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Ecoansiedade: o mal do século XXI?

Texto originalmente publicado na Revista Contato nov/dez 2020. Acesse: www.crppr.org.br/revista-contato-132

A relação do ser humano com a natureza está desequilibrada e isso vem gerando inúmeras consequências, como a perda de biodiversidade (relatório da WWF indica que hoje populações animais estão em média 68% menores que em 1970), os eventos climáticos extremos (como secas e inundações) e o aumento da temperatura global, que pode trazer efeitos que ameaçam a própria existência humana no planeta. Apesar de ser alvo de dúvidas e questionamentos por parte de alguns grupos, a ciência tem sido unânime em atestar a veracidade da crise climática.

Evitar um cenário quase apocalíptico vem sendo a missão de vida de ativistas ambientais, famosas(os) ou não. Mesmo para quem não atua na linha de frente, porém, cenas como as mostradas nas redes sociais quando o fogo tomou conta do Pantanal – e de outros biomas – podem ser catalizadoras de sentimentos como tristeza, angústia e ansiedade. A sensação de impotência e de que governantes e empresárias(os) pouco fazem para ajudar a natureza – quando não jogam contra – potencializa o sofrimento, que já tem nome na Psicologia: ecoansiedade.

Não é de hoje que esse conceito vem sendo estudado. Em 2017, a Associação Americana de Psicologia (APA) lançou o material “Mental health and our changing climate: impacts, implications, and guidance” (Saúde mental e nosso clima em mudança: impactos, implicações e direcionamento). Segundo o documento, algumas pessoas estariam sendo acometidas por uma profunda sensação de perda e frustração por perceberem que não podem fazer o suficiente para barrar as mudanças climáticas.

Com o problema climático avançando e demandando medidas urgentes em nível global, os casos de ecoansiedade tendem a se tornar cada vez mais comuns – sendo mais frequentes entre crianças e jovens, mas com impactos em outras faixas etárias também – e as(os) Psicólogas(os) devem se atentar para este problema característico de nossa época. Lidar com a ecoansiedade é possível, de um modo geral, com soluções comuns a outros tipos de ansiedade.

A própria APA traz alguns destes caminhos: construir a capacidade de resiliência (em comunidade e individualmente), fomentar o otimismo, desenvolver capacidade de autorregulação das emoções, encontrar uma fonte de sentido pessoal (como participar de um grupo comunitário) e conectar-se com outras pessoas, com o lugar e com a cultura.

Em um episódio do podcast “Copo Meio Cheio”, descrito pelas(os) autoras(es) como um “convite a olhar pro mundo com outra lente”, a ativista Fernanda Cortez e o colunista André Carvalhal entrevistaram uma especialista em Ecologia Profunda, Karina Miotto, e falaram sobre “como olhar o copo meio cheio em meio a tantas frustrações”. Entre as dicas, dar-se um tempo sem preocupações, sair um pouco das redes sociais, estar em contato com a natureza. Porque não se pode salvar o mundo sem antes cuidar de si mesmo. “Eu aprendi a ouvir a minha dor. Quando a dor não é ouvida, ela se transforma em doença, frustração, raiva, estresse, Burnout. Quando ela é ouvida ela se transforma em energia de motivação para a ação”, disse Karina, que foi jornalista ambiental e atuou reportando desde a Floresta Amazônica.

Fazer terapia também é, com toda a certeza, um caminho fundamental a que qualquer pessoa deveria ter acesso. E encontrar um(a) profissional que acolha estas questões pode fazer toda a diferença. Em entrevista à BBC do Reino Unido, a Ecopsicóloga britânica Mary Jayne Rust avaliou que as pessoas com ecoansiedade precisam conversar com alguém que também esteja ciente e por dentro das questões ambientais. Ou, podemos dizer, ao menos que estejam dispostas a entender este sofrimento e procurar formas de lidar com ele, buscando a saúde mental apesar das condições atuais.

Regeneração é possível

Por pior que pareça o atual cenário, ainda há tempo – e esperança – para seguirmos o caminho da regeneração ambiental. Estima-se que 2030 seja o ano limite para que a humanidade reduza as emissões de carbono e freie o aumento da temperatura global em um nível aceitável – abaixo de 1.5° Celsius. Pode não parecer à primeira vista, mas há muita coisa boa sendo feita neste sentido.

Desde programas extensos de reflorestamento e melhor aproveitamento do solo já desmatado para produção de alguns produtos alimentícios até a criação e popularização de veículos movidos a energia limpa, parte da humanidade está engajada em construir um mundo mais verde e saudável – importante lembrar também que instituições como o Ministério Público, no Brasil, vêm atuando fortemente para barrar iniciativas maléficas ao meio ambiente, com sucesso em diversos casos. Isso não significa, por certo, que podemos cruzar os braços, mas focar no que está sendo feito de bom nos dá forças para continuar.

Muitas(os) cientistas ou ativistas poderiam ser citadas(os) para ilustrar esta ideia, mas talvez o apresentador David Attenborough seja um dos otimistas mais influentes do momento. No documentário “David Attenborough e o nosso planeta”, disponível na Netflix, ele conta sua longa história de viagens pelo mundo natural e anuncia: “[Este filme é] A história de como fizemos disto nosso maior erro e de como, se agirmos agora, ainda podemos consertar as coisas”.

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