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Dia Nacional dos Povos Indígenas: comunidade Avá-Guarani e o movimento de luta de Paulina Kunha Takua Rokavy Ponhy

O dia 19 de abril, por muito tempo, foi conhecido por “Dia do Índio”, que ainda persiste nas escolas e na sociedade como uma “homenagem” aos povos indígenas. Nessas ocasiões, usa-se o cocar de papelão ou material emborrachado (EVA) sem que haja, no entanto, a problematização da presença e contribuição dos povos indígenas para a sociedade brasileira, ou referências à literatura ou autoras(es/ies) indígenas. Com isso, são fortalecidos e atualizados os estereótipos, a discriminação racial, o preconceito e a estigmatização das populações indígenas.

Diante disso, é importante lembrar que o nome da data foi redefinido pela Lei nº 14.402 de 2022, decorrente de projeto de lei da então deputada federal Joenia Wapichana, hoje presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). A expressão “Dia do Índio” foi alterada para “Dia dos Povos Indígenas” a fim de representar a diversidade étnico-cultural e o modo como povos indígenas entendem e compreendem o mundo, a partir da coletividade, sem carregar as marcas colonizadoras e estigmatizantes do valor da pessoa “indígena”, reconhecendo e fortalecendo sua diversidade, lutas, direitos, identidades, línguas e religiões, autonomia no controle das próprias instituições e do seu desenvolvimento econômico.  

A mudança da nomenclatura para “Dia dos Povos Indígenas” é uma convocação para que não indígenas desconstruam e reconstruam seu pensamento sobre a presença e existência de povos indígenas, uma vez que é inegável a necessidade de reconhecer  seus direitos  enquanto cidadãs(ãos)  de direitos pautados em um multiculturalismo.

Nesta data, justamente pela importância de se buscar conhecer e reconhecer a diversidade de corpo, identidade e memória dos povos indígenas do Brasil, a Comissão Étnico-Racial (CER) do CRP-PR realizou uma entrevista com a liderança indígena Avá-Guarani, Paulina Martines ou Kunha Takua  Rokavy Ponhy (seu nome de batismo em guarani), da comunidade Tekoha Guasu Guavirá, localizada no município de Guaíra na região Oeste do Paraná, na fronteira entre o Paraguai e Mato Grosso do Sul.

Paulina Kunha Takua Rokavy Ponhy é professora da língua materna Avá-Guarani na sua comunidade e foi vice-cacica da sua aldeia de 2010 a 2020, quando, por questões de saúde mental, precisou deixar o cargo para outra pessoa. Mesmo não estando mais nessa posição, ela não deixou a luta pelos direitos do seu povo, e, após este período de autocuidado e da fase crítica da pandemia de Covid-19, voltou a se dedicar à frente da luta das mulheres guarani na articulação das Kunhangue: organização de mulheres indígenas guarani com representação em todo o país.

Em sua comunidade, por meio da Organização das Kunhangue, foi criada   a organização chamada Mboraihu Nhemorenhoî, que, em português, podemos traduzir por Semeando Amor, surgiu pela necessidade de agir sobre a realidade da comunidade e os seus sofrimentos, fortalecendo a luta das mulheres indígenas desde o seu território. Kunha Takua Rokavy Ponhy se afirma como uma “mulher raiz da ANMIGA (Articulação Nacional das Mulheres Guerreiras da Ancestralidade), movimento ancestral tradicional criado e constituído por mulheres indígenas dos seis biomas brasileiros desde o chão da aldeia até o chão do mundo”.

Kunha Takua Rokavy Ponhy, nas suas palavras, define-se como  “apenas uma mulher raiz que está aqui, todos os dias, na base, no chão do território, tentando sempre articular as mulheres indígenas entre si e com outras organizações e movimentos, levando o protagonismo feminino, a voz e o grito das mulheres indígenas, seus saberes e seus fazeres: nós falando por nós”. 

 

Confira a entrevista a seguir. 

*O texto foi reproduzido de forma que seja mantida a fidelidade da oralidade indígena.

Conte-nos um pouco sobre a história dos Avá-Guarani, da sua comunidade e cultura.

O território reivindicado por nós atualmente é composto por 17 aldeias nos municípios limítrofes de Guaíra e Terra Roxa, sendo nove em Guaíra e oito em Terra Roxa. Também temos parentes no Mato Grosso do Sul, no Paraguai, no território indígena Tekoha Guasu Jacutinga e na Argentina.

Nossa comunidade, a aldeia [que chamamos Tekoha] Y’hovy, é composta por 350 pessoas e 90 famílias, e nós nos organizamos por grupos familiares: em cada cantinho existe um grupo que é vizinho do outro, onde moram os pais, avós, filhos, netos, tios e primos.

