente em decisões oficiais.
Termo capacitista. Historicamente utilizado para se referir a pessoas com deficiência, este termo direciona a uma adjetificação, reduzindo a deficiência a uma característica pessoal. Sabemos, pelo modelo social de deficiência, que esta se constitui na vida dos sujeitos na interação de algumas características da diversidade humana com as barreiras exitentes em nossa sociedade. Portanto, não deve ser utilizado o adjetivo “deficiente” para se referir a esta população.
Conferir: pessoa com deficiência
Dentro do espectro da assexualidade, demi é quem sente atração sexual e/ou romântica apenas quando já existe alguma conexão ou vínculo com a(s) outra(s) pessoa(s).
Conferir: orientação sexual/afetiva
Interrupção do funcionamento de uma comunidade ou sociedade em qualquer escala devido a eventos que inserem uma situação de perigo, devido às condições de exposição, vulnerabilidade e capacidade, levando a um ou mais dos seguintes fatores: perdas e impactos humanos, materiais, econômicos e ambientais.
Referência: IOM – Glossary on Migration 
Conceito advindo do campo da arquitetura em estado de aprofundamento no campo da Psicologia, o desenho universal é uma forma de projetar espaços, materiais e instrumentos considerando o máximo possível a diversidade das habilidades humanas, de forma a não depender de adaptações posteriores, tendo como princípios o uso equitativo, flexível, simples e intuitivo, com informações de fácil percepção, tolerância ao erro, mínimo esforço físico e dimensionamento para acesso e uso abrangente.
Referência: OLIVEIRA, C. M., NUERNBERG, A. H., & NUNES, C. H. S. S. (2013). Desenho universal e avaliação psicológica na perspectiva dos direitos humanos. Avaliação Psicológica, 12(3), 421-428.

São pessoas deslocadas dentro de seu próprio país, pelos mesmos motivos de uma pessoa refugiada, mas que não atravessaram uma fronteira internacional para buscar proteção.
Referência: HELP UNHCR
O movimento de pessoas que foram forçadas ou obrigadas a fugir ou a deixar suas casas ou locais de residência habitual, em particular como resultado de ou para evitar os efeitos de conflito, situações de violência generalizada, violações de direitos humanos direitos ou desastres naturais ou de origem humana.
Referência: IOM – Glossary on Migration 
A diáspora africana é o nome dado a um fenômeno histórico e social caracterizado pela imigração forçada de homens e mulheres do continente africano para outras regiões do mundo. Esse processo foi marcado pelo fluxo de pessoas e culturas através do Oceano Atlântico e pelo encontro e pelas trocas de diversas sociedades e culturas, seja nos navios negreiros ou nos novos contextos que os sujeitos escravizados encontraram fora da África (ANDRADE, 2017).
Desde a ocupação europeia nas Américas, há mais de cinco séculos, a maioria absoluta das pessoas que chegaram aqui viera do continente africano. Das 11 milhões de pessoas deslocadas à força para as Américas, o Brasil recebeu a maior quantidade e por maior período: foram 300 anos alimentando o fluxo da diáspora do povo africano com a chegada de mais de 5 milhões de pessoas. Diáspora é uma palavra usada para definir a imigração forçada de seres humanos, como aconteceu com o povo judeu desde o século 6 a.C. Já para o povo negro, refere-se principalmente ao período de escravização que forçou, através de guerras e destruição de sociedades na África, milhões de pessoas a deixarem suas comunidades, ligações com a terra e relações sociais. No entanto, apesar de serem capturadas e enviadas à força para diferentes partes do globo, essas pessoas levaram consigo seus modos de vida, culturas, práticas religiosas, línguas e formas de organização política, que por sua vez influenciaram a construção das sociedades de destino.

Referência: https://www.geledes.org.br/diaspora-africana/ e MORTARI, Claudia. Introdução aos estudos africanos e da diáspora. Florianópolis: DIOESC: UDESC, 2015.

Conjunto de condições garantidas juridicamente que possibilitam a autodeterminação em relação ao exercício da sexualidade e ao desejo ou recusa em reproduzir-se, bem como o tempo e a forma de exercer a parentalidade. Também abarca o conjunto de serviços e informações para usufruir tais condições, ao considerar a importância da saúde sexual e reprodutiva para além da ausência de doenças.

Referência: Federici, Silvia. Calibã e a Bruxa: Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Editora Elefante, 2017.

Orientações sexuais e identidades de gênero não conformativas, que questionam os padrões normativos.
Conferir: identidade de gênero; orientação sexual/afetiva
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) trouxe em seu bojo a substituição da Doutrina da Situação Irregular pela Doutrina da Proteção Integral, que pode ser observada no art. 4º: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.” (COSTA; PINHEIRO, 2016)
Referência: COSTA, Ana Ligia B.; C, Paulo F. PSICOLOGIA E DIREITO: Um Diálogo Possível A Partir da Medida Socioeducativa de Privação de Liberdade. In: RODRIGUES FILHO, L. F.; COSTA, I. G. (Org.). Direito e Psicologia: o sujeito em inclusão. 1. ed. Curitiba: Instituto Memória, 2016.

Termo pejorativo utilizado historicamente para se referir a pessoas que fazem uso de substâncias psicoativas. Implica uma marginalização destes sujeitos, reduzindo-os, de forma negativa, a um único aspecto de suas vidas. O uso deste termo ainda é encontrado no domínio da clínica psiquiátrica.
Conferir: substância psicoativa
Conjunto de processos subjetivos, relacionais, sociais e políticos que permitem a um grupo de pessoas – ou uma pessoa, enquanto parte de um coletivo – compreender e aceitar seu valor inalienável enquanto seres humanos, com todas as suas potencialidades, bem como seus limites, passíveis ou não de serem transcendidos.
Referência: Berth, Joice. O que é empoderamento? Coleção Feminismos Plurais.

Termo que se refere a pessoa que possui o aparelho reprodutivo de acordo com o que a medicina impõe como norma. Oposto: intersexo.
O ato de cruzar fronteiras sem cumprir todas as leis e requisitos administrativos para a entrada no Estado. Entende-se que não existe deslocamento ilegal, consequentemente que todo ser humano tem o direito de se deslocar: não há ilegalidade em migrar.
Episteme nos remete à ideia de conhecimento ou estudo do conhecimento. Por sua vez, cídio exprime a ideia de morte ou extermínio. Logo, epistemicídio pode ser entendido como assassinato do conhecimento de algo. Pode-se pensar que aquelas pessoas que apresentavam modos de ser, costumes e fenótipos diferentes daqueles partilhados pelas pessoas europeias estariam sujeitas ao epistemicídio (SANTOS, 2007; CARNEIRO, 2005). Para Carneiro (2005), no caso da população negra, o epistemicídio atua como um conjunto de práticas educacionais desfavorecedoras e constrangimentos sociais cotidianos, visando a obstar a trajetória do sujeito negro como sujeito de conhecimento. Impossibilitando esse papel, trava-se um processo social de emancipação do sujeito e de seu grupo.

Referência: Carneiro, S. A. (2005). A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. Tese de Doutorado, USP, São Paulo.

Conjunto de condições estruturais, culturais, sociais e relacionais que ofereçam às pessoas o atendimento pleno de suas necessidades, de modo que todes possam ter igualdade de oportunidades de desenvolvimento.
Conferir: mendigo
Preconceito baseado na hierarquização de espécies animais, geralmente colocando os animais humanos como superiores aos animais não humanos. Frequentemente expresso por meio de xingamentos usando nomes de espécies de animais, como burro, jumento, cachorro, vaca, piranha, cadela e afins. Em muitos casos, as expressões especistas também carregam o preconceito de gênero, como quando uma mesma espécie é usada como um elogio no masculino e com sentido pejorativo no feminino (touro e vaca, galo e galinha, entre outros).
Termo sarcástico para indicar um homem que se apresenta como progressista, defendendo a justiça social e outras pautas importantes para os movimentos sociais de esquerda, mas nas suas relações cotidianas reproduz massivamente práticas opressivas e conservadoras.
Para Ferreira de Almeida (2010), a compreensão das possibilidades de afirmação de uma “estética” qualquer impõe, primeiro, abarcar um estado que transcenda o cotidiano expressivo dos sujeitos e provoque uma experimentação diferenciada na sua relação com o mundo. Normalmente, esta reflexão teórica exige do seu formulador uma resposta “universal” que implique uma explicação da relação humana com o mundo. Em uma concepção mais tradicional, falar de uma “estética negra” particulariza um movimento que deveria ser “objetivo” em seu princípio organizador por conter a exigência de “julgamentos estéticos válidos” em uma ordem objetiva. Os critérios de valor acionados não poderiam ter como fundamento a particularidade proposta por um sujeito determinado étnica e racialmente. Deste modo, a estética negra se apresenta nos costumes em geral, não só no corpo, mas também em práticas e formas de olhar e construir o mundo, em redes de sociabilidade e formas políticas de resistência à estandardização cultural.

