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Dia da Pessoa Idosa: a Psicologia está preparada para o envelhecimento do Brasil?

O Brasil sempre se considerou um país jovem, mas será que está na hora de assumir seus cabelos brancos?

Com a chamada transição demográfica, observou-se, desde a década de 1960, o aumento da expectativa de vida de brasileiras(os) e a queda no número de filhos por mulher. É comum verificar essa transformação visualmente com o recurso da pirâmide etária. Apesar do nome, hoje o gráfico brasileiro se parece muito mais com um barril — fato que indica o encolhimento de faixas mais jovens da população e o aumento das mais idosas.

Mas o Brasil não está sozinho e faz parte de um fenômeno populacional global. Em 2018, pela primeira vez na história, pessoas acima de 65 anos eram mais numerosas que crianças com menos de 5 anos. Além disso, a quantidade de pessoas com 80 anos ou mais deve triplicar até 2050, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas, publicadas no estudo Revision of World Population Prospects de 2019.

Essa transformação social chega carregada de desafios. Se, por um lado, a ideia de envelhecimento tem ganhado novos contornos — possibilitando novas perspectivas sobre o que é ser idosa(o) na sociedade —, serviços e políticas públicas dedicadas a essa população precisarão ser fortalecidas e reformuladas. Por exemplo, ao passo que o direito à aposentadoria demanda mais anos de serviço para ser adquirido, idosas(os) enfrentam dificuldades para encontrar oportunidades no mercado de trabalho — e esse é apenas um dos problemas. Logo mais, as cidades precisarão adaptar sua infraestrutura de mobilidade, assistência social e saúde, entre outros aspectos.

A pandemia expôs, especialmente, as fragilidades do sistema de saúde, o que reforça a urgência de investir em melhorias nessa área visando às necessidades de pessoas idosas, pois: “o envelhecimento da população pode agravar o desenvolvimento de doenças crônicas e também aumentar a necessidade de internação de idosos no nosso sistema de saúde”, explica a Psicóloga Luciana Tiemi Kurogi (CRP-08/19158), que trabalha no Hospital Municipal do Idoso Zilda Arns, referência em atendimento a pessoas idosas.

A profissional afirma que a pandemia trouxe mudanças para o perfil de pacientes atendidas(os) pelo hospital (abrangendo faixas etárias mais jovens), mas conta que a maior parte das(os) pacientes idosas(os) atendidas(os) pela instituição costuma ter acima de 80 anos. Em sua experiência com esse público, Luciana chegou a atender uma idosa de 112 anos, fato que ilustra o aumento da longevidade de brasileiras(os).

Não é apenas a saúde física que deve ser levada em conta. Doutoranda em Psicologia, a Psicóloga Luciana se dedica a estudar as especificidades do atendimento a esse público e identifica como fatores importantes no trabalho com idosas(os) a percepção da proximidade da morte, o quanto as perdas de pessoas queridas ou de funcionalidade impactam as pessoas nesta etapa da vida e o papel da religião para lidar com estes lutos.

Estas e outras questões deverão aparecer com frequência crescente no trabalho de Psicólogas(os), nos mais diversos contextos de atuação, o que demandará, também, atualização e qualificação de Psicólogas(os) que desejam atendê-la da melhor forma possível. “Penso que a Psicologia ainda tem que se desenvolver [nesta área], incluindo questões sobre o atendimento a idosos na grade curricular”, explica a profissional.

Pandemia e saúde mental

A pandemia da Covid-19, como se sabe, afetou as faixas mais idosas da população de maneira cruel, especialmente nos primeiros meses – quando foram classificadas nos grupos de alto risco para a doença, concentrando grande número de mortes e complicações relacionadas à Covid-19. Os impactos que a crise sanitária trouxeram, contudo, foram muito além daqueles mensuráveis em gráficos e tabelas.

O isolamento social e a perda de familiares, amigas(os) e vizinhas(os) em decorrência da doença afetou as(os) idosas(os) de maneira significativa, segundo afirma a Psicóloga Luciana Kurogi. Para ela, os lutos afetaram a saúde mental em especial “daqueles idosos que ficaram muito afastados da família e que não puderam nem participar dos rituais de despedida tradicionais, por não poder sair de casa”.

 

A socialização e integração da população idosa também foi impactada pelo momento. “Aqueles idosos saudáveis que, muitas vezes, participavam de grupos com os outros idosos na unidade básica de saúde, por exemplo, tiveram os encontros cancelados”, explica. Com relação a idosas(os) mais restritas(os), acamadas(os) e/ou que moram em instituições de longa permanência, o cenário se tornou mais difícil para suas(seus) cuidadores e familiares”, relata. Houve casos, segundo a profissional, em que nem familiares podiam realizar visitas às instituições, o que agravou a sensação de isolamento e afastamento de pessoas queridas.

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