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CRP-PR repudia tentativa de silenciamento de sua presidenta em congresso de Psicologia da FAE

O racismo pode tentar silenciar uma pessoa, mas não pode silenciar uma luta, nem um povo que resiste, e não irá calar uma transformação que se iniciou e não irá parar.  A conselheira presidenta do Conselho Regional de Psicologia do Paraná, Griziele Martins Feitosa, passou por tentativa de silenciamento durante a fala de abertura para a qual havia sido convidada, no III Congresso Brasileiro de Psicologia da FAE, que iniciou em Curitiba nesta segunda-feira, dia 30 de outubro de 2023. A psicóloga, uma mulher negra, iniciou sua fala com atraso considerável ao previsto, após uma sequência de falas de outros convidados, todos homens, que não tiveram seu tempo restrito. Embora estivesse utilizando o tempo estipulado pela organização para sua fala, ela teve seu microfone silenciado próximo à conclusão e foi interpelada por trabalhadora do evento, que solicitou que ela concluísse o discurso.

Sabe-se ser necessário aos eventos e pessoas que os organizam controlar o tempo, mas é injustificável fazê-lo com violência, cassando o direito à palavra da presidenta de uma autarquia federal que havia sido convidada para esse momento. Ainda que os microfones houvessem falhado, o que se alegou, as providências não foram no sentido de solucionar o problema para que ela pudesse concluir sua fala. Foram descortesmente solicitar que ela encerrasse sua participação. Por isso mesmo, esse não foi um equívoco, não se tratou de um simples erro; os mecanismos que possibilitaram às pessoas essa tomada de decisão têm nome: racismo.

Não é um fato isolado. É o mesmo sistema que leva a conselheira presidenta a ter sido interpelada e questionada em sua narrativa por outra palestrante durante evento sobre a História da Psicologia, desta vez na UFPR em Curitiba. É a base que levou a estudante indígena Ana Lucia Yvoti Guarani a não ser chamada a falar, embora convidada, durante evento na UEL, em Londrina. Todos estes fatos ocorreram apenas neste mês.

São esses mecanismos que fazem com que buscas nada aleatórias sorteiem sempre pessoas não brancas nos aeroportos, com que estudantes que se identificam como pessoas negras tenham dificuldades para permanecer nas escolas e nas universidades, com que os espaços de poder sejam ocupados por pessoas brancas. É a mesma base que faz com que os jovens negros sejam a população que é a maior vítima de homicídios e da violência policial no país.

O Conselho Regional de Psicologia do Paraná não vem a público apenas porque são necessárias uma reflexão profunda e medidas que modifiquem e reparem o ocorrido na FAE com sua conselheira presidenta. O CRP-PR se manifesta por obrigação ética, a qual  se estende a todas as pessoas profissionais de Psicologia: não se calar diante do racismo e não tolerar a violência. O  Código de Ética da profissão prevê, em seu artigo 2º, que a profissionais de Psicologia é vedado praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizem negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou opressão.

Portanto, é dever de toda pessoa Psicóloga não só não ser violenta, mas não se omitir diante da violência. Por isso, aproveitamos o momento para também ressaltar as vozes que se ergueram, exigindo que a palavra fosse restituída à representante da autarquia.

E esperamos que, seguindo o Código de Ética da profissão que abraçaram, profissionais de Psicologia – e todas as pessoas da instituição – possam utilizar esse momento para a reflexão sobre esses mecanismos que fazem com que as mulheres, em especial as mulheres negras, passem por situações violentas que as tentam calar. São processos coletivos, institucionais e subjetivos que demandam atenção, retratação e revisão.

Não nos calaram ontem, não vão nos calar nunca. É preciso, sim, olhar para os atrasos, mas para aqueles que realmente importam, uma vez que já passou o tempo da construção de uma sociedade mais justa.  É tempo de superar o atraso. Griziele, Ana Lúcia e tantas outras continuarão falando. Não falam por elas, falam pela maior parcela da sociedade brasileira, com elas falam milhões de pessoas negras. Elas falam sobre uma história de luta, falam sobre um presente de resistência e sobre um amanhecer de justiça e igualdade que ninguém impedirá de nascer. 

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