Referência: FERREIRA DE ALMEIDA, Maria Cândida. Arte afro-descendente: um olhar em desafio. In: NUSSBAUMER, Gisele M. (org.) Políticas… Salvador: CULT/UFBA, 2007.

Uma pessoa em um Estado do qual não é cidadã ou nacional. Termo que caiu em desuso, pois entende-se que a noção de estrangeiro fala de pessoas alheias ao território nacional, já a palavra migrante refere-se a um sujeito de direito, que pode ou não ser natural do país.
Conferir: etarismo
Termo utilizado para indicar discriminação com relação à idade.
Sinônimos: idadismo; etaísmo
Historicamente, a palavra etnia significa “gentio”, proveniente do adjetivo grego ethnikos. O adjetivo se deriva do substantivo ethnos, que significa gente ou nação estrangeira. É um conceito polivalente, que constrói a identidade de um indivíduo resumida em: parentesco, religião, língua, território compartilhado e nacionalidade, além da aparência física (SANTOS; PALOMARES; NORMANDO; QUINTÃO, 2010).
Etnia pode ser relacionada ao pertencimento ancestral e étnico-racial da população negra e indígena e de outros grupos em nossa sociedade. Os que partilham dessa percepção entendem por etnia um grupo possuidor de algum grau de coerência e solidariedade, composto por pessoas conscientes, pelo menos em forma latente, de terem origens e interesses comuns. Um grupo étnico não é mero agrupamento de pessoas ou de um setor da população, mas uma agregação consciente de pessoas unidas ou proximamente relacionadas por experiências compartilhadas (CASHMORE, 2000, p. 196, citado por GOMES, 2005, p. 50).

Referência: SANTOS, Diego Junior da Silva et al. Raça versus etnia: diferenciar para melhor aplicar. Dental Press J Orthod. v. 15, nº 3, p. 121-124, mai./jun. 2010. GOMES, N. L. Alguns Termos e Conceitos Presentes no Debate Sobre Relações Raciais no Brasil: Uma Breve Discussão. 2005.

No Brasil, os povos indígenas constituem uma identidade racial. Entretanto, em razão das diferentes características socioculturais, os grupos são definidos por etnia. Como exemplos, no estado do Amazonas, onde vivem mais de 80.000 índios, existem 65 etnias indígenas. Apesar de o conceito de raça estar muitas vezes associado ao de etnia, os termos não são sinônimos. Enquanto raça engloba características fenotípicas, como a cor da pele, a etnia também compreende fatores culturais, como a nacionalidade, afiliação tribal, religião, língua e as tradições de um determinado grupo (SANTOS; PALOMARES; NORMANDO; QUINTÃO, 2010).

Referência: SANTOS, Diego Junior da Silva et al. Raça versus etnia: diferenciar para melhor aplicar. Dental Press J Orthod. v. 15, nº 3, p. 121-124, mai./jun. 2010.

Preconceito contra pessoas não binárias.
Referência: Orientando – Lista de Sistemas Opressivos

Assassinato de mulheres motivado por uma ou mais condições associadas ao fato de serem mulheres ou às feminilidades.
Modos diversos de agir, falar, pensar e sentir de uma pessoa no mundo, histórica e socialmente constituídos e difundidos como sendo a performance de mulheres.

Referência: Delphy, Christine. Patriarcado (teorias do). pp. 173-178. Em: Hirata, Helena; Laborie, Françoise; Le Doaré, Hélène; Senotier, Danièle. (orgs) Dicionário crítico do feminismo. São Paulo: Editora Unesp, 2009.

Conjuntos diversos de crenças, valores e práticas sociais em prol dos direitos das mulheres e em combate às opressões nascidas com o patriarcado. É importante destacar que há mais do que uma abordagem ou corrente feminista.
O número crescente da mulheres migrando independentemente tem aumentado o desenvolvimento de oportunidades, mas também levou a certas vulnerabilidades específicas de gênero como o tráfico de mulheres para a indústria do sexo, o trabalho doméstico e casamento forçado. As mulheres compreendem um pouco menos da metade do número de todas as pessoas migrantes internacionais.
Referência: IOM – Glossary on Migration 
Fitness se tornou um sinônimo de saudável, mas o termo em inglês, na verdade, vem do verbo to fit, ou seja, caber, encaixar – o que traduz a gordofobia como essa necessidade de se encaixar em um modelo ou padrão físico.
Referência: AzMina – Dicionário Antigordofóbico
Mecanismos defensivos que são acionados em pessoas brancas quando estas são convocadas a discutir sobre o racismo quando o racismo é problematizado ou quando seu racismo é apontado.
Referência: COSTA, Ana Ligia B.; C, Paulo F. PSICOLOGIA E DIREITO: Um Diálogo Possível A Partir da Medida Socioeducativa de Privação de Liberdade. In: RODRIGUES FILHO, L. F.; COSTA, I. G. (Org.). Direito e Psicologia: o sujeito em inclusão. 1. ed. Curitiba: Instituto Memória, 2016.

Zonas espaciais menos precisas que os limites. “Faixas” que contornam o território do Estado. Em regra, são naturais, dependentes da definição dada pelos limites.
Termo inglês para manipulação emocional, tortura e/ou assédio psicológico.
Conferir: pintar a mina de louca
Identidade de gênero não binária que aplica o termo queer para o gênero.
Conferir: identidade de gênero
Dentro do guarda-chuva da não binariedade, refere-se à pessoa cuja identidade de gênero não é sentida como fixa, passando por mudanças periódicas.
Conferir: identidade de gênero
Extermínio sistemático e deliberado de um povo e sua cultura, por meios ativos (com uso da força) ou passivos (com negligência ou omissão). Muitas vezes, essa violência é cometida pelo próprio Estado.
O uso da palavra gorda traz consigo o estigma que essa característica tem na sociedade. Para tanto é preciso normalizar que a característica física de alguém, independente de qual seja, não pode ser considerada xingamento. Termos não recomendados: fofa, forte, grande, cheia. São todos eufemismos para gorda, que associamos a algo ruim. Gorda se tornou uma palavra proibida, tanto quanto ser gorda hoje o é.
Referência: AzMina – Dicionário Antigordofóbico
Az Mina – Gorda não é palavrão
A noção de gordice, “pensamento gordo” ou “cabeça de gordo” relaciona o comer a algo errado. Esses termos reforçam o estereótipo de que as pessoas gordas só são gordas porque comem demais e comem “o que não devem”, desconsiderando todos os outros fatores que interferem no peso de alguém.
Referência: AzMina – Dicionário Antigordofóbico
Repulsa ou preconceito contra as pessoas gordas.
O termo gravidez precoce não deve ser utilizado, pois se trata de uma naturalização de um fenômeno cultural. A precocidade de uma gestação não está relacionada a uma idade cronológica, mas sim aos fatores culturais dos lugares, épocas e vivências subjetivas. Ao nos referirmos à gestação de pessoas de uma determinada faixa etária, podemos utilizar os termos que as definem, como: gravidez na adolescência, gravidez na infância, gravidez na juventude.
Pessoa que sente atração por pessoas de gênero oposto ao seu.
Conferir: orientação sexual/afetiva
Referente à frase “O homem do saco vai te pegar se você não…”. Utilizada como uma forma de ameaça ou aviso, principalmente para crianças, a frase produz uma estigmatização de pessoas em situação de rua como sendo perigosas e algo a ser temido.
Conferir: transmasculinidades
Tradução livre do termo mansplaining para a lígua portuguesa cotidiana. Prática de violência psicológica na qual um homem explica a uma ou mais mulheres um assunto que elas conhecem tanto quanto ou mais que o homem em questão, sem que ele tenha sido convidado ou consultado a respeito.
Pessoa que sente atração por pessoas do mesmo gênero que o seu.
Conferir: orientação sexual/afetiva
Prática de violência psicológica e moral na qual uma pessoa com um corpo cuja forma fuja do padrão estético hegemônico é hostilizada e ridicularizada com ofensas de diferentes naturezas e diferentes graus de expressão, resultando em uma hierarquização dos corpos.
Conferir: body shaming
Conferir: etarismo
Gênero é uma categoria normativa criada em cima das diferenças anatômicas aparentes. Identidade de gênero se refere ao gênero com o qual a pessoa se identifica, podendo também não se identificar com gênero algum (agênero).
Referência: Orientando – Lista de modalidade de gêneros