Temos uma escolinha que foi construída, por volta de 2013, por nós, pelos homens indígenas, com materiais doados por amigos e apoiadores. Também temos a Oga Guasu (opy´i) – casa de reza – e os nossos Xamõí (rezador) e Xaryí (rezadora) estão sempre nela, rezando, cantando, dançando e repassando o conhecimento ancestral para nós, que somos essa geração daí, e para as novas gerações que estão vindo. As crianças ouvem dos mais velhos os seus ensinamentos, que não são escritos, pois não temos teorias até hoje: esse conhecimento sempre foi e sempre vai ser oral, transmitido por meio dos bons conselhos.

Além disso, o nosso cemitério está dentro da própria aldeia, onde conseguimos realizar o primeiro sepultamento de um parente graças à autorização dada por uma ação judicial.

Hoje, conseguimos praticar o Nhandereko, o nosso modo de ser, que não é mais a mesma coisa de um passado recente, porque muitas coisas vêm nos prejudicando, devido à luta – esse conflito pelo território – do nosso povo contra os fazendeiros e o agronegócio. A nossa sobrevivência, a nossa convivência com a sociedade, não tem sido fácil; existem julgamentos negativos sobre o meu povo, sempre visto como uma “praga” porque a sociedade, tanto do município de Terra Roxa, a sociedade não indígena não aceita o nosso estar ali.

A gente, às vezes, enfrenta vários tipos de violência contra nossos direitos, principalmente o do livre arbítrio, o de ir e vir; não conseguimos ir de uma comunidade a outra do mesmo município para participar de uma cerimônia tradicional. Quando os parentes se deslocam, há a desconfiança de que a gente está indo invadir uma propriedade alheia; somos parados, tem sempre alguém de olho. Estamos frequentemente em movimento, e é por isso que existe a Tekoha, mas nossos parentes são vistos como criminosos nesse trânsito. É isso o que se pensa do nosso povo.

Então, a gente está sempre nesse movimento, da gente ir ou alguém vir, morar ou ficar um tempo pra lá, e isso também faz parte dos nossos costumes, que não nos permitem a gente se apegar em coisas materiais. Conversando com os mais velhos, também me disseram que esse costume de ir e vir nos liberta: é uma terapia que ajuda o povo Guarani a afastar muitas coisas ruins, principalmente do pensamento. Na verdade, é uma forma de não ficar doente.

Neste Dia Nacional dos Povos Indígenas, pensamos também sobre as lutas e resistências que os povos indígenas historicamente têm feito na nossa sociedade, que perpetua violências e opressões coloniais às suas existências e territórios. Sobre isso: quais os problemas que a comunidade Avá-Guarani tem enfrentado nos últimos anos em seu território e em outros em que se faz presente?

Falar das lutas e da resistência do povo Avá-Guarani é um pouco triste e muito dolorido, quando a gente ouve os anciões falando da nossa história. Nos entristece, mas, ao mesmo tempo, para mim, me fortalece. 

O nosso território ancestral era (e ainda é) dos dois lados do rio Paraná. São três lados, na verdade, porque tem o Mato Grosso do Sul, que ele sempre pertenceu ao nosso povo; desde muito antes de 1500, este território foi totalmente ocupado pelos Avá-Guarani.

Quando os não indígenas chegaram, em 1506-1514, então começa a ocupação deles neste território. Com a chegada da Companhia Matte Laranjeira, começou, então, o trabalho escravo, árduo e sofrido, porque todos os tipos de mão-de-obra eram feitos pelos Avá-Guarani, e se concentraram exatamente em Guaíra, onde tinham as Sete Quedas. Debaixo das Sete Quedas tem um portal sagrado, que leva à Yvy marã e’ỹ, que é uma terra sem males.

Próximo de lá, a erva-mate (ka’a) não precisou ser plantada por nenhum ser humano, ela foi deixada por Nhanderu Tupã, que é Deus. Existe outro portal que também levava à  Yvy marã e’ỹ, localizado onde hoje, em cima dela, está construída a represa hidrelétrica de Itaipu, por isso também a concentração dos guaranis ali naquela região. Esse território é sagrado para o nosso povo, afinal, era lá onde encontrávamos a paz, até mesmo na vida após a morte, e a espiritualidade era muito forte naquele tempo. Ali, os guaranis eram felizes e tinham liberdade.

