Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que a população idosa do país vai triplicar até 2050, chegando a ultrapassar a porcentagem de crianças de 0 a 14 anos. Esse crescimento implica diversas questões, como as mudanças em políticas públicas de saúde, previdência e assistência social.
O dia 01 de outubro marca a promulgação da lei nº 10741/03 e, nesta data, relembra-se a importância de uma maior atenção aos assuntos relacionados à pessoa com mais de 60 anos.
Ao envelhecer, o ser humano passa por inúmeras alterações físicas, emocionais, psicológicas e sociais; o papel da(o) Psicóloga(o) nesse contexto é fundamental, pois é esta(o) profissional que ajuda a pessoa idosa a lidar com essa nova fase da vida, orientando no processo de descobertas e adaptações.
A Psicóloga Márcia Guedes (CRP-08/17238), que já participou do Conselho Municipal do Direito da Pessoa Idosa de Curitiba e da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, destaca ser obrigação do Estado e da família garantir o bem-estar da pessoa idosa.
Confira a entrevista completa abaixo:
1. Como a Psicologia pode ajudar o idoso a ter uma vida digna e segura, sem ser objeto de exploração e maus-tratos físicos ou mentais?
A Psicologia tem um papel fundamental no acompanhamento da família que está com a atribuição de cuidar deste idoso. Na preparação para um acolhimento ou no caso de retorno à casa de filho(a), é necessário criar um elo entre a família e o idoso, construindo, assim, uma proteção sociocultural que vise à eliminação da violência física e verbal. Precisamos ter uma maior atenção sobre o aspecto de um possível isolamento, depressão e baixa estima, estar atento aos possíveis agressores, tanto familiares como cuidadores. As pessoas idosas querem respeito para poder aproveitar o ciclo de vida com dignidade. É muito positiva a realização de oficinas e cursos que incluam os idosos na participação política e econômica, fazendo com que possam participar eventualmente até nas universidades da terceira idade, em programas culturais e desenvolvimento de trabalhos.
2. As atuais políticas públicas em defesa da população idosa têm sido satisfatórias?
As políticas públicas já existem, mas não são satisfatoriamente efetivadas. Nossa população idosa cresceu muito nos últimos anos e ainda precisa exigir seus direitos e conseguir mais melhorias. No entanto, já temos alguns avanços: conselhos estaduais, políticas nacional e municipais e campanhas de conscientização já estão sendo inseridas nas redes sociais e veiculadas nas mídias, assim como cartilhas com o intuito de levar o conhecimento sobre a funcionalidade física de uma pessoa idosa, folders explicativos sobre prevenção de quedas, palestras em universidades que levam o conhecimento aos graduandos, mesas-redondas sobre o aspecto de diversos assuntos relacionados ao idoso, congressos nacionais e internacionais com diversos profissionais da área. A fiscalização e a efetivação dos direitos dos idosos precisam ser mais efetivas. É evidente que tudo isso tem que ter o acompanhamento dos familiares e bons profissionais com especialização em gerontologia.
As políticas públicas já existem, mas não são satisfatoriamente efetivadas. Nossa população idosa cresceu muito nos últimos anos e ainda precisa exigir seus direitos e conseguir mais melhorias.
3. Qual a importância da reflexão sobre a situação do idoso na sociedade? Como trabalhar para que os direitos da pessoa idosa sejam conhecidos e respeitados por todos?
A lição começa em casa. Não adianta estudarmos as tarefas diárias de comportamentos e de direitos da pessoa idosa e não aplicarmos isso no dia a dia. Sabemos do descumprimento e desrespeito do Estatuto do Idoso (lei nº 10.741/03), que foi criado pela necessidade de suprir direitos e benefícios à pessoa idosa. É dever do Estado e da família dar condições dignas à pessoa idosa. O conhecimento e respeito devem vir da família. Os jovens precisam ter respeito com os nossos longevos, porque, além de serem cidadãos, eles também construíram uma história no passado. Como as avós, que se dedicam a cuidar de seus netos para os pais trabalharem e também para que um dia você também possa envelhecer. Portanto, estamos tratando do nosso próprio envelhecimento futuro. O idoso não é mais aquele frágil e inválido de antigamente. Há um grande aparato social, academias ao ar livre, eventos em viagens com o grupo da melhor idade que permite que ele tenha mais qualidade de vida. A vida se torna um ciclo constante.
4. Quais as consequências de uma visão estereotipada e negativa em relação ao próprio envelhecimento e como a Psicologia pode ajudar na compreensão dessas mudanças?
O envelhecimento tem chegado de uma forma diferente do que chegava antigamente. Estamos com um público mais resistente, ativo, em atividades com programas ao ar livre, caminhadas, exercícios de yoga, entre outros, que trazem uma diferenciação do idoso de 30 anos atrás para o idoso de hoje. Quando se aposentam, muitos realizam seus antigos projetos de vida, além de viajarem sozinhos ou com seus familiares. Outros acabam retornando para trabalhar com mais flexibilidade de horário. Muitas empresas já estão abrindo oportunidades para um retorno do idoso após a sua aposentadoria. Com o avanço da medicina e com todo o aparato que a sociedade alcançou em termos de terapia, a Psicologia tem muito a contribuir no sentido de conscientização dessas mudanças, bem como uma melhor adaptação para integrar o idoso e todos os que o cercam em relações mais positivas, além de auxiliá-lo na busca de estratégias que o tragam para a vida na realização de sonhos e projetos na contribuição social para que ele não atrofie e não fique senil por conta da ociosidade.
5. Como ocorre o trabalho da(o) Psicóloga(o) com a família do paciente idoso?
Penso que o acolhimento das angústias da família é a primeira coisa a se dedicar mais na pessoa idosa. A família precisa se adaptar na mudança, realizar alterações, por exemplo, até em sua moradia para receber este idoso, seja ele como uma visita ou mesmo como morador. São necessárias orientações sobre mudanças comportamentais próprias dessa fase de ciclo vital e orientação de estratégias de intervenção para que o idoso se ocupe com coisas positivas para ele, para que se movimente. O apoio dos familiares juntamente com uma equipe multiprofissional é necessário para melhor atender o idoso com respeito mútuo, dignidade, apoio, acolhimento e orientação para uma melhor qualidade de vida psíquica, emocional e física.