O paradigma da inclusão social se opõe dialeticamente ao processo sócio-histórico de exclusão. A inclusão tem como princípio a transformação social e a participação equitativa. Para favorecer processos de inclusão, podem ser tomadas ações afirmativas voltadas para populações historicamente excluídas, na perspectiva da igualdade de oportunidade no acesso a direitos.
Conferir: mendigo
Termo racista tradicionalmente utilizado para designar uma pessoa nascida em um povo originário do Brasil.
A interdependência é condição basal da vida, uma vez que as relações humanas se estruturam por vínculos de dependência. O cuidado é um princípio ético da vida coletiva. Algumas pessoas com deficiência, ou outras condições que demandam níveis de suporte mais evidentes, terão na premissa da interdenpendência a expressão de sua autonomia e participação social.
Referência: GESSER, Marivete; ZIRBEL, Ilze; LUIZ, Karla Garcia. Cuidado na dependência complexa de pessoas com deficiência: uma questão de justiça. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, 30(2). 2022.

Consiste na redistribuição voluntária de pessoas venezuelanas para outras regiões do Brasil, recebidas pela Operação Acolhida.

Referência: IMDH. Migrações, refúgio e apátridia. Guia para comunicadores. 2019.

A interseccionalidade é um conceito que compreende a sobreposição dos sistemas de opressão, na articulação entre diferentes marcadores sociais, como raça, gênero, classe, etc. Pensar os sujeitos numa perspectiva interseccional permite desvelar a articulação dos eixos de poder, entendendo que quanto mais complexa a rede de intersecções, maior será a opressão vivenciada pelos sujeitos. Por exemplo, mulheres negras terão vivências de opressão diferenciadas de mulheres brancas, ainda que compartilhem o recorte de gênero. A perspectiva interseccional auxilia no direcionamento de estratégias contextualizadas na pluralidade humana.
Referência: LOPES, Paula Helena; SOLVALAGEM, Alana Lazaretti; BUSSE, Fernanda G. M. Seixas. Em vistas da coligação: a interseccionalidade como ferramenta da luta anticapacitista, antirracista e antissexista. In: Estudos da deficiência: anticapacitismo e emancipação social / Marivete Gesser, Geisa Letícia Kempfer Böck, Paula Helena Lopes (organizadoras) – Curitiba : CRV, 2020. p. 129-144.

O termo interseccionalidade nos permite compreender melhor as desigualdades e a sobreposição de opressões e discriminações existentes em nossa sociedade. Pode ser considerado como uma ferramenta analítica importante para pensarmos sobre as relações sociais de raça, sexo e classe, bem como os desafios para a adoção de políticas públicas eficazes.
Referência: Crenshaw, K. (1989). “Demarginalizing the intersection of race and sex: A black feminist critique of antidiscrimination doctrine, feminist theory and antiracist politics”. The University of Chicago Legal Forum.
Pessoa cujo corpo não se enquadra nas definições de sexo feminino ou masculino, podendo abranger características físicas, cromossômicas e/ou hormonais, em um conjunto amplo de possíveis variações. Anteriormente, usava-se o termo hermafrodita, que não deve mais ser usado para se referir a humanos.
Oposto: endossexo ou perissexo
Lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros, queers, pessoas intersexo, assexuais e agêneros, pansexuais e não bináries. A sigla pode ser encontrada em outros formatos, pois está em constante disputa.

Um dos direitos humanos é a liberdade de movimento dentro do território de um país, como o direito de escolher o local de residência, de deixar qualquer país e de voltar ao seu próprio país.
Referência: UNHCR – Master Glossary
Posição social ocupada por uma ou um grupo de pessoas, atravessada pelas opressões e privilégios enraizados nas desigualdades sociais.

Referência: Ribeiro, Djamila. O que é lugar de fala? Coleção Feminismos Plurais.

Sistemas de crenças segundo as quais o homem e o que é socialmente considerado masculino apresentam maior valor, maior validade, implicando e explicitando a depreciação de tudo que se refere a mulheres e ao feminino.
Termo brasileiro comumente utilizando entre ativistas dos feminismos para designar uma forma de violência psicológica contra mulheres e pessoas com orientação sexual ou identidade de gênero dissidentes da heteronormatividade.
Conferir: homexplica; mansplaining
Tradução livre do termo bropriating para a língua portuguesa cotidiana, designa a prática de violência psicológica e patrimonial na qual um homem apresenta ideias, projetos, trabalhos e outras ações como se fossem seus, quando na verdade foram realizados por mulheres, contribuindo para a manutenção do apagamento de mulheres na história. Plágio masculino. Apropriação intelectual indevida por homens.
Termo psicofóbico utilizado para se referir pejorativamente a pessoas com transtornos mentais ou, de maneira coloquial, se referir a pessoas, comportamentos ou situações consideradas desviantes ou impróprias. O uso deste termo colabora para a exclusão social de pessoas com transtorno mental.
Conferir: transtorno mental
Termo capacitista que atribui uma característica comportamental negativa ao ato de mancar, que é uma singularidade na forma de caminhar de algumas pessoas com deficiência. Utilizar este termo reforça uma lógica que associa deficiência à incapacidade e ao erro, contribuindo para a exclusão social desta população.
Em tradução livre da língua inglesa: homem (que) explica. Arrogância masculina; condescendência masculina.
Conferir: homexplica; macho palestrinha
Em tradução livre da língua inglesa: homem (que) se espalha. Também conhecido como “man-sitting” (homem (que) senta).
Em tradução livre da língua inglesa: homem (que) interrompe.
Termo pejorativo referente a quem vive à margem da sociedade, geralmente utilizado para se referir a criança ou adolescente em conflito com a lei.
Conjunto de respostas defensivas quando os supostos méritos ou benefícios das masculinidades são questionados ou problematizados, e/ou quando são promovidas ações afirmativas para mulheres – cis e trans – e pessoas não bináries transfeminines ou com corpos lidos como femininos.
Apesar de haver múltiplas versões de masculinidades, a versão que está no topo da hierarquia de masculinidades possíveis, por sua valorização social, é conhecida como masculinidade hegemônica, “a única ainda legitimada socialmente e que deixa fora do jogo da construção subjetiva as outras [subordinadas]” (BONINO, 2002, p. 9, tradução nossa). A hegemonia não significa violência, ainda que possa ser sustentada pela força, mas sua dominância é alcançada pela cultura. A masculinidade hegemônica é “a configuração normativizante de práticas sociais para os homens predominante em nossa cultura patriarcal, com variações, mas persistente. Ainda que alguns de seus componentes estejam atualmente em crise de legitimação social, seu poder configurador segue quase intacto” (BONINO, 2002, p. 9, tradução nossa)
Referência: CBONINO, Luis. Masculinidad hegemónica e identidad masculina. Dossiers feministes [online], Espanha, v. 6, p. 7-35. 2002. Disponível em: https://bit.ly/3DSfnnx. Acesso em: 11 ago.2023.

BOGDANOVICZ, Fabiane Kravutschke. As expressões da masculinidade hegemônica no discurso do presidenciável Bolsonaro. Trabalho de Conclusão de Curso. Especialização em Sociologia Política. Faculdade Sagrada Família. Disponível em: https://bit.ly/3QvIuEN. Acesso em 11 ago. 2023.

 
Modos diversos de agir, falar, pensar e sentir de uma pessoa no mundo, histórica e socialmente constituídos e difundidos como sendo a performance de homens.