Hoje, lutamos para que as violências contra nosso povo sejam compensadas de alguma forma, mas o impacto causado não é só físico. Não aconteceu somente a destruição de matas, erva-mate e rios, ou a morte de peixes e de outros animais. Não foi somente o nosso direito de liberdade, o nosso direito de viver que foi destruído de nós; o sofrimento maior que a gente vem enfrentando, em vários sentidos, é a destruição dos valores e lugares sagrados. O impacto causado também foi espiritual e, até hoje, não foi criado nenhum programa, não tem nenhuma política pública vindo do Estado que reconheça o que nos machucou e está nos machucando. Isso vai continuar destruindo nosso povo espiritualmente, na mente e no coração de cada um de nós.

Além disso, o preconceito e o racismo que sofremos até hoje foi iniciado por padres jesuítas, que pra cá chegaram e foram catequizando nossos parentes, quando eles começaram a pregar que nossa forma de viver era errada e não agradava a deus. Por isso, o termo “índio” é usado até hoje, surgiu nesse tempo de jesuítas e quer dizer “sem deus”. E aí vem causando um impacto da espiritualidade na prática, fisicamente, porque é dito que os guaranis são obrigados a aceitar a catequização para que tivessem salvação, pudessem ser humanos: naquele tempo, os parentes não eram vistos e considerados nem humanos e nem animais.

A sociedade atual tenta tapar o sol com a peneira para negar o óbvio. É óbvio que esse lugar é um território guarani, porque a gente sente, sonha e vive 24 horas com nossas ancestralidades, a comunicação com a nossa ancestralidade está sempre confirmando que nós estamos, sim, no nosso território ancestral. Isso é uma coisa que os não indígenas nunca compreenderão, nunca aceitarão e nunca vão admitir: que o que a gente fala é verdadeiro, é real.

O território nunca foi totalmente abandonado por nós, têm guaranis que nunca saíram de Guaíra e conseguiram permanecer desde o tempo da invasão até hoje. Até 2012, mais ou menos, a nossa existência no município não incomodava a sociedade não indígena, mas quando a gente começa, então, a reivindicar nosso direito pelo território ancestral judicialmente, aí os conflitos, ameaças, mortes, tentativas de atropelamento surgiram. Os preconceitos, o racismo dentro da escola e no comércio começam a vir à tona. Enfrentamos o sentimento de ódio que algumas pessoas não indígenas têm pelos indígenas. A gente não tem mais segurança.

O movimento de luta pela reivindicação e garantia dos direitos – que estão na Constituição Federal e também em documentos da Organização das Nações Unidas (ONU) e na Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho sobre os Povos Indígenas – faz com que se incomodem com a nossa existência aqui no município. Por isso, é muito importante os parentes guaranis ocuparem vários espaços, como os espaços dentro da universidade, porque são eles que vão trazer conhecimento de fora, informações, até a base, até o território, para que o nosso movimento, a nossa re(x)istência, tenha mais força. 

E hoje, nós não podemos olhar para trás, não podemos mais viver sem demarcar o nosso território dentro da política, porque isso que faz a nossa resistência, porque isso que faz a nossa luta, e somente assim é possível lutar pelos nossos direitos, reconhecer as ferramentas dos nossos inimigos para que a gente possa usá-las contra eles próprios, que as criaram. Mas sem deixar de falar que esse sistema do Brasil está deixando doente não só os povos indígenas, esse sistema está deixando a sociedade inteira, a população inteira, nacionalmente e internacionalmente doente, porque é um sistema que tenta apagar cada vez mais os corações, os sentimentos, os valores da vida, e que são coisas que não vêm do Nhanderu´ete.

A ausência de demarcação dos territórios para os povos é o nosso maior problema, mas o não reconhecimento de direitos originários também é uma luta muito grande. Falta aceitação. Por que a sociedade não nos deixa viver em paz? Por que a sociedade não indígena, até hoje, pensa que somos diferentes dela e que não somos capazes? A lei nos garante que nós temos o direito de ser o que somos, independentemente de alguém dizer que Pedro Álvares Cabral “descobriu” o Brasil. O Brasil nunca foi descoberto: foi invadido. E ele nunca foi invadido pelos povos originários, porque seus povos originários da floresta já estavam aqui.

Como você percebe a sua representatividade, o seu trabalho, a sua luta, enquanto mulher indígena na sua comunidade/no seu território? E como entende que essa presença se conecta com a luta dos povos e das mulheres indígenas no Brasil?

Ser liderança nos dias atuais traz desafios, ainda mais quando a liderança é uma mulher. A partir do momento em que nos envolvemos nos movimentos de luta por direitos, a nossa jornada acontece; é como se colocássemos para fora tudo aquilo pelo que lutamos, fazemos, desejamos e sonhamos. A vida das mulheres é um conjunto de emoções; levar para a nossa luta aquelas que são positivas é transformá-las numa força muito potente.

