
Na era da linguagem de memes, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) não ficaram de fora. Frases como “Do jeito que o CAPS gosta”, “O paciente mais fraco do CAPS” ou ainda “Essa pessoa fugiu do CAPS” são utilizadas sobre imagens e vídeos e, de modo geral, passam uma mensagem carregada de preconceito contra pessoas em sofrimento psíquico. A loucura é, mais uma vez, satirizada, como já aconteceu em outros tantos momentos na história, desta vez na roupagem virtual e supostamente humorística.
Os CAPS constituem um dos mais importantes e robustos equipamentos da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), ofertando cuidado em saúde mental às pessoas em sofrimento psíquico ou em uso abusivo de álcool e outras drogas. A visibilidade que os memes trouxeram é acompanhada de um alto potencial de estigmatização do sofrimento psíquico e das pessoas que buscam o cuidado necessário. Neste sentido, conteúdos de pessoas e instituições influentes nas redes sociais que desmitificam esta aura negativa atrelada pelo meme ganham importância fundamental.
Observando com preocupação este fenômeno das redes sociais, o Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) destaca, neste mês que marca o Dia Nacional da Luta Antimanicomial (18 de maio), que o CAPS não é meme. Do que, então, o CAPS gosta? De investimentos, de equipes bem estruturadas e valorizadas, de cuidado em saúde mental… Será que podemos ressignificar este meme e conscientizar a população sobre a importância deste equipamento? São essas respostas que buscaremos ao longo das próximas semanas, junto com a categoria, na campanha “Do jeito que o CAPS gosta: isso NÃO é meme!” – clicando sobre o nome da campanha você acessa a página oficial e tem acesso a informações, download de materiais e muito mais!
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18M: a história da Luta Antimanicomial
O movimento de luta antimanicomial é celebrado nacionalmente no dia 18 de maio. Segundo o Conselho Federal de Psicologia (CFP), a data remete ao Encontro dos Trabalhadores da Saúde Mental, que foi realizado nesse mesmo dia no ano de 1987, na cidade de Bauru, em São Paulo. O psicólogo e conselheiro do CRP-PR Fábio José Orsini Lopes (CRP-08/09877) explica que essa luta é fruto de um movimento social, político e técnico, que tem raízes desde a década de 70. Sua origem está ligada à Reforma Sanitária Brasileira, que modifica a concepção de saúde da época e gera desdobramentos que resultam na criação do SUS.
Além disso, ele explica que esse momento histórico levou ao movimento da Reforma Psiquiátrica no país, que possuía como principal diretriz substituir o modelo de tratamento psiquiátrico baseado em internações em manicômios por um modelo de cuidado em liberdade, com base nos direitos humanos. A Reforma ganhou força em 2001, com a promulgação da Lei da Reforma Psiquiátrica (Lei nº 10.216/2001), também chamada de Lei Paulo Delgado, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, por meio de uma Rede de Atenção Psicossocial que inclui, por exemplo, os CAPS.
Embora não sejam o único equipamento da RAPS, os CAPS são fundamentais na luta antimanicomial porque representam essa mudança no paradigma do cuidado em saúde mental, ao substituir os hospitais psiquiátricos por um modelo de cuidado em liberdade e territorializado. Dessa forma, Fábio complementa que os CAPS promovem a manutenção dos direitos das pessoas em sofrimento psíquico, que incluem o cuidado integral e a assistência multiprofissional, sob a lógica interdisciplinar, e a garantia da sua autonomia, por meio da defesa desses direitos e da garantia de que possam ser exercidos.
A Psicologia na luta
O CRP-PR atua consistentemente na luta antimanicomial, por meio de ações como as campanhas e também a participação no controle social. Profissionais da Psicologia também podem contribuir na defesa dos direitos e das reivindicações a melhores condições de recursos físicos e humanos para a atuação nessa área. Desse modo, é fundamental, que profissionais não apenas conheçam os objetivos e o histórico dessa luta, mas também atuem e defendam a implantação de fato da reforma psiquiátrica, fazendo valer um modo de atenção e cuidado em saúde mental que realmente espelhe a lei.
O conselheiro Fábio Lopes salienta que é preciso ficar atento aos movimentos contrários à reforma psiquiátrica no Brasil, já que ainda existem instituições asilares, isolacionistas, de longa permanência e que possuem uma série de processos chamados de institucionalizantes, que podem ser nocivas à saúde mental de diversas formas, além de oportunizar violações graves de direitos humanos. Desse modo, explica que a categoria precisa entender “a pessoa em sofrimento psíquico como uma pessoa de direitos integrais, dessa forma, a sua autonomia e a sua cidadania devem ser respeitadas.”