Direitos humanos e segurança pública estão relacionados, mas, no Brasil, não andam necessariamente juntos. As graves violações de direitos e o alto índice de homicídios registrados no país são o exemplo prático desse distanciamento que afeta, principalmente, a integridade física e a saúde mental de populações vulneráveis. Para debater o tema sob a perspectiva da Psicologia, o CRP-PR realiza, nos dias 15 e 16 de março, a Jornada de Direitos Humanos e Segurança Pública, em Foz do Iguaçu.
Parcelas sociais compostas por pessoas em situação de vulnerabilidade tais como mulheres, indígenas e jovens, além de idosas, negras, periféricas, com deficiência ou da população LGBTQIAPN+, dentre outras, são as mais atingidas pela escalada da violência no Brasil. Segundo o Atlas da Violência 2023, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apesar da redução da letalidade entre 2017 e 2019, após breve oscilação das taxas, os números voltaram a se elevar a partir de 2021.
O estudo demonstra que o cenário é alarmante. Além das mortes violentas com causas identificadas registradas, os óbitos cuja intencionalidade envolvida não é possível classificar – Morte Violenta por Causa Indeterminada (MVCI) – disputam índices com os chamados “homicídios ocultos”, que são aqueles indevidamente registrados como MVCI. Estima-se que, entre 2011 e 2021, por exemplo, o Estado foi incapaz de identificar quase 40% das mortes tratadas como MCVI. Trata-se, portanto, de mortes e, sobretudo, vidas completamente invisibilizadas.
A situação pode conduzir a um desfecho que, nas atuais condições, não apresenta o menor sinal de recuo: sem a adequada identificação e registro dos óbitos, o estabelecimento de políticas de segurança pública e pela garantia de direitos humanos torna-se cada vez mais longínquo. O Paraná é um dos estados brasileiros que lidera o ranking de valores absolutos para homicídios ocultos nos anos recentes, ocupando a sétima posição, em comparação às demais unidades federativas.
Há, além das vidas irreparavelmente já perdidas até aqui, uma preocupação primordial com aquelas que resistem. Antes da letalidade, é fato que muitas dessas pessoas, privadas do acesso a direitos fundamentais, atravessam longos trajetos de agressões diversas e sofrimento até que sejam eliminadas da convivência social, seja pela morte, negligência estatal (uma das muitas formas da violência de Estado) ou encarceramento em condições sub-humanas.
Diante de uma perspectiva que coloca a Psicologia no cerne das implicações relacionadas à saúde mental, promoção de direitos humanos e combate a opressões, é fundamental que a categoria se reúna para refletir sobre os impactos da atual conjuntura na sociedade.
Programação
Sexta-feira (15 de março)
18h – Mesa de abertura
18h30 – Apresentação artística
19h30 às 21h – Conferência de abertura com Carol Dartora – Deputada Federal
Sábado (16 de março)
8h30 – Apresentação artística
9h30 às 10h30 – Conferência com Luís Carlos Valois – Mestre e doutor em direito penal pela USP. Autor de “O direito penal da guerra às drogas”
10h30 às 11h – Coffee break
11h às 12h30 – Mesa-redonda “A prática da Psicologia na interface com a segurança pública”
- Pedro Paulo Bicalho (CRP-5/26077) – CFP (Conselho Federal de Psicologia)
- Veridiana Machado (CRP-03/4931) – ANPSINEP (Articulação Nacional de Psicólogas(os) e Pesquisadoras(es) Negras(os))
- Rafael Ribeiro (CRP-17/6594) – Comissão de Direitos Humanos CFP
- Jeizi Loici Back – MST
Mediação: Annamaria Coelho de Castilho (CRP-08/15313) – Comissão de Mulheres CRP-PR
12h30 às 14h – Intervalo de almoço e lançamento da Revista Cadernos de Psicologias (edições 4 e 5)
14h às 15h30 – Mesa-redonda “A transversalização como recurso de enfrentamento da violência de Estado”
- Jocemar Cadete – Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul)
- Nita Tuxá (CRP-03/25213) – CFP
- Marina de Pol Poniwas (CRP-08/13821) – CONANDA (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente)
- José Miguel Silva Ocanto – Comissão de Orientação em Psicologia e Migração CRP-MG
Mediação: Marcos de Jesus Oliveira (CRP-08/35382) – UNILA
15h30 às 16h – Coffee break
16h às 17h30 – Mesa-redonda “As comunidades e a Psicologia na defesa dos Direitos Humanos“
- Leo Pinho – Central de Cooperativas Unisol
- Ivani Oliveira (CRP-06/121139) – CFP
- Ronaldo Vargas Soares – Ocupação Buba
- Karollyne Nascimento – Ouvidoria-Geral da Defensoria Pública
Mediação: Paulo Cesar de Oliveira (CRP-08/17066)/Paulo Karaí Xondaro – conselheiro do CRP-PR
17h30 às 18h – Encerramento
As inscrições online estão encerradas. É possível realizar inscrições diretamente no evento mediante a existência de vagas.
Serviço
Data: 15 e 16 de março
Local: Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) – Campus de Foz do Iguaçu
Endereço: Av. Tarquínio Joslin dos Santos, 1300 – Lot. Universitário das Américas, Foz do Iguaçu – PR