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CRP-PR assina manifesto e apoia luta antirracista na saúde coletiva

O Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) chancelou, mais uma vez, a importância da luta antirracista na saúde coletiva ao assinar o Manifesto do I Encontro de Coletivos Negros, o qual discorre sobre os avanços e desafios nesta pauta. O manifesto, publicamente lançado no dia 20 de novembro de 2022, durante 13° Congresso da Associação de Saúde Coletiva Saúde é democracia: Diversidade, Equidade e Justiça Social, compartilha conhecimentos construídos coletivamente por espaços constituídos por estudantes e pesquisadoras(es) negras(os/es) no contexto acadêmico. 

O texto reivindica, entre outras pautas, a construção de políticas públicas para possibilitar o acesso e a permanência de pessoas negras nesses espaços, bem como a inserção do antirracismo de forma integral e transversal às disciplinas de todos os cursos. O manifesto encerra-se com a afirmação de que “saúde, democracia, equidade e justiça social não são possíveis sem o enfrentamento do racismo, do machismo e da homofobia institucionalizada!”

Leia o documento na íntegra abaixo:

13° Congresso da Associação de Saúde Coletiva Saúde é democracia: Diversidade, Equidade e Justiça Social

Manifesto do I Encontro de Coletivos Negros: avanços e desafios na luta antirracista na saúde coletiva

Nós, participantes do I Encontro de Coletivos Negros: avanços e desafios na luta antirracista na Saúde Coletiva, realizado no dia 20 de novembro de 2022, compartilhamos nossas reflexões e apontamentos construídos coletivamente, com o objetivo de discutir sobre os avanços, desafios e oportunidades observados pelos integrantes dos coletivos, na formação de sanitaristas e pesquisadores negres. 

Os coletivos negros têm se configurado como espaços de acolhimento, colaboração, fortalecimento, luta, resistência e cuidado comunitário entre alunos negres, cada vez mais presentes nas instituições de ensino superior. A chegada de nossos corpos negros, assegurada e potencializada pela Lei 12.711/2012, responde à luta de nossos ancestrais para garantir a educação como um direito democrático. 

A chegada do corpo e consciência negra à universidade é marcada tanto pela realização de um sonho, quanto pelo choque com instituições ainda estruturadas por um modus operandi burguês-classista-machista-racista, que garante que apenas uma pequena parcela da sociedade acesse a universidade pública e gratuita. 

Essa realidade é responsável por sofrimentos, apagamentos, silenciamentos e tensões que tem se refletido principalmente em nossa saúde mental, trazendo impactos para nossa permanência, já ameaçada pela incipiência ou ausência de políticas internas que assegurem e estimulem a permanência dos alunos negres vindos da periferia da sociedade. 

Soma-se a isso a quase ausência de docentes negres, de referenciais fora do eixo Norte-Global e Europa; a marginalização de outros saberes, outras subjetividades e outros modelos de produção de conhecimento para além dos padrões normativos hegemônicos; a resistência ao desenvolvimento de pesquisas que tratem da realidade e desafios da população negra; a ausência da discussão obrigatória sobre saúde da população negra na formação de sanitaristas, embora essa população representa 56% da população brasileira e seja majoritariamente usuária do Sistema Único de Saúde.

Ainda lidamos cotidianamente com disputas e narrativas que não reconhecem as relações étnico-raciais desiguais como fundantes do racismo estrutural que marca a nossa existência, limitando a diversificação, a produção e a atuação no campo da Saúde Coletiva. 

As oportunidades para uma formação saudável e democrática, passam por: 1) Possibilitar o acesso e a permanência dos estudantes negros a partir de políticas que nos garantam as condições materiais necessárias; 2) Investir em mudanças curriculares que abordem o enfrentamento ao racismo de maneira integral e transversal às disciplinas; 3) Entender as relações étnico-raciais como potência de saberes e fazeres em direção à educação e ciências mais equânimes; 4) Tomar decisões políticas e políticas públicas institucionais que priorizem, de fato, o enfrentamento do racismo e também 5) Passar pelo comprometimento da branquitude com a perda de privilégios sustentados pelo apagamento do outro. 

Por fim, reiteramos que saúde, democracia, equidade e justiça social não são possíveis sem o enfrentamento do racismo, do machismo e da homofobia institucionalizada!

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