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Notícia

Dia Internacional da Consciência Gaga – 22/10

Autoria: psic. Fabiane Kravutschke Bogdanovicz (CRP-08/19219) e Gustavo Sofia Fernandes (@gagofonia)

Descrição da imagem: Lê-se "22 Out Dia Internacional da consciência gaga. Texto dentro de caixa de diálogo. Homem negro sorrindo, camiseta azul, aponta para o texto, olhando para a câmera. Fundo verde com linhas azuis, símbolo do orgulho gago. Logo do CRP-PR.

Enquanto profissionais da Psicologia, precisamos acolher e respeitar a pluralidade da experiência humana, sem hierarquizar nem partir de um padrão de normalidade que patologiza outras existências, além de buscar aprender com o que essas diferentes possibilidades de vida têm a ensinar.

A sociedade é organizada a partir do ideal da corponormatividade, ou seja, do corpo padrão/perfeito, sendo esse o corpo do homem branco, adulto, cisgênero, heterossexual, de classe média/alta, neurotípico e sem deficiência. Corporalidades divergentes estão sujeitas à discriminação e enfrentam dificuldades em sua relação com o mundo, não por limitações intrínsecas, mas por serem diferentes do modelo unívoco. É nesse sentido que propomos pensar as deficiências e, mais especificamente, a gagueira.

Por conta do que a psicóloga Silvia Friedman chama de “ideologia do bem falar”, que supõe a fluência como absoluta e estigmatiza as disfluências, pessoas gagas frequentemente têm a sua subjetividade desrespeitada, desde microviolências que parecem “pequenas” para as pessoas fluentes (como quando completam as frases de pessoas gagas, supondo saberem o que elas querem dizer, interrompendo e não respeitando seu tempo pessoal), passando pelo preconceito e estigmatização (ao pensarem que a pessoa só é gaga porque ela “não se esforçou o suficiente”), até situações maiores, como tratamentos fonoaudiológicos invasivos que não compreendem a gagueira dentro da neurodiversidade, mas como um desvio a ser corrigido e curado.

Nesse sentido, pessoas gagas ao redor do mundo têm se juntado para formar comunidades não só para reivindicar direitos, respeito e inclusão, mas também em torno do ideal do Orgulho Gago, transformando sua deficiência em uma identidade política afirmativa. Além disso, proposições como a do “Stuttering Gain” (ganhos pela gagueira, em tradução livre), desenvolvida pelo pesquisador gago Christopher Constantin, nos desafiam a refletir sobre o que ganhamos ao valorizar a gagueira e o que perdemos ao tentar curá-la. 

Estamos presenciando, portanto, não só a emergência de comunidades gagas, mas de um novo campo de pesquisa, os Estudos Críticos da Disfluência, como a obra do cientista político Joshua St. Pierre, que aborda a gagueira a partir da intersecção entre estudos críticos da deficiência, teoria feminista e teoria política contemporânea.

Esse campo busca, entre outros objetivos, ressignificar essa deficiência como uma importante ferramenta de transformação social, ao nos ensinar sobre como a comunicação está atravessada por um modelo pré-concebido (capacitista) de como a fala deve fluir e quais falam devem ser escutadas e quais são interrompíveis, além de propor uma outra forma de se relacionar com o tempo social, que não segue o molde capitalista-colonial da “eficiência”.

“Em uma sociedade de fake news, onde se fala muito, mas sem dizer nada, a gagueira pode surgir como uma forma sincera de comunicação” – @gagofonia 

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