Quando vejo uma mulher tomando a frente de um movimento, vejo nela o passado, o presente e o futuro; costumo dizer que carregamos em nós mesmas a força de mulheres que vieram antes de nascermos. Apesar dos últimos quatros anos de retrocessos, sofrimentos e disseminação de racismo e ódio contra os povos originários do Brasil, conseguimos mostrar a nossa força e capacidade de estar onde estamos, como na política – assim como Sônia Guajajara e Célia Xakriabá.   

Por meio dela, podemos fazer com que o Estado reconheça nossos direitos ancestrais e originários, porque vamos além da luta em nossa aldeia, no território. Nós, mulheres, temos esse cuidado com a Mãe Terra, nossos filhos, nossas irmãs, e também com outras vidas humanas (como com as árvores e os animais). O acampamento Terra Livre e a Marcha das Mulheres Indígenas mostram isso, são resultado de um movimento nacional que além de fortalecer e curar umas(uns/es) às(aos/es) outras(os/es), dá esperança à nova geração. Nossa luta é pela vida, nosso grito de socorro é pela mãe Terra (que está sendo destruída pela ganância), nossa luta é pelo reflorestarmentes (cura de mentes), pois nossos jovens vêm adoecendo, chegando a cometer suicídio.

Esse sistema doentio já levou muitos de nós. Perdi muitos parentes na Tekoha Guasu Guavirá que, assim como eu, tinham o desejo comum a todos os indígenas do Brasil, que é ter seu território ancestral demarcado e respeitado. Temos o sonho de que nos aceitem como somos, com nossa cultura e língua, sem precisar ouvir governos nos dizendo que somos invasores do nosso próprio território. Sonhamos com um futuro sem racismo, sem preconceito.

O que você pensa sobre e o que você sugere para o trabalho na área de saúde mental com a população indígena?

A principal coisa, o essencial, que seria o início para esse trabalho se tornar realidade possível, é que o Estado brasileiro precisa urgentemente reconhecer e compensar os primeiros habitantes desse território brasileiro que somos nós, os povos originários. Sem o nosso território demarcado, nós não conseguiríamos reconstruir o Nhandereko, nosso modo de viver. Nós não podemos e nem temos como começar um trabalho a respeito da saúde mental sem ter um início, e o início é esse, para que tenhamos um porto seguro. Aí, sim, o trabalho físico e espiritual se tornará completo.

Por isso, para a gente pensar de que forma poderemos trabalhar na questão da saúde mental da população indígena, eu penso que precisaria ser feito um trabalho amplo. Se conseguíssemos repensar esse sistema político, esse sistema doentio do nosso país ou talvez do mundo inteiro, talvez a gente conseguisse, de fato, acabar com os problemas de saúde mental e com os motivos que levam os nossos parentes a tirar a sua própria vida. Isso vem de fora para dentro do território, não do território para o território.

Esse sistema único de viver no mundo inteiro é tudo uma ilusão, vai acelerando a mente, o coração e as próprias veias sanguíneas, deixando nossos jovens e as mulheres, com seus filhos, apavorados, querendo tudo em pouco tempo. A cabeça já não vai mais calcular o tempo: é como se a mente e o coração perdessem a noção dele.

O sofrimento mental é muito complexo, e eu não gosto muito de falar sobre o suicídio quando eu tô sozinha. Eu prefiro falar quando eu estou junto com rezadores, dentro da casa de reza, porque a gente teve muitas experiências horríveis a respeito disso. Quando a caravana das mulheres da centralidade veio para o nosso território, no primeiro dia, a gente tava falando da dificuldade, das violências, das questões dos suicídios. No final daquele dia, ficamos sabendo que o menino que estava junto com nós na caravana tinha cometido suicídio. Menino jovem, de 20 anos, de uma comunidade próxima; ele veio com a esposa e participou da reunião, e no final do dia, foi para sua aldeia e simplesmente tirou a sua vida.

É necessário o fortalecimento de casa de reza, da espiritualidade, dos conhecimentos tradicionais, da valorização de bons conselhos dos mais velhos (Xamôi e Xaryi), e educar as nossas crianças que tudo que o sistema está criando não passa de uma ilusão, nada é real. Porque todas as tecnologias parecem facilitar nossa vida cotidiana, mas todas elas e a modernização podem, a qualquer momento, desaparecer, acabar, desmoronar. Até que a gente saiba novamente viver sem essas ferramentas que nos adoecem, é uma longa caminhada. 