Referência: Delphy, Christine. Patriarcado (teorias do). pp. 173-178. Em: Hirata, Helena; Laborie, Françoise; Le Doaré, Hélène; Senotier, Danièle. (orgs) Dicionário crítico do feminismo. São Paulo: Editora Unesp, 2009.

Conferir: mendigo
Referente a mendigo.
Conferir: mendigo
Termo utilizado para se referir a pessoas em situação de rua, tem como prerrogativa que esta população vive a base unicamente do ato de mendicância (doações), o que não é verdadeiro, uma vez que a maior parte da população em situação de rua possui fonte de renda formal ou informal. A utilização do termo contribui para uma estigmatização relacionada à produtividade e capacidade destas pessoas.
Termos relacionados: esmoleiro; indigente; mendicante; pedinte
Conferir: criança de rua
O termo “menor” ganhou conotação pejorativa em razão das legislações que abordavam o tema da infância e juventude quando em situação irregular, anteriores ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O Código de Menores de 1979 adotou em seu texto a ideia de irregularidade de crianças e adolescentes que já era praticada pelo Código de Menores de 1927 para efeitos de intervenção do Estado. Dispõe em seu art. 2º: “Para os efeitos deste Código, considera-se em situação irregular o menor: I – privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de: a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável; b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para provê-las; Il – vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou responsável; III – em perigo moral, devido a: a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes; b) exploração em atividade contrária aos bons costumes; IV – privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável; V – Com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou comunitária; VI – autor de infração penal. Parágrafo único. Entende-se por responsável aquele que, não sendo pai ou mãe, exerce, a qualquer título, vigilância, direção ou educação de menor, ou voluntariamente o traz em seu poder ou companhia, independentemente de ato judicial.”. Esta forma de compreender a infância e adolescência no Brasil ficou conhecida como Doutrina da Situação Irregular.
Referência: COSTA, Ana Ligia B.; C, Paulo F. PSICOLOGIA E DIREITO: Um Diálogo Possível A Partir da Medida Socioeducativa de Privação de Liberdade. In: RODRIGUES FILHO, L. F.; COSTA, I. G. (Org.). Direito e Psicologia: o sujeito em inclusão. 1. ed. Curitiba: Instituto Memória, 2016.

O movimento de pessoas para longe de seu lugar de residência habitual, seja através de uma fronteira internacional ou dentro de um Estado.
Referência: UNHCR – Master Glossary
Uma pessoa que se afasta de seu lugar de residência habitual, quer dentro de um país ou através de uma fronteira internacional, temporária ou permanentemente, e por uma variedade de razões. O termo inclui: pessoas trabalhadoras migrantes; pessoas migrantes contrabandeadas; estudantes internacionais.
Referência: UNHCR – Master Glossary
Termo muitas vezes utilizado como um sinônimo para migrantes em uma situação irregular. Dado ao seu caráter estigmatizante, essa expressão deve ser evitada.
Referência: Glossário UNHCR 
Toda e qualquer fala, ação ou gesto que revela o ódio e a depreciação de mulheres, pessoas com corpos lidos como femininos e de tudo que for histórica e socialmente atribuído ao feminino.
Referência: Federici, Silvia. Calibã e a Bruxa: Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Editora Elefante, 2017.

Termo guarda-chuva que abrange a atração por apenas um gênero, podendo ser homo ou heterossexual.
Conferir: orientação sexual/afetiva

O termo “morador de rua” tem como base o conceito de que determinadas pessoas moram na rua, fixam residência neste local. No entanto, a rua é um logradouro público que não provê segurança, privacidade e abrigo; sendo assim, não pode ser considerada uma residência. O termo também remete a uma suposta permanência desta pessoa no local como sendo seu, o que também não se configura uma verdade: as pessoas não têm uma condição de rua, mas sim uma situação de rua que, desta forma, pode ser mudada.
O termo correto desta forma é população/pessoa em situação de rua.
Conferir: transfeminilidades
Expressão misógina e machista que é utilizada em frases como: “não seja mulherzinha” ou “isso é coisa de mulherzinha”. Essas expressões evidenciam a utilização do termo mulher ou da mulheridade e feminilidade como algo pejorativo ou como um insulto, como algo ou alguém mais fraco.

Termo guarda-chuva que abrange a atração por mais de um gênero, podendo ser bi, pan, poli, omnissexual, entre outros termos que estão em constante mudança, buscando dar conta da pluralidade das expressões humanas.
Conferir: orientação sexual/afetiva

Prática de negligência afetiva (ou violência psicológica passiva) na qual uma das partes da relação se recusa a comunicar-se, responder perguntas ou colaborar com algo. É o tratamento de silêncio diante de uma frustração apresentada pela outra parte da relação.
Conferir: stonewalling
Indivíduo que possui a nacionalidade de um Estado. Este termo é frequentemente utilizado como sinônimo de cidadã(o).
Referência: UNHCR – Master Glossary 
A binariedade de gênero diz respeito à classificação colonial dos corpos considerando a diferenciação aparente da genitália externa, classificando os indivíduos em homens (pessoas possuidoras de pênis) ou mulheres (pessoas não possuidoras de pênis e possuidoras de vulvas). Assim, a não binariedade é um termo guarda-chuva que se refere à pessoa que não se identifica exclusivamente com o gênero feminino ou o masculino, podendo ter uma identificação parcial, neutra, fluida ou divergindo completamente dessa classificação binária de homem ou mulher.
Conferir: identidade de gênero

Uma pessoa que não é nacional ou cidadã de um determinado Estado.
Referência: IOM – Glossary on Migration 
É o tipo de violência que envolve a omissão na prestação dos cuidados necessários à qualidade de vida de pessoa em situação de dependência de cuidados de outrem.
Conferir: violência; abandono
Dentre as diferentes formas de existir da neurodiversidade humana, existem sujeitos que são considerados neurologicamente típicos, ou seja, possuem um desenvolvimento e funcionamento neurológico próximo do padrão esperado em seu contexto sócio-histórico. Em contraposição à neurotipicidade, utiliza-se o termo neurodivergente para se referir a sujeitos que se distanciam deste padrão. Pessoas neurodivergentes podem vivenciar uma série de barreiras impostas pela construção neurotípica dos espaços, expectativas e relações sociais.
Conferir: barreira
Nortear significa “encaminhar-se em direção ao norte” , que também sugere “guiar(-se) numa dada direção moral, intelectual etc.; orientar-se, regular-se”. Essa representação geocartográfica do norte acima e superior, por oposição, ao sul abaixo, inferior, insere uma relação de superioridade do norte sobre o sul, contribuindo para uma interpretação nociva sobre a construção do conhecimento, assim como de práticas, tanto no meio escolar como fora dele, no cotidiano das vivências na metade sul do planeta.

Referência: CAMPOS, M. D. Por que SULear? Marcas do Norte sobre o Sul, da escola à geopolítica. Ano 2, n. 2, set. 2019, Edição Especial Dossiê SULear. 2019.

Refere-se à atração sexual ou afetiva que a pessoa sente por outra, abrangendo o gênero por quem sente atração e também a frequência ou modo.
Referência: Orientando – Lista de Orientações

O país que é o destino final desejado pela pessoa solicitante de refúgio, refugiada ou migrante.
Referência: UNHCR – Master Glossary
O país de onde vem uma pessoa requerente de asilo, refugiada ou migrante, e do qual possui nacionalidade.
Referência: UNHCR – Master Glossary
O país em que uma pessoa geralmente reside. O termo é especificamente relevante para pessoas apátridas, usado para definir o país de origem de uma pessoa apátrida. Por vezes utiliza-se “país de residência habitual”.
Referência: UNHCR – Master Glossary

7. Processos migratórios​

Pessoa que sente atração por pessoas, independentemente de seu gênero.
Conferir: orientação sexual/afetiva

Conjunto de padrões comportamentais e relacionais (falas e ações) social e historicamente atribuídos à feminilidade ou à masculinidade.

Passar por, referindo-se a como uma pessoa é percebida socialmente. É a capacidade de uma pessoa ser considerada como pertencente a um determinado grupo, podendo resultar em maior aceitação social. Essa característica influencia o grau de preconceito e violência que uma pessoa trans pode vir a enfrentar.

