Em 22 de junho, o Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) tomou conhecimento, por meio de diversos contatos de psicólogos, do artigo “O presente e o futuro da prática psicológica no Brasil”, publicado nesta Gazeta do Povo. Assim como os psicólogos que nos procuraram, ficamos estarrecidos com o teor e com a qualidade do artigo.
No cômputo geral, discordamos do texto como um todo. Destacamos, a título de ilustração, algumas assertivas trazidas pela autora que aponta que os candidatos ao curso de Psicologia procuram esta formação por curiosidade e/ou para atender suas próprias necessidades psicológicas; que as pesquisas em psicologia não apresentam resultados úteis; traz que para ser psicólogo é necessário ter “experiência de vida”; que os professores são ruins em sua maioria; que se valem de ideologias ou de conceitos new age; e, em especial, que o futuro da psicologia é uma interrogação.
Chama-nos atenção que alguém que defende a ciência faça generalizações sem outra fundamentação além de mera opinião. É inconsistente questionar os resultados de pesquisas psicológicas apoiando-se em recortes de trabalhos acadêmicos. É contraditório e insuficiente questionar a qualidade da formação acadêmica brasileira baseando-se em seus contatos pessoais.
“O trabalho da psicologia qualifica a vida das pessoas”
A autora, ao equiparar a psicologia com a psicoterapia, demonstra desconhecimento da atuação dos psicólogos em outros contextos. A psicologia está presente em diversas áreas (escolas, organizações, Justiça, entre outros), tem uma gama de abordagens para o fenômeno Psi (psicanálise, psicodrama, behaviorismo, logoterapia – citada no artigo – e demais) e especialidades (trânsito, avaliação psicológica, neuropsicologia, e mais nove previstas pela Resolução CFP 013/2007).
Isto posto, entendemos que a psicologia pressupõe uma abertura ao diálogo, uma abertura à transformação; um psicólogo não está formado com cinco ou com 20 anos de estudo, mas está em constante aprimoramento. Sugerir que um profissional diplomado, a priori, não tem condições de atuar é um desserviço à população. Especialmente porque muitos daqueles que necessitam do apoio de um psicólogo clínico estão em situação vulnerável, seja ela emocional, relacional ou social.
Os Conselhos de Classe existem para proteger a sociedade de profissionais que atuem com baixos padrões técnicos e éticos, o que existe em todas as profissões. Conforme previsto no Código de Ética, todo psicólogo, ao se apresentar como tal, deve apresentar seu número de registro no CRP de sua região. Verificamos, inclusive, que a autora não possui inscrição em nenhum dos 23 CRPs do país.
Observamos que a procura da população pelos serviços prestados pela psicologia vem aumentando. Este crescimento não se dá por ou para orientação ideológica, mas pelo reconhecimento social de que o trabalho da psicologia qualifica a vida das pessoas.
O tempo atual da psicologia é o do diálogo e o futuro se constrói nesta base, de respeito, tolerância, empatia e também de técnica, pesquisa e ciência. Neste rol de conhecimentos, é mister a defesa da diversidade, da dignidade humana e de valores democráticos. Reafirmamos o compromisso da psicologia em promover qualidade de vida das pessoas e das coletividades, e convidamos as pessoas a conhecer como o trabalho de uma psicóloga ou psicólogo pode aliviar seus sofrimentos, mas também potencializar suas qualidades.
Bruno Jardini Mäder é conselheiro tesoureiro do CRP-PR. Guilherme Bertassoni da Silva é conselheiro presidente do CRP-PR.