Qual é a mensagem que você gostaria de deixar para jovens e pessoas indígenas neste Dia Nacional dos Povos Indígenas?

Não podemos perder a nossa essência, a nossa crença, porque tudo o que temos é tudo, bonito e incrível, como os nossos ancestrais, que conseguiram resistir durante tantos anos. Devemos manter tudo aquilo que nossos ancestrais vêm nos ensinando, porque o futuro do nosso planeta Terra depende dos saberes que vêm da nossa ancestralidade.

Que não tenhamos vergonha de sermos o que somos, que a gente caminhe de cabeça erguida para enfrentar o preconceito e a discriminação que todos já sofremos em algum momento de nossas vidas. Temos que ser fortes e transformar as nossas dores, perdas e lágrimas nessa grande luta que os parentes que estão na frente vêm travando pelo Brasil inteiro. Que não tenhamos medo, enquanto nação indígena, de cobrar das autoridades os nossos direitos.

Qual é a mensagem que você gostaria de deixar para pessoas não indígenas, sobretudo às pessoas brancas, neste Dia Nacional dos Povos Indígenas?

O que eu gostaria de falar para os não indígenas é que, pelo menos na semana do Dia Nacional dos Povos Indígenas, os diretores e professores de escolas públicas deem a oportunidade aos alunos ou a eles mesmos de poder ir visitar uma comunidade indígena, pra ir na base mesmo, sabe?! Pra poder ver de perto… conhecer pessoalmente, ver com os próprios olhos como é a vida dos povos originários do seu próprio país, do seu próprio território… para ouvir os próprios indígenas falarem deles mesmos…eles falando deles mesmos.

Ouvir e ver a realidade, o sofrimento, mas também para poder se permitir viver o lado bom, o lado alegre que cada povo tem, porque, infelizmente, a sociedade vem trazendo, hoje em dia, somente a visão negativa dos povos indígenas. Nas revistas, no rádio, na própria TV, a gente só vê o lado negativo dos nossos parentes. Dificilmente, em algum lugar, em um site, em um noticiário, vai passar dizendo “ah, os povos indígenas e a sua espiritualidade… as suas curas, as suas maravilhas, os seus conhecimentos, as suas colaborações para o Bem Viver comum”. 

Nunca ninguém transmite como os povos indígenas lidam com a própria terra, qual é o cuidado, o que de bom a população indígena vem fazendo durante todo esse tempo, até hoje… para mostrar o trabalho da população indígena, seja no artesanato ou na lavoura, para mostrar o quanto as pessoas indígenas também são trabalhadoras.

Então, é isso que faz com que o ódio aumente cada vez mais contra os povos indígenas. Isso faz com que a desvalorização da cultura, da diversidade que tem no Brasil seja cada vez mais esquecida, sendo deixada pra trás. Os poderes públicos não criam mais políticas públicas de incentivo, de valorização da cultura, o município não investe nas áreas culturais. Neste ano, e agora, no mês de abril, que a gente está fazendo nossa primeira semana cultural, entre os dias 17 e 19 de abril, com o intuito de também reivindicar.

Nós queremos que, pelo menos no dia 19 de abril seja feriado no município de Guaíra. É isso que nós exigimos e estaremos cobrando do município. Porque qualquer outro feriado é respeitado, a cidade é fechada, não tem aula, a escola pública é fechada… e por que não fechar a escola, não fechar os comércios e o município de modo geral, no dia 19 de abril? Assim vai ser uma forma, também, de o município e os órgãos municipais reconhecerem uma forma de fazer o mínimo para respeitar os direitos do nosso povo que estão garantidos na constituição. Mas, na maior parte dos municípios, onde existem territórios ou aldeias indígenas, o município não considera o dia 19 de abril como feriado.

Então, uma das nossas reivindicações a partir do mês de abril de 2023 vai ser isso. É uma luta que nós, mulheres, travaremos com órgãos municipais, junto com vereadores. Não é porque a gente quer ser chato, mas é um direito que precisa ser respeitado. 

Aguyjevete (obrigada)! Aguyjevete pra quem luta.

Foto 1 – Liderança indígena Avá-Guarani Paulina Kuña Takuary Ponhy

Foto 2 – Território Avá-Guarani Guasu Guavirá, comunidade da Tekoha Y’hovy

Foto 3 – Encontro de lideranças Avá-Guarani na comunidade da Tekoha Y’hovy

Foto 4 – Território Avá-Guarani Guasu Guavirá, comunidade da Tekoha Y’hovy

Foto 5 – Território Avá-Guarani Guasu Guavirá

foto 6 – Território Avá-Guarani Guasu Guavirá

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