Conferir: transexual/transgênero/trans; travesti

Estrutura social que organiza sistemas sociopolíticos segundo os quais lugares sociais e relações interpessoais diversas são hierarquizadas, estabelecendo regras de comportamento e de pensamento para manutenção dos espaços de poder, tomando por base a supremacia masculina (sobretudo a branca, rica, cisgênere e heterossexual).

Referência: Delphy, Christine. Patriarcado (teorias do). pp. 173-178. Em: Hirata, Helena; Laborie, Françoise; Le Doaré, Hélène; Senotier, Danièle. (orgs) Dicionário crítico do feminismo. São Paulo: Editora Unesp, 2009.

Federici, Silvia. Calibã e a Bruxa: Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Editora Elefante, 2017.

Conferir: mendigo
Quando o gênero é uma consideração relevante na determinação do status de pessoa refugiada. Normalmente, a perseguição relacionada ao gênero abrange, mas não está limitada a: atos de violência sexual, violência familiar/doméstica, planejamento familiar coagido, mutilação genital feminina e outras práticas tradicionais prejudiciais, punição por transgressão de costumes sociais e discriminação em razão da orientação sexual ou identidade de gênero de alguém.
Referência: UNHCR – Master Glossary
Esse termo relaciona o peso ou algo “pesado” a uma característica negativa. Algumas sugestões para substituir o termo: difícil, complicado, tenso.¨
Referência: AzMina – Dicionário Antigordofóbico
Obesidade é uma condição na qual a pessoa com IMC (Índice de Massa Corporal) acima de 30 se encontra propensa ao desenvolvimento de outras doenças. Além de sabermos que a tabela do IMC já está mais que ultrapassada, mesmo que obesidade fosse uma doença em si, ninguém é chamado pela doença que tem. Fazer isso, chamar uma pessoa gorda de obesa, é como colocar um alvo de “morbidade ambulante” em suas costas e, de forma reducionista, a impedir de exercer plenamente sua identidade e subjetividades.
Referência: AzMina – Dicionário Antigordofóbico
Terminologia utilizada por pessoas em situação de rua e movimentos sociais que trabalham com esta população para designar pessoas que não são ou têm histórico de situação de rua.
As diferenças funcionais físicas, sensoriais, intelectuais ou comportamentais fazem parte da diversidade humana. São consideradas pessoas com deficiência aquelas cuja interação das singularidades funcionais com as barreiras existentes na sociedade pode acarretar em dificuldades na participação social e no exercício pleno de sua cidadania. A intersecção da deficiência com outros marcadores sociais, como raça, gênero e classe, potencializa processos de opressão.
Conferir: interseccionalidade
Referência: GESSER, Marivete; NUERNBERG, Adriano Henrique; FILGUEIRAS TONELI, Maria Juracy. A contribuição do modelo social da deficiência à psicologia social. Psicologia & Sociedade, vol. 24, núm. 3, septiembre-diciembre, 2012, pp. 557-566.

As ações afirmativas são políticas públicas focalizadas que buscam minorar a desigualdade política, social e econômica entre grupos de uma sociedade. Esse tipo de ação faz-se necessária quando a assimetria de oportunidades entre grupos sociais deriva de suas características culturais, fenotípicas, biológicas ou de injustiças históricas, comuns em sociedades que sofreram processos de colonização escravocrata, segregação racial, guerras civis. Ações afirmativas também são fundamentais em sociedades multiculturais ou com intensos fluxos migratórios. A premissa básica das ações afirmativas é promover igualdade de acesso a oportunidades.
Termo capacitista. Historicamente utilizado para se referir a pessoas com deficiência, este termo direciona ao errôneo entendimento de que a deficiência é algo externo à pessoa, algo que ela pode portar ou deixar de portar.
Conferir: pessoa com deficiência
Vantagem concedida a uma pessoa ou grupo, geralmente imperceptível a não ser quando há comparação dessa pessoa ou grupo com outro, em situação de vulnerabilidade ou subalternização. Os privilégios deixam explícitas as desigualdades sociais, podendo se referir a privilégio branco, privilégio masculino, privilégio capacitista, entre outros.
Conferir: violência estrutural
Palavra em inglês que significa “estranho”. Inicialmente usada de forma ofensiva para pessoas homossexuais, foi apropriada pelo movimento e seu uso se expandiu para se referir a dissidências sexuais e de gênero em geral. Pode também se referir à Teoria Queer, que entende orientação sexual e identidade de gênero como construções sociais e performances.

Quilombolas são povos de regiões remanescentes de quilombos, que eram as comunidades formadas por escravos fugitivos na época da escravização no Brasil.
Racismo é a denominação da discriminação e do preconceito (direto ou indireto) contra indivíduos ou grupos por causa de sua etnia ou cor. É importante ressaltar que o preconceito é uma forma de conceito ou juízo formulado sem qualquer conhecimento prévio do assunto tratado, enquanto a discriminação é o ato de separar, excluir ou diferenciar pessoas ou objetos.

Referência: ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo Estrutural. São Paulo: Ed. Jandaíra – Coleção Feminismo Plurais (Selo Sueli Carneiro), 2020.

Refere-se à injustiça vivenciada por populações periferizadas e/ou minorias étnicas como consequência desigual da degradação ambiental, envolvendo as relações ecológicas desiguais entre o Norte e o Sul global, a inacessibilidade a recursos naturais, a exposição à poluição, desastres ambientais e a rejeitos dos mais variados tipos, incluindo tóxicos, ausência de saneamento básico, entre outros.
Referência: FERNANDES, Fernanda. O que é racismo ambiental e por que falar disso na escola. Multirio. 2021. Disponível em https://bit.ly/3OS1rQL. Acesso em 07 mar. 2023.

Racismo estrutural é um conjunto de práticas discriminatórias, institucionais, históricas e culturais dentro de uma sociedade que frequentemente privilegia algumas raças em detrimento de outras. O termo é usado para reforçar o fato de que há sociedades estruturadas com base no racismo, que favorecem pessoas brancas e desfavorecem negros e indígenas. Falar de racismo estrutural é lembrar as questões centrais que mantêm esse processo longo de desigualdade entre brancos e não brancos que se desdobram no genocídio de pessoas negras e indígenas, no encarceramento em massa, na pobreza e na violência contra mulheres. Portanto, racismo estrutural é o conjunto de práticas, hábitos, situações e falas embutido em nossos costumes e que promove, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial.

Referência: ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo Estrutural. São Paulo: Ed. Jandaíra – Coleção Feminismo Plurais (Selo Sueli Carneiro), 2020.

O racismo institucional é a manifestação de preconceito por parte de instituições públicas ou privadas, do Estado e das leis que, de forma indireta, promovem a exclusão ou o preconceito racial. Podemos tomar como exemplo as formas de abordagem de policiais contra negros, que tendem a ser mais agressivas. Isso pode ser observado no cotidiano brasileiro.

Referência: ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo Estrutural. São Paulo: Ed. Jandaíra – Coleção Feminismo Plurais (Selo Sueli Carneiro), 2020.

É o tipo de racismo camuflado de “humor”, por meio de falas ofensivas que são disfarçadas de piadas ou brincadeiras. Essas falas expressam desprezo, condescendência ou ódio racista em seu conteúdo, mas acabam tendo uma aceitação social por aparecerem no formato de “brincadeira”, colocando a(s) pessoa(s) vitimada(s) sob maior pressão social para aceitar tal violência.
Referência: MOREIRA, Adilson. Racismo recreativo. São Paulo: Pólen, 2019.

Movimento de homens que dissemina a misoginia por meio de discursos e práticas de ódio contra mulheres e pessoas com corpos lidos como femininos.
Conferir: misoginia

Redução de danos (RD) é um conjunto de princípios, políticas, programas e práticas voltados à prevenção de consequências adversas, sociais e de saúde advindas do uso de substâncias psicoativas lícitas ou ilícitas. A lógica da RD, muito além de apenas reduzir os danos, foca também a maximização dos ganhos para os sujeitos. A redução de danos se afirma como uma postura ética de tolerância e respeito à diversidade, a qual compreende que o direito à saúde e ao cuidado deve ser garantido aos sujeitos, independente de conseguirem ou quererem interromper o uso de substâncias psicoativas.
São pessoas que estão fora de seu país de origem devido a fundados temores de perseguição relacionados a questões de raça, religião, nacionalidade, opinião política ou pertencimento a um determinado grupo social, como também devido à grave e generalizada violação de direitos humanos e conflitos armados.
Referência: HELP UNHCR
Qualquer processo ou programa em que as autoridades de um país permitem a uma pessoa não nacional em situação irregular obter um status legal no país.
Referência: Glossário UNHCR
Em tradução livre da língua inglesa: vingança pornô.

