Texto escrito pelo Núcleo de Psicologia e dos Povos Indígenas do CRP-PR
O Dia dos Povos Indígenas, 19 de abril, é mais do que uma simples data comemorativa: simboliza a resistência das populações indígenas. Ao longo dos séculos, esses povos têm enfrentado inúmeras lutas, não apenas pela preservação de suas culturas e territórios, mas também pela própria sobrevivência física e emocional. Esta data representa um lembrete das batalhas travadas até aqui e aquelas que ainda precisam ser enfrentadas em busca de justiça e igualdade social.
Ao longo da história, os povos indígenas têm sido submetidos a um processo brutal de exploração, opressão e negação de direitos, de sua história e de sua memória. Desde a invasão do território ancestral Pindorama (hoje chamado de Brasil), ocorrida no século XVI, pelos colonizadores, os povos indígenas resistem aos impactos desse processo, enfrentando constantes ameaças e violações de direitos territoriais, culturais, identitários e humanos. Tais traumas intergeracionais afetam diretamente a saúde mental dos povos indígenas.
Não é possível falar sobre saúde mental desconsiderando território, culturas e modos de vida dessa população. Portanto, lutar pela vida das pessoas indígenas, pela preservação e valorização dos seus saberes e culturas, pelo resgate da memória e pela reparação histórica das violências até hoje sofridas passa pela defesa das políticas de demarcação dos territórios, pelo enfrentamento do garimpo ilegal e pela mudança das lógicas extrativistas na relação com a terra. Essa luta passa, ainda, pela defesa de políticas de educação efetivamente antirracistas, por meio das quais possamos preservar a memória ancestral e ampliar o conhecimento a partir de referências indígenas, combater estereótipos e preconceitos estruturalmente forjados para justificar processos de colonização, dominação e exploração ainda em curso.
A Psicologia, como ciência e profissão, pode desempenhar um papel fundamental na promoção da saúde mental e do bem-estar social, ao compreender as dimensões socioculturais e psicológicas que constituem os sujeitos. Em razão disso, lembramo-nos, nesta data, da posição ativa que devemos assumir no combate ao racismo, preconceito, discriminação e estigmatização das pessoas indígenas, em todos os espaços de atuação, conhecendo, respeitando e preservando as crenças, práticas e contextos culturais dos diferentes povos indígenas.
O Núcleo de Psicologia e dos Povos Indígenas, que compõe a Comissão Étnico-Racial do Conselho Regional de Psicologia do Paraná, reafirma o apoio à luta, resistência e saúde mental dos povos indígenas, como forma de reconhecer e valorizar suas cosmovisões para construir, em conjunto, uma sociedade mais justa e equitativa.
Para saber mais:
- Articulação Brasileira de Indígenas Psicólogas(os) (ABIPSI) – Pintando a psicologia de jenipapo e urucum: narrativas de indígenas psicólogos(as) do Brasil [recurso eletrônico] / organização Articulação Brasileira de Indígenas Psicólogos(as) (ABIPSI). São Leopoldo: Casa Leiria (Série Saberes Tradicionais, v. 5). 2022
- Referências Técnicas para Atuação de Psicólogas(os) junto aos Povos Indígenas
- A Psicologia e os povos indígenas: sem marco temporal para as nossas existências – Fórum realizado pelo CRP-PR
- Seminário Psicologia e território como direito humano – Evento realizado pelo CFP
- I Seminário Nacional de Psicologia e Enfrentamento ao Racismo – Evento realizado pelo CFP
- Vidas contaminadas: mercúrio e saúde da população indígena – Evento realizado pelo CFP