Notícia

Por que o racismo ainda é naturalizado?

Por Jefferson Olivatto da Silva (CRP-08/13918), Rosiane Martins de Souza (CRP-08/14328) e Ramon Andrade Ferreira (CRP-08/28114), da Comissão Étnico-Racial do CRP-PR

Toda data comemorativa faz menção a um fato, situação ou reconhecimento. Podemos considerar que a comemoração ao Dia da Consciência Negra e Dia Nacional de Zumbi dos Palmares é um caminho fundamental e necessário para reconhecer a importância da vida negra na sociedade brasileira, bem como no desenvolvimento de seus afetos e processos cognitivos. No entanto, desde que o Dia da Consciência foi criado enquanto data comemorativa, vem sendo relativizado em muitos municípios no Estado do Paraná, denotando mais uma vez o descaso histórico com a população negra, uma vez que os demais feriados históricos são tratados com a devida relevância.

 

 

Podemos traçar essa breve reflexão pela conjunção entre a constatação do imaginário social brasileiro de evitar esse reconhecimento e a importância de um marco social como o é o dia 20 de Novembro. Para tanto é preciso ter em mente a complexidade psicossocial do racismo em termos de contingenciamento psíquico que foi produzido por processos sócio-históricos de longa duração e em larga escala de violência, a ponto de acompanharmos similaridades de manifestações racistas em diferentes regiões brasileiras, como ocorreu no dia 10 de novembro do corrente ano em Maringá-PR contra estudantes haitianos. Nesse caso, aponta a nossa frente o desprezo contra negros e negras como um complexo em que converge frustrações, fragilidades individuais e ignorância na forma de um embotamento emocional, que busca na violência sua resolução prática. 

 

Aprendemos, infelizmente, com a contínua historicidade da violência racial, que o caminho é nos debruçarmos cada vez mais nos mecanismos psíquicos promotores do racismo. Isso significa dizer, perscrutar os processos psicológicos que operaram naqueles que praticam o racismo.

Nesse sentido, esse tipo de reação é patológica e precisa ser tratada como tal, ou seja, aqueles que persistem agindo por meio desse embotamento devem ser analisados tão seriamente quanto aqueles que cometem crimes hediondos, posto que esse tipo de resolução, se não interrompido, metaboliza-se continuamente em novos alvos para ser externalizado, tanto no interior da própria família quanto nas ruas, bares, boates, campo de futebol etc. 

 

 

Aprendemos, infelizmente, com a contínua historicidade da violência racial, que o caminho é nos debruçarmos cada vez mais nos mecanismos psíquicos promotores do racismo. Isso significa dizer, perscrutar os processos psicológicos que operaram naqueles que praticam o racismo: desde as aprendizagens emocionais mais tênues como risadas de piadas racistas até a difusão do ódio e da violência explícita contra as diferentes manifestações negras culturais ou religiosas.

 

 

De outra forma, urge compreender que as narrativas das mais diferentes autoridades (midiáticas, escolares, políticas ou religiosas) têm alimentado o imaginário social com discursos, imagens ou músicas sobre desemprego, não entrada da universidade ou em cargo público, traições ou, simplesmente, o mal no mundo causados pela existência do negro e da negra. Daí para os atos de violência racistas rotineiros (piadas, xingamentos, socos, estupros ou homicídios) tornou-se somente uma questão de tempo – isto é, fomentar o racismo é um dos elementos da própria violência que acompanha o soco ou a paulada contra negros e negras.

 

Se em outros países os eventos de violência e extermínio são reconhecidos por monumentos ou museus, podemos nos reeducar para que o Dia da Consciência Negra e Dia Nacional de Zumbi dos Palmares seja um emblema nacional do alerta da violência sistemática contra negros e negras?

A pergunta que precisa ser acesa no Dia da Consciência Negra e Dia Nacional de Zumbi dos Palmares e ser mantida é: quais são os motivos para que no Brasil ainda haja pessoas naturalizando o racismo? Se em outros países os eventos de violência e extermínio são reconhecidos por monumentos ou museus, podemos nos reeducar para que o Dia da Consciência Negra e Dia Nacional de Zumbi dos Palmares seja um emblema nacional do alerta da violência sistemática contra negros e negras?

 

Por fim, insistir em celebrar o 20 de novembro de Zumbi, Dandara, Tereza, Carolina, Conceição, Marias e Joãos, homens e mulheres negras, nossos ancestrais que lutaram para que nossa história fosse reescrita por mãos negras, faz com que resgatemos nossa ancestralidade que segue  driblando os novos algozes e açoites da contemporaneidade. Por tudo e por todos, resistimos!

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