O conceito de Sankofa (Sanko = voltar; fa = buscar, trazer) origina-se de um provérbio tradicional entre os povos de língua Akan da África Ocidental, em Gana, Togo e Costa do Marfim. Em Akan, “se wo were fi na wosan kofa a yenki” pode ser traduzido por “não é tabu voltar atrás e buscar o que esqueceu”.
Distinção e segregação ficcional do mundo entre o que é considerado feminino e o que é considerado masculino, atribuindo diferentes valores, atividades e padrões comportamentais e relacionais a homens ou a mulheres.

Em tradução livre da língua inglesa: “tachar de prostituta/vadia”.
Conferir: pintar a mina de puta

Conferir: coitada(o/e); condescendência
São pessoas que solicitam às autoridades competentes o reconhecimento do status de pessoa refugiada, mas que ainda não tiveram seus pedidos avaliados definitivamente pelos sistemas nacionais de proteção e refúgio.
Referência: HELP UNHCR
Conjunto de falas, gestos, ações e outras práticas sociais de mulheres que expressam apoio a outras mulheres.
Em tradução livre da língua inglesa: furtivo. Prática de violência sexual que consiste na retirada do preservativo sem o consentimento e sem o conhecimento de sue parceire. É um crime sexual, descrito no art. 215 do Código Penal.

Em tradução livre da língua inglesa: obstrução.
Conferir: muro de pedra

São consideradas substâncias psicoativas aquelas que possuem desdobramento no funcionamento psíquico e emocional. Utiliza-se o acréscimo dos termos “lícita” ou “ilícita” quando a substância é permitida ou proibida, respectivamente.
Sulear problematiza e contrapõe o caráter ideológico do termo nortear, dando visibilidade à ótica do sul como uma forma de contrariar a lógica eurocêntrica, nos desvinculando ou nos desarraigando do norte como referência universal. O que também significa incorporar em todas as nossas reflexões as ‘epistemologias do Sul’. (CAMPOS, 2019, p. 14)

Referência: CAMPOS, M. D. Por que SULear? Marcas do Norte sobre o Sul, da escola à geopolítica. Ano 2, n. 2, set. 2019, Edição Especial Dossiê SULear. 2019.

Termo capacitista. Historicamente utilizado para se referir a pessoas surdas, este termo parte de uma premissa equivocada de que a surdez implica impossibilidade de fala. O melhor termo para se dirigir a esta população é “pessoa surda” ou “surdo” – que é utilizado afirmativamente no posicionamento de defesa de direitos desta população. Utilizar estes termos de forma pejorativa ou questionar se uma pessoa é surda com intuito de ofendê-la são posicionamentos capacitistas que contribuem para a exclusão social desta população.
Conferir: capacitismo
Termo psicofóbico utilizado coloquialmente para se referir a um comportamento inesperado, impulsivo, desproporcional ou agressivo. Este termo associa caráter negativo a estados psíquicos relacionados a alguns quadros de transtorno mental, colaborando para a exclusão social desta população.
Conferir: transtorno mental
Os territórios tradicionais ou os terreiros nos ensinam a não separabilidade entre a dimensão do sagrado e as outras dimensões da vida da pessoa e da comunidade. São espaços de mediação entre o material e outras manifestações de vida, entre diferentes indivíduos e diferentes naturezas, entre todos e o cosmo (CARTILHA DOS POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS DE MATRIZ AFRICANA, 2016, p. 12).

Referência: Ministério da Justiça e Cidadania Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Secretaria de Políticas para Comunidades Tradicionais. Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz. 2016.

As relações que esses grupos estabelecem com as terras tradicionalmente ocupadas e seus recursos naturais fazem com que esses lugares sejam mais do que terras, ou simples bens econômicos. A noção do território mantêm uma relação da memória do grupo com o espaço; nele estão enterrados os ancestrais e encontram-se os sítios sagrados.
Referência: Cartilha Povos Tradicionais
O recrutamento, transporte, transferência, abrigo ou recebimento de pessoas por meio do tratamento ou uso da força ou outras formas de coerção, rapto, fraude, engano, abuso de poder ou de posição de vulnerabilidade ou de pagamentos ou benefícios feitos ou recebidos para obter o consentimento de uma pessoa que tenha controle sobre outra pessoa para fins de exploração. Tal exploração inclui a prostituição de terceiros ou outras formas de exploração sexual, trabalho ou serviços forçados, escravidão ou práticas similares à escravidão, servidão ou remoção de órgãos.
Referência: UNHCR – Master Glossary
Pessoa que não se identifica com o gênero que foi arbitrariamente atribuído ao seu corpo pelo saber-poder médico quando nasceu. Essa atribuição de gênero costuma ser feita levando em consideração apenas algumas características físicas aparentes. Ocorre então que, com o passar do tempo, a pessoa pode se identificar ou não com o sexo que foi anteriormente atribuído a ela. Quando a pessoa se sente em conformidade com esse gênero, ela é uma pessoa cisgênero, cissexual ou simplesmente cis. Caso contrário, trata-se de uma pessoa transgênero, transexual ou trans.
Conferir: identidade de gênero

Termo que abrange todas as identidades transfemininas, caracterizadas pela não identificação da pessoa com o gênero masculino que lhe foi imposto no nascimento. São identidades transfemininas: mulher trans, transfeminine não binárie, entre outras.

Conferir: transfeminilidades

Conferir: transfeminilidades

Toda ação ou comportamento de preconceito contra pessoas trans, envolvendo rejeição, medo, intolerância, estigma, discriminação, inferiorização, esteriotipia, ódio, depreciação e afins, de modo a negar a legitimidade das identidades trans, suas existências e seus acessos a direitos.

Conferir: transmasculinidades

Conferir: transmasculinidades

Termo que abrange todas as identidades transmasculinas, caracterizadas pela não identificação da pessoa com o gênero feminino que lhe foi imposto no nascimento. São identidades transmasculinas: homem trans, transhomem, boyceta, transmasculine não binárie, entre outras.

Conferir: transmasculinidades

Transtorno mentais compreendem alterações no sistema psíquico que podem acarretar em implicações emocionais e/ou comportamentais. Não deve ser utilizado o termo “doença” para estes quadros, uma vez que, em sua complexidade, não possuem causa específica reconhecida. As pessoas com transtornos mentais possuem direito de acessar o melhor tratamento, pelo meio menos invasivo possível, e a serem tratadas com humanidade e protegidas contra qualquer forma de abuso.
Termo brasileiro e decolonial cunhado por Erika Hilton e Indianare Siqueira para abarcar todas as identidades trans.
Conferir: transexual/transgênero/trans

Termo pejorativo que marginaliza e violenta travestis.

Identidade de gênero não cis, latino-americana, feminina ou não binária, sendo um termo que carrega um histórico de resistência e luta política.
Conferir: identidade de gênero

Pessoas que não permanecem na mesma cidade. Normalmente têm como área de circulação as cidades de uma região, mas podem abranger áreas interestaduais e/ou internacionais. Percorrem estas distâncias normalmente a pé.
O termo muitas vezes se conecta com o conceito de “crianças de rua”, entendendo que elas têm ligação com furtos e delitos.
Conferir: criança de rua
Prática de violência psicológica, moral e sexual na qual uma pessoa expõe fotos e vídeos íntimos de sue(s) (ex)-parceires.
Conferir: revenge porn

A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002) define violência como uso intencional de força ou poder, real ou em ameaça, contra si mesme, contra outrem ou contra um grupo ou comunidade, que resulte ou tenha grande probabilidade de resultar em lesão, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento, privação e/ou morte.
Referência: Organização Mundial da Saúde. Relatório Mundial sobre violência e saúde. Geneva, World Health Organization, 2002. Disponível em <https://opas.org.br/wp-content/uploads/2015/09/relatorio-mundial-violencia-saude-1.pdf> . Acesso em 07 fev. 2023.

