Em alusão aos 60 anos da regulamentação da Psicologia no Brasil, celebrados em 27 de agosto de 2022, o Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) vem promovendo uma série de eventos que reforçam, em síntese, a defesa intransigente dos Direitos Humanos.
Na última sexta-feira (19), a mesa-redonda “Construir memórias e sonhar futuros” demonstrou como a ausência de liberdades democráticas e de igualdade de direitos afeta indivíduos e o fazer da Psicologia. Ao dar início à reflexão, o Psicólogo Robenilson Moura Barreto (CRP-23/1663), representante do Conselho Federal de Psicologia (CFP) discorreu sobre o papel da profissão contra o racismo, defendendo o resgate da ancestralidade como instrumento de resistência e afirmação das minorias.
O Psicólogo e conselheiro do CRP-PR Ramon Andrade Ferreira (CRP-08/28114), membro da Comissão Étnico-racial (CER), participou da mesa com uma análise crítica da formação em Psicologia e também da prática profissional. “O racismo cometido por profissional da Psicologia é tão sério quanto qualquer outra falta ética”, afirmou. Também compôs a mesa o Psicólogo Jefferson Olivatto da Silva (CRP-08/13918), que fez importantes destaques sobre a recente mudança de status da Comissão Étnico-Racial, que se tornou permanente.
O evento foi encerrado com a inauguração da placa que celebra essa conquista recente da Psicologia. A solenidade contou com a presença de integrantes da CER, na sede do CRP-PR, em Curitiba, e foi conduzida pelas Psicólogas Rosiane Martins de Souza (CRP-08/14328) e Natália Cesar de Brito (CRP-08/17325). “Em todo esse processo, percebi que os primeiros passos são importantes: os nossos vêm de muito longe, não foram fáceis, e nos trouxeram até aqui”, afirmou Rosiane, enquanto relembrava as mobilizações que resultaram na permanência da CER.
Negro Não Nego
No sábado (20), a arte foi o instrumento utilizado para promover as reflexões sobre o racismo em nossa sociedade. A peça teatral Negro Não Nego trouxe as violências cotidianas a que pessoas negras estão submetidas para o palco, de forma visceral e potente. Ao som de tambores, cantos, gritos de protesto e outros recursos artísticos, o público podia sentir, de uma certa forma, a dor sentida pela pele negra. Dados como o de que a cada 23 segundos um(a/e) jovem negra(o/e) perde a vida de forma violenta – a despeito de estarem apenas indo e vindo em suas corriqueiras atividades – e violações banalizadas como o assédio a mulheres negras vistas apenas como corpos sexualizados, ganham vida, sentimento. Impossível assistir sem sentir.
Após a apresentação, Psicólogas(os/es) presentes passaram a uma roda de conversa para elaborar tudo aquilo que tinham assistido, e de que forma poderiam aplicar os novos – ou não tão novos, no caso de pessoas negras da plateia que se emocionaram ao se identificar com aquela realidade apresentada – conhecimentos à prática psicológica, que deve estar a cada dia mais comprometida com o antirracismo.
Audiência pública na Assembleia Legislativa do Paraná
Já na segunda-feira (22), uma audiência pública realizada na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) se propôs, além de celebrar a regulamentação da Psicologia no país, a marcar a defesa intransigente de direitos humanos. A Psicóloga Renata Campos Mendonça (CRP-08/9371), presidenta do CRP-PR, fez uma retrospectiva das principais contribuições da profissão à sociedade.
Em seu discurso, a Psicóloga afirmou que “as transformações políticas, econômicas e sociais dos últimos 60 anos no Brasil levaram a Psicologia a atuar com ênfase em prol das pessoas e dos grupos invisibilizados”. Ela complementou dizendo que, para profissionais da Psicologia, a defesa intransigente de Direitos Humanos não é uma escolha, uma vez que tal faculdade, caso existisse, poderia agravar os danos que o trabalho da categoria visa combater.
A participação do CRP-PR no evento foi compartilhada, ainda, com entidades como a Associação Brasileira de Psicologia Social (Abrapso), Associação Nacional de Psicólogos Negros e Pesquisadores (Anpsinep), Federação Nacional dos Psicólogos (Fenapsi), Coletiva da Luta Antimanicomial do Paraná (CLAP), dentre outras. Na ocasião, cada representante salientou brevemente a pluralidade da Psicologia, representada no evento por diversas frentes de atuação que, juntas, promovem escuta, acolhimento e inclusão de indivíduos.
Ao tratar da população LGBTQIA+, por exemplo, a Psicóloga Marina de Pol Poniwas (CRP-08/13821), representou a Articulação Nacional de Psicólogos LGBTIA+. Em sua fala, Marina repudiou as tentativas de patologização da homossexualidade e da diversidade de expressão de gênero, dizendo que, apesar do triste histórico social, “temos muito a comemorar pelos 60 anos, com o avanço da garantia de direitos dessa população, dentro da própria Psicologia”.
No campo das políticas públicas, a representante do Conselho Regional de Serviço do Paraná (CRESS-PR), Maria Helena Carvalho Lopes, agradeceu às(aos/es) Psicólogas(os/es) pelo engajamento firmado com Assistentes Sociais, especialmente no Sistema Único de Assistência Social (SUAS). “A Psicologia tem construído sua história em conjunto com o serviço social, temos um caminhar muito parecido. É preciso lembrar que não existe profissão sem militância, por isso quero registrar minha gratidão por esse momento”, disse a profissional.
A necessidade de melhoria das condições de trabalho de Psicólogas(os/es), como o estabelecimento de piso salarial e limitação da jornada a 30 horas semanais também foram suscitadas durante a audiência, tendo em vista a tramitação dos Projetos de Lei 2079/2019 e 1214/2019, respectivamente, na Câmara dos Deputados. A abordagem foi feita pelo Sindicato dos Psicólogos do Paraná.
A presidenta do CRP-PR encerrou a participação do CRP-PR na audiência saudando as(os/es) quase 25 mil Psicólogas(os/es) no Paraná. “Saúdo, também, as(os/es) profissionais de algumas gerações atrás, que um dia, há 60 anos, abriram essa trilha para que conquistássemos tanto, conscientes de que podemos ir sempre mais longe”, finalizou.
Para conferir os eventos da última semana, acesse os links a seguir.
- Mesa-redonda Construir memórias e sonhar futuros
- Audiência pública 60 anos da regulamentação da Psicologia no Brasil
Confira também as fotos dos eventos aqui.