
Em 2007, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o dia 2 de abril como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Segundo a Organização, a data busca afirmar e promover a plena realização de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais para pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) em igualdade de condições com as demais pessoas.
Para marcar a data, a próxima edição da Revista Contato, produzida pelo Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR), trará duas matérias que abordam temáticas acerca do TEA. Por isso, vamos apresentar uma prévia dos textos, que você poderá conferir na íntegra na 154ª edição da revista.
Gênero e sexualidade de pessoas autistas
O texto escrito pelo psicólogo clínico e educacional Serafim Lissa Koga (CRP-08/37362), pessoa autista que também integra a Comissão de Psicologia Anticapacitista do CRP-PR, discorre acerca das significações de identidade de gênero e sexualidade, pautadas por diferentes expectativas sociais, que se apresentam de forma singular em pessoas com o diagnóstico do TEA.
Além disso, o psicólogo menciona a expectativa social constante de que seja performado um ideal normativo de gênero e sexualidade que não é saudável, ou mesmo coerente, com essa realidade vivida. E aborda questões da saúde sexual, comumente tratadas como um tabu, indo para além da higiene pessoal, e de educação sexual, envolvendo questões de comunicação e consentimento, por exemplo.
Por fim, frisa a importância de um estudo sensível e da discussão sobre o tema, para que seja valorizado o que é comprovado pelas pesquisas teóricas, além de dar abertura para práticas profissionais mais embasadas, precisas, com mais segurança e acolhimento. Considera-se, acima de tudo, a premissa fundamental de que cada caso é único e cada sujeito traz sua própria história e vivências. Agora, mais do que nunca, torna-se crucial que essas perspectivas sejam discutidas.
Confira um trecho:
Por outro lado, também se faz crucial abordar questões da saúde sexual, comumente tratadas como um tabu, indo para além da higiene pessoal. Informações sobre a comunicação e o consentimento devem ser ensinadas com paciência e cuidado, em atos preventivos considerando as estatísticas alarmantes de pessoas autistas vítimas de abuso e destrato. Isso se reflete também em dificuldades já conhecidas no estabelecimento – e reforço – de limites pessoais.
A educação sexual de pessoas autistas também não deve ignorar a possibilidade de serem agentes na ação não consentida, ou que possam estar violando de forma significativa princípios sociais indispensáveis sobre nudez, toques exploratórios em momentos inapropriados e perguntas invasivas ou discriminatórias. É necessário o ensino da responsabilidade emocional que respeite limites e sensibilidades, evitando se abster repetidamente da responsabilidade de alguma situação embaraçosa na justificativa de que teria sido “sem maldade”.
ABA e autismo: o que a ciência tem a dizer sobre?
Produzido pela jornalista Livia Allgayer Freita, o texto discorre sobre a ABA (Applied Behavior Analysis, ou Análise do Comportamento Aplicada), que é a aplicação da ciência comportamental para promover comportamentos adaptativos observáveis e melhorar as habilidades sociais. A matéria menciona estudos recentes que levantam questionamentos sobre a eficácia da ABA no cuidado a pessoas com TEA, mas também traz a visão de especialistas que indicam a necessidade de ter cautela ao analisar esses resultados.
Em 1968, os analistas do comportamento Donald M. Baer, Montrose M. Wolf, Todd R. Risley publicaram um artigo em que buscaram lançar de uma forma conceitual o que seriam os fundamentos da ABA. Desde então, a análise do comportamento é aplicada na tentativa de resolver problemas humanos e sociais, incluindo ajudar pessoas no Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Entre os depoimentos de especialistas apresentados na reportagem está o de Andresa de Souza, graduada em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e hoje docente na Universidade do Missouri, nos Estados Unidos, que destacou que revisar a pesquisa sobre ABA que vem sendo feita no Brasil é relevante tanto para mostrar internacionalmente o que vem sendo produzido no país quanto para apontar que pontos precisam ser aprimorados para aumentar a quantidade e a qualidade dos estudos brasileiros.
Somado a isso, Thiago Mácimo, vice-presidente da Associação Brasileira de Psicologia Baseada em Evidências (ABPBE), explica que a ABA é uma ciência que comporta diversos procedimentos, que podem ser aplicados a uma variedade de comportamentos e dificuldades apresentados por pessoas autistas com necessidade de diferentes níveis de suporte. Disso decorre que a intervenção precisa ser altamente individualizada, o que consiste em um obstáculo à formação de grupos relativamente homogêneos para investigação por meio de ensaios clínicos randomizados.
Confira um trecho:
A psicóloga Natália Cesar de Brito (CRP-08/17325), que tem ampla experiência no trabalho com crianças autistas, cita faixa etária, nível de suporte da pessoa autista e estilo de trabalho da pessoa psicoterapeuta como fatores que influenciam a definição da intervenção que será utilizada. Ela explica que são aplicadas ferramentas de avaliação que norteiam a elaboração da programação terapêutica individual. “Por exemplo, se vamos trabalhar com duas crianças que têm 3 anos, e uma delas é não verbal enquanto a outra é hiperléxica, não podemos colocar as duas ‘no mesmo saquinho’”, exemplifica.
Sobre as intervenções mais comumente usadas na clínica diante de crianças com TEA, Natália menciona, além de ABA, o modelo Denver e DIR/Floortime. “Eu adoraria dizer que a ABA serve para todas as crianças, mas há crianças que não respondem à ABA. Algumas respondem melhor ao DIR/FloorTime, ao Denver, a uma abordagem que seja mais naturalística, enquanto outras funcionam muito bem em um ambiente estruturado”, comenta.
Acompanhe as redes sociais do CRP-PR, para conferir os textos completos na próxima edição da Revista Contato, assim que ela for publicada.