É a violência perpetuada pelas estruturas sociais, instituições e organizações, resultando em desigualdade a diversos grupos sociais. Envolve forças culturais, sociais, históricas, políticas, econômicas, entre outras, como, por exemplo, o racismo, o sexismo, o capacitismo e afins.
Conferir: violência; racismo estrutural
É o tipo de violência que ofende a integridade ou saúde corporal, perpetrada pelo uso da força física da pessoa autora da violência.
Conferir também: violência
Pode ser caracterizada como alguma conduta que se traduz em difamação e calúnia. Calúnia é quando a pessoa autora da agressão afirma falsamente que a outra pessoa praticou um ato que ela não cometeu. Por sua vez, difamação é quando a pessoa autora da agressão atribui à outra pessoa fatos que maculem a sua reputação, ou injúria que ofenda sua dignidade.
É a violência que gera danos econômicos, financeiros ou patrimoniais, envolvendo dano, retenção, subtração, destruição de objetos pertencentes à pessoa vitimada, documentos, bens, valores e direitos ou recursos econômicos.
Conferir: violência
É o tipo de violência que causa danos emocionais, psicológicos e morais, afetando a autoestima, a identidade ou o desenvolvimento da pessoa. Pode envolver ameaças, xingamentos, constrangimentos, injúria, calúnia, difamação, chantagens, proibições, entre outros.
Conferir: violência
É o tipo de violência que está relacionada com ter, presenciar ou participar de algum modo de interações sexuais, podendo também envolver a coerção a manter ou a terminar uma gestação, limitando ou impedindo o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos.
Conferir: violência
Qualquer ato prejudicial que seja perpetrado contra a vontade de uma pessoa e se baseia no seu gênero. Inclui atos que infligem dano ou sofrimento físico, sexual ou mental, ameaças de tais atos, coerção e negação de recursos, oportunidades ou serviços, casamento forçado e outras privações de liberdade.
Referência: IOM – Glossary on Migration

Conjunto dos atributos e características físicas e sexuais, social e historicamente atribuídos aos homens, denotando vigor, força e/ou disposição física.
Conferir: masculinidade
Referência: Delphy, Christine. Patriarcado (teorias do). pp. 173-178. Em: Hirata, Helena; Laborie, Françoise; Le Doaré, Hélène; Senotier, Danièle. (orgs) Dicionário crítico do feminismo. São Paulo: Editora Unesp, 2009.

Termo que essencializa o fenômeno da violência, entendendo a pessoa vitimada como passiva. Utilizar: pessoa/mulher/criança, etc. vitimada.
Conferir: violência; autor(a/e) de violência
Atitudes, preconceitos e comportamentos que rejeitam, excluem e muitas vezes difamam as pessoas, com base na percepção de que elas são estranhas ou estrangeiras à comunidade, à sociedade ou à identidade nacional.
Referência: UNHCR – Master Glossary

Expressões

A expressão associa o “preto” a uma situação desconfortável, desagradável, difícil e até perigosa. Em vez disso, pode-se dizer “a coisa está difícil”.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Apesar de que praticantes de religiões de matrizes africanas utilizam a expressão para se referir à sexta-feira, na qual se usa branco em referência a Oxalá, o uso da palavra “branco” aqui se refere como algo bom. Essa expressão é utilizada para remeter a um dia de muito trabalho e compromissos, mas traz uma percepção de que só pessoas brancas trabalham duro. Isso porque, na época da escravidão, o trabalho dos escravos não era entendido como um trabalho de fato e isso continua perpetuado até hoje com expressões como essa. Em vez disso, pode-se dizer dia de trabalhar.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
É uma expressão racista para se referir a mulheres grávidas e seus filhos. Quando a criança nasce negra chama-se de suja, quando nasce branca chama-se de limpa.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Traz referência aos escravizados que não sabiam falar a língua portuguesa. Em vez disso, pode-se dizer ignorante.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Expressão normalmente usada para se referir pejorativamente ao cabelo afro, juntamente com outras como fios “rebeldes”, “cabelo duro”, “carapinha”, “mafuá”, “piaçava” e outros tantos que derivados depreciam o cabelo afro. Conforme o Instituto Geledés, por vários séculos essas frases causaram a negação do próprio corpo e a baixa autoestima entre as mulheres negras sem o cabelo liso. Pode-se usar apenas “seu cabelo é cacheado” ou “cabelo afro/crespo” e retirar o tom pejorativo da fala, porque ter um cabelo afro não é sinônimo de cabelo ruim.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Termo que designa a cor de lápis ou giz de cera bege/rosado, associado à pele de pessoas brancas, e que desconsidera a pluralidade de tons de pele de todas as pessoas, principalmente em um país como o Brasil em que a maioria da população se declara parda e preta.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Era a designação do filho de escravizados. É um termo extremamente pejorativo e discriminador do indivíduo negro.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
“Elogio” proferido por pessoas brancas, mas que carrega a hipersexualização dos corpos negros, estigmatizados no período colonial quando os “senhores” violentavam sexualmente mulheres negras e as encaravam como objetos.
Alternativa? Não hipersexualizar corpos negros.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
A expressão “dar com pau”, usada hoje em dia para expressar “abundância” ou “grande quantidade”, também remete à violência da escravidão. Expressão originada nos navios negreiros. Muitos dos capturados preferiam morrer a serem escravizados e faziam greve de fome na travessia entre o continente africano e o Brasil. Para obrigá-los a se alimentar, um “pau de comer” foi criado para jogar angu, sopa e outras comidas pela boca. Em vez disso, pode-se dizer muito ou bastante.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
No dicionário Aurélio, denegrir significa “fazer ficar mais negro”, mas no cotidiano é usado como sinônimo de difamar, associando o “tornar-se negro” como algo ofensivo, “manchando” uma reputação antes “limpa”. Aqui pode trocar essa expressão facilmente usando somente “difamar”.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Apesar de não ter uma etimologia racista, palavras desse cunho levam a uma associação entre ser claro com elementos positivos, contribuindo com a simbologia do racismo. Preferir: explicar, elucidar, esmiuçar, certamente, com certeza, e afins.
Usar a palavra “escravo” sugere que seja uma característica e condição inerente à pessoa, sendo que foi algo imposto a diferentes povos que foram sequestrados, torturados e aniquilados pela escravidão.
Alternativa: escravismo, escravização, escravizado(a) em contraposição à noção de escravidão e escravo. Isso porque a escravização é um sistema de dominação que transforma aquele considerado diferente e inferior em escravizado; não se nasce escravo, torna-se por meio de opressão. Trata-se de um processo não natural.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Estampa parece ser, no mundo da moda, apenas aquela criada seguindo um modelo ou padrão. Quando o desenho vem da África, segundo essa percepção, torna-se étnica.
Sugestão? Estampa africana.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
As culturas dos povos originários não são fantasia, tampouco seu uso é uma homenagem. “Fantasiar-se de índio” é reforçar estereótipos coloniais, generalizando a ideia de que existe apenas um “índio” selvagem e folclórico preso no passado. As “fantasias de índia” propagam de forma violenta a fetichização e hiperssexualização dos corpos das mulheres indígenas, contribuindo diretamente para o aumento da violência e do abuso sexual contra as mulheres indígenas, fator que se soma à cultura do estupro.
Alternativa: não utilizar.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
A origem da expressão popular “feito nas coxas” deu-se na época da escravidão brasileira, quando as telhas eram feitas de argila e moldadas nas coxas de escravos. Como o tamanho e o formato variava de pessoa para pessoa, a expressão remete a algo malfeito.
Alternativa: malfeito.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Expressão psicofóbica e capacitista que é utilizada em frases como: “eu fingi demência” ou “fulano se fingiu de demente”. Refere-se de modo pejorativo ao quadro clínico de demência com o intuito de ofender alguém em uma situação na qual fingiu não compreender o que estava acontecendo.
Do verbo “judiar”, significa tratar alguém como os judeus foram tratados. É usado como sinônimo de fazer sofrer, atormentar, maltratar ou ainda com tom de pena. A palavra possui uma carga negativa e preconceituosa muito grande.
Substitua por: sofrimento ou maltrato.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Expressão capacitista utilizada em frases como: “ele deu uma de João sem braço”. Empregada coloquialmente, esta expressão utiliza uma característica apresentada por algumas pessoas com deficiência para expressar um comportamento manipulador. A expressão surge em um período histórico no qual algumas pessoas, por apelo caritativo, fingiam ter deficiência. Desta maneira, utilizá-la reforça um modelo caritativo de deficiência, pautado na premissa da incapacidade e na exclusão social.

