O que você lembra de sua infância e adolescência? Caso você tenha sido uma pessoa que, por N razões, tenha sido privada de brincar, de estar com pessoas amigas e/ou estudar para desenvolver alguma atividade laboral, remunerada ou não (fazendo o trabalho de limpar a casa e/ou cuidar de crianças mais novas), muito provavelmente essas lembranças terão um toque amargo, para dizer o mínimo.
A infância se vive no presente! O trabalho infantil, assim como outras violações de direitos, tem consequências perversas (presentes e futuras) sobre os corpos e subjetividades de quem o vivencia. Além disso, traz consequências em nível macrossocial, uma vez que a persistência das situações e a exploração do trabalho infantil contribuem para a manutenção de ciclos intergeracionais de pobreza, para evasão escolar e, consequentemente, menor nível de escolaridade e menores oportunidades de colocação profissional na vida adulta, bem como maior probabilidade de exposição a situações de violência, entre outras questões.
Estudos clássicos e recentes em desenvolvimento humano são unânimes sobre a importância de viver a infância e brincar para a aprendizagem de habilidades afetivas, cognitivas e sociais fundamentais para uma vida adulta plena e satisfatória. Portanto, faz-se urgente que as práticas psis atuem de forma a desconstruir ideias, historicamente produzidas e socialmente difundidas, relacionadas ao valor moral do trabalho. Ainda, é dever da Psicologia enquanto ciência e profissão assumir seu compromisso ético-técnico para com a proteção social contra o trabalho infantil.
Isso pode ser feito a partir da desconstrução de mitos sobre o tema, mas também com a adequada identificação e notificação no SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) de situações suspeitas de trabalho infantil e a formalização de denúncias. Também é fundamental a adoção de práticas antirracistas, a participação e incentivo à participação social no desenho e monitoramento de políticas públicas, a atuação no combate à produção e divulgação de fake news e, sempre, a defesa intransigente de Direitos Humanos.