Neste Dia Mundial de Luta contra a Aids (01/12), o Brasil tem motivos para comemorar. Os tratamentos para pessoas que convivem com o vírus evoluíram e estão ainda mais acessíveis.
Na última segunda-feira (29), a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) divulgou a aprovação de um novo medicamento que reúne duas substâncias (lamivudina e dolutegravir sódico) em um único comprimido. A novidade consolida o Brasil em uma posição de vanguarda no tratamento de HIV/aids.
De acordo com a agência reguladora, a vantagem da dose única diária é a maior adesão das(os) pacientes ao tratamento. Ainda segunda a nota da Anvisa, o medicamento reduz a quantidade de HIV no organismo e “promove aumento na contagem das células CD4, tipo de glóbulo branco do sangue que exerce papel importante na manutenção de um sistema imune (de defesa) saudável, ajudando a combater as infecções”.
Além disso, uma inovação anunciada no final de 2020 vem se consolidando: a disponibilidade dos medicamentos de profilaxia pré-exposição (PrEP) em algumas redes de farmácias comuns. Os comprimidos já são encontrados em unidades de saúde, e a medida busca ampliar o acesso à tecnologia de prevenção. Segundo o farmacêutico responsável pela logística de antirretrovirais da SESA-PR, Frederico Alves Dias, já é possível encontrar o medicamento nas versões de marca e genérico em sites na internet e em algumas farmácias físicas – ainda que não em todas as lojas.
O uso do medicamento preventivo é indicado para pessoas em grupos de risco, pois inibe a instalação do vírus no organismo em caso de exposição. É um grande aliado para diminuir o número de novos casos – apenas em 2020 o mundo registrou 1.5 milhão de novos casos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), enquanto 680 mil morreram de causas relacionadas.
Por outro lado, a OMS alerta para a crescente resistência dos atuais medicamentos. “Este relatório indica que um número cada vez maior de países está atingindo o limite de 10% de resistência a medicamentos para HIV de resistência pré-tratamento à classe dos inibidores da transcriptase reversa não-análogos de nucleosídeos (ITRNN), e as pessoas que tiveram exposição anterior a medicamentos antirretrovirais têm três vezes mais probabilidade de demonstrar resistência aos ITRNN”, afirma a instituição em nota.
Desigualdades, aids e pandemias
Instituída em 1988 pela Assembleia Geral da ONU e a Organização Mundial da Saúde (OMS) para trazer informações sobre o tema e combater o preconceito e estigma em torno das pessoas que vivem ou convivem com HIV/aids, o Dia Mundial de Luta contra a AIDS também é foco de campanhas internacionais e regionais. Em 2021, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) chama a atenção para o tema “Acabe com as desigualdades. Acabe com a AIDS. Acabe com as pandemias.”
Os materiais da campanha advogam que os autotestes para detecção do vírus devem estar amplamente disponíveis, e que as pessoas tenham informações para fazê-lo. Os ganhos apontados são maior autonomia, privacidade e superação de barreiras de acesso, permitindo diagnósticos precoces, especialmente em populações mais vulneráveis ou que sofrem preconceitos no sistema de saúde, como as pessoas trans.
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Em 2020, o CRP-PR publicou uma matéria no Dia Mundial de Luta contra a AIDS trazendo informações sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) e a prevenção e tratamento de HIV/aids e a atuação da Psicologia neste contexto, bem como Referências Técnicas como a do CREPOP (Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas) para profissionais que atuam nos Programas de IST e aids.
Acesse a reportagem: Dia Mundial de Luta contra a Aids: como está o Brasil nesta causa?
Diagnósticos na pandemia
A pandemia da Covid-19 vem afetando, desde 2020, o diagnóstico e tratamento de diversas doenças crônicas, e esta tendência foi verificada também em relação ao HIV/aids.
Especialistas da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) advertem que a redução da testagem e da procura pelo tratamento podem ter efeitos cascata sobre o número de pessoas com alta carga viral e, consequentemente, da transmissão do vírus.
Além disso, fontes ouvidas pela reportagem do CRP-PR relataram que houve flutuação no número de diagnósticos de HIV/aids no período da pandemia: o maior número de casos identificados coincidia com o “afrouxamento” das medidas restritivas. Isso poderia indicar que as pessoas buscaram os serviços quando a pandemia estava mais branda, gerando diagnósticos represados do período em que a situação estava mais crítica e as pessoas não buscaram os serviços.
Serviço
Em caso de violência, discriminação ou falta de medicamento antirretroviral, é possível formalizar denúncia na Central Nacional de Denúncias da Aliança Nacional LGBTI+ e do Grupo Dignidade pelo formulário: https://app.pipefy.com/public/form/ttOJ1Q1u.
Também é possível comunicar tais ocorrências pela Ouvidoria da Secretaria de Saúde do Estado do Paraná: https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Ouvidoria