4. Estudos da deficiência

O termo é pejorativo em relação aos povos originários. Utilizado para descrever um passeio, atividade ou viagem que não deu muito certo, algo trabalhoso, difícil ou até mesmo chato.
Alternativa: atividade ruim, viagem chata.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Os invasores europeus divulgaram a ideia de que os indígenas não gostavam de trabalhar em razão da sua recusa em serem escravizados, bem como os povos africanos, que sempre resistiram à escravização. Dizer que indígenas não gostam de trabalhar é reforçar a ideia de que apenas as pessoas brancas trabalham.
Alternativa: não utilizar.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Concepção equivocada sobre os povos originários compreendendo-os como parados no tempo, sem mudanças e transformações históricas. Os povos indígenas, como qualquer outra sociedade completa e complexa, mudam, vivem os processos históricos e compõem a história. Não são suas vítimas ou espectadores.

Alternativa: não utilizar.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Mais uma expressão que associa o negro ao comportamento negativo. Inveja é algo ruim, mas se ela for branca é suavizada.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Expressão psicofóbica que é utilizada em frases como: “fulana parece uma louca da enchente”.
Expressão originada de uma prática de resistência das pessoas escravizadas. Durante o período da exploração do ouro, os escravizados tentavam esconder algumas pepitas debaixo da crina do animal, ou esfregavam ouro em pó em sua pele, para poder comprar a sua liberdade. E, ao saírem das minas, iam lavar o animal com o objetivo de recuperar o ouro escondido.
Alternativa: querer se aproveitar/se dar bem.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Prática de violência psicológica e física na qual um homem ocupa desproporcional e desnecessariamente o espaço, cerceando e constrangendo fisicamente uma ou mais mulheres próximas. Comumente praticada em transportes públicos.
Conferir: manspreading
Prática de violência psicológica na qual um homem interrompe bruscamente a fala de uma ou mais mulheres para apresentar sua opinião ou versão de algum fato ou simplesmente para iniciar outro tópico na “conversação”.
Conferir: manterrupting
Palavra utilizada de forma racista para nomear as oferendas aos orixás nas religiões de matrizes africanas, associando-se a algo ruim. A macumba, em verdade, é um instrumento de percussão de origem africana semelhante ao instrumento reco-reco.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Expressões que discriminam praticantes de religiões de matriz africana. O termo “macumbeiro” se refere à pessoa que toca um instrumento musical chamado macumba; portanto, a macumba (instrumento musical) existe para executar música.
Alternativa: não utilizar.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Racistas acreditam que chamar alguém de negro é ofensivo. Falar de outra forma, como “morena” ou “mulata”, embranquecendo a pessoa, “amenizaria” o “incômodo”.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Na cultura espanhola, esse termo se referia ao filhote macho do cruzamento de cavalo com jumenta ou de jumento com égua e hoje é usado com a ideia de sedução, sensualidade ligada à mulher negra. Um derivado ainda mais pejorativo é “mulata tipo exportação”, que pulveriza a percepção da mulher negra e seu corpo como uma mercadoria. Esse é mais um caso de expressão a ser retirada do cotidiano.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Essa expressão coloca a mulher negra como “qualquer uma” ou “de todo mundo”, ou seja, a frase indica que a pessoa não é “alguém que faz de tudo”. Além de ser uma frase racista, também é machista.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Expressão capacitista utilizada em frases como: “não tenho braços para fazer essa atividade”. Empregada coloquialmente, esta expressão utiliza uma característica apresentada por algumas pessoas com deficiência para expressar falta de capacidade. Sabemos que a ausência ou não de membros não implica o quanto uma pessoa pode executar suas tarefas e responsabilidades. Utilizar expressões como esta contribui para a exclusão social de pessoas com deficiência.
A mesma lógica do clareamento se aplica à “beleza exótica”, tratando o que está fora da estética branca e europeia como incomum.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Termo racista para referir-se ao mau cheiro, forte odor das pessoas afrodescendentes. No entanto, Inhaca é uma Ilha de Maputo, em Moçambique, onde vivem até hoje os povos Nhacas, um povo Ban.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Prática de violência psicológica caracterizada pelo conjunto de ações que objetivam destruir ou enfraquecer a confiança da pessoa que foi vitimada, levando-a a duvidar de sua capacidade de discernimento. Manipulação emocional. Tortura e/ou assédio psicológico.
Conferir: gaslighting
Prática de violência psicológica e moral praticada contra mulheres que violam os códigos de conduta socialmente aceitos como “moralmente adequados” por meio de suas falas, ações, gestos, relações afetivo-sexuais e/ou roupas. Exposição, constrangimento, humilhação moral. 
Conferir: slut-shaming
É uma expressão preconceituosa de conotação negativa em relação aos povos originários, reforçando o seu apagamento cultural, já que são diversos e plurais.
Alternativa: não utilizar.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Tentativa de elogiar uma pessoa preta fazendo referência à dignidade dela como algo pertencente apenas às pessoas brancas.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
A expressão tem como prerrogativa que pessoas em situação de rua não se esforçaram ou se esforçam, e por isto estão nesta situação.
Esse é o título do samba que satirizava o ensino de história do brasil nas escolas do país nos tempos da ditadura, composto por Sérgio Porto (ele assinava com o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta). No entanto, a expressão debochada é comumente usada para se remeter a uma confusão ou trapalhada, reafirmando um estereótipo e a discriminação dos negros.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
É uma frase usada para remeter a um serviço mal feito, ou realizado de maneira errada, mas associa isso ao trabalho feito pelos negros, colocando a palavra “preto” como a representação de algo ruim. Pode-se trocar por “serviço mal feito”.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
A expressão se refere à estratégia de resistência realizada pelas pessoas escravizadas para se alimentarem. Quando o prato era composto de angu de fubá, o que acontecia com frequência, a mulher escravizada que lhes servia por vezes conseguia esconder um pedaço de carne ou alguns torresmos embaixo do angu.
Alternativa: aí tem coisa!
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Frase geralmente utilizada como forma de defesa quando se aponta atitudes ou falas racistas. Em vez disto, reavalie seu comportamento.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Uma forma racista de se referir a uma pessoa com origem negra, já que traz de volta o período da escravidão em que o local permitido às mulheres negras era exclusivamente na cozinha da casa grande. É o tipo de expressão que precisa ser removida por completo do vocabulário!
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Tribo é um termo evolucionista que compreende que toda a humanidade seguiria apenas um caminho linear de “desenvolvimento”, tendo como fim a civilização ocidental e europeia. Todos os outros povos estariam no estágio da “selvageria” ou “barbárie”. O evolucionismo é uma ideologia racista.
Alternativa: você pertence a qual povo?/você mora em qual aldeia/terra ou território indígena?
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
A versão mais aceita do surgimento desse ditado é do século XVIII, quando um capitão de regimento considerado “mulato” teve uma discussão com um de seus comandados, também entendido como “mulato” e fez queixa a seu superior, um oficial português branco. O capitão reivindicava uma punição ao soldado que o desrespeitara. Seu superior português respondeu com a seguinte frase “vocês que são pardos que se entendam”. O oficial recorreu ao vice-rei do Brasil na época, dom Luís de Vasconcelos (1742-1807), que mandou prender o oficial português. Sendo essa uma das primeiras punições contra o racismo no Brasil. Ao longo do tempo a expressão se transformou no que é usada hoje “eles que são brancos que se entendam” (ROSSONI, 2013).
Alternativa: não utilizar.
Referência: Cartilha: O racismo presente nas palavras e expressões no português brasileiro
Expressão psicofóbica e capacitista que é utilizada em frases como: “fulano é retardado” ou “deixa de ser retardado”. Refere-se de modo pejorativo a algum tipo de deficiência intelectual com o intuito de ofender uma pessoa ou desqualificar sua inteligência.
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