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Congressos com a participação do CRP-PR debatem uso de maconha e psicodélicos em contexto terapêutico

Descrição da imagem: A imagem mostra uma cena de um congresso com a participação do CRP-PR, onde um grupo de pessoas está em uma mesa de debates. Em destaque, um homem com microfone fala, enquanto outras pessoas ao lado observam e escutam atentamente. A mesa contém garrafas de água e placas com nomes dos participantes. No fundo da imagem, em letras grandes e brancas sobre um fundo roxo, lê-se: "CONGRESSOS COM A PARTICIPAÇÃO DO CRP-PR DEBATEM USO DE MACONHA E PSICODÉLICOS EM CONTEXTO TERAPÊUTICO". No canto superior direito, está o logotipo do "CRP-PR em ação" e, no canto inferior direito, o logotipo do Conselho Regional de Psicologia do Paraná.

* Fotos do CFP

Representante do CFP na mesa de dabate do congressoCom o uso terapêutico de psicodélicos e cannabis ganhando espaço na ciência internacional, a Psicologia deve caminhar lado a lado neste frutífero debate científico. Neste sentido, o Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) participou de dois eventos recentes sobre o tema. Entre os dias 17 e 19 de outubro, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) promoveu, em Brasília-DF, o “Congresso Brasileiro de Psicologia, Maconha e Psicodélicos: ética, saberes ancestrais e os caminhos para atuação”; já o “II Congresso Brasileiro de Psicodélicos: integração, acesso e regulação” foi realizado no Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ) entre os dias 8 e 9 de novembro, uma organização da Associação Psicodélica do Brasil (APB) com apoio do Conselho Federal de Psicologia.

Descrição da imagem: duas mulheres participando do congresso, uma delas segura uma ecobag O psicólogo Fábio José Orsini Lopes (CRP-08/09877), conselheiro do CRP-PR, esteve nas duas atividades, enquanto o primeiro congresso contou com uma delegação mais expressiva, composta pelo também conselheiro Andrey Santos Souza (CRP-08/30587), além dos profissionais Ramon Andrade Ferreira (CRP-08/28114), Felipe de Nadai Gonçalves de Oliveira (CRP-08/35704) e Kassia Gonzales Tosta (CRP-08/31419).

“O evento foi grandioso e já pode ser considerado um marco histórico para a categoria”, afirmou Fábio acerca do primeiro congresso, cuja mesa de abertura ajudou a compor. Ele comenta que o evento debateu diretrizes e parâmetros éticos, bem como o papel do Sistema Conselhos na condução do debate público e possibilidades de incidência sobre a formação profissional. 

“O Congresso expressou a preocupação com seus temas centrais, de forma que houve constante diálogo entre ética, saberes ancestrais e as diretrizes para a atuação. Destaco as perspectivas do paradigma antiproibicionista, a lógica da redução de danos, a desestigmatização e a despatologização das pessoas que usam drogas, além de discussões sobre protocolos clínicos. A perspectiva da Atenção Psicossocial e as diretrizes do SUS também foram amplamente consideradas e nortearam os debates.”

Kássia Gonzáles comenta que as discussões giraram em torno dos potenciais usos terapêuticos, tanto da maconha como de determinados psicodélicos, como alternativas de tratamentos para condições como ansiedade, depressão, transtorno do estresse pós-traumático, dentre outras, em que pesem os entraves regulatórios que desaceleram e dificultam as pesquisas no Brasil. 

O psicólogo Felipe de Nadai escreveu algumas notas sobre o evento e disse que o congresso refletiu “uma crescente necessidade de entender o papel dos psicodélicos não apenas no contexto da clínica psicológica, mas também nas tradições e práticas culturais que há milênios fazem uso dessas substâncias”. Ele ainda salienta o processo de construção deste debate no Sistema Conselhos, amadurecido por muitos anos. “Isso reflete a seriedade com que o tema dos psicodélicos está sendo tratado, não apenas como uma curiosidade acadêmica ou como um modismo terapêutico, mas como uma área legítima de estudo e prática clínica, com implicações éticas, científicas e políticas.”

Saberes ancestrais

A perspectiva dos povos originários ficou bastante evidenciada durante o evento do CFP, considerando que alguns psicodélicos, como a ayahuasca, contam com uso milenar por alguns povos. Neste sentido, a fala da advogada indígena e diretora do Museu Nacional dos Povos Indígenas Fernanda Kaingang foi mencionada pela delegação do CRP-PR como uma das mais impactantes.Descrição da imagem: mesa do congresso composta por quatro pessoas

“Como parte do povo Kaingang, do Sul do Brasil, Fernanda trouxe à tona a dura realidade enfrentada pelas comunidades indígenas ao longo de mais de 500 anos de colonização e expropriação. Os saberes ancestrais de cura e espiritualidade dos povos indígenas têm sido sistematicamente apropriados pela ciência ocidental e pela indústria de substâncias psicodélicas”, relata Felipe. “A pesquisa acadêmica sobre os saberes tradicionais não saiu impune, em sua etimologia e teleologia, apontadas as hipocrisias das políticas que tratam os indígenas como ‘invisíveis’ enquanto exploram seus conhecimentos sem retribuição.”

Perspectivas futuras do debate

Para os membros da delegação do CRP-PR, este é um debate que deve continuar acontecendo com base em evidências científicas, bem como nas implicações éticas e sociais. O psicólogo Fábio, que representa o CRP-PR no GT “Atuação da Psicologia nos usos de cannabis e psicodélicos em contexto terapêutico”, salienta que o debate deve interessar a toda a categoria, uma vez que “há uma infinidade de pessoas que fazem diferentes tipos de usos dessas substâncias”, que podem ter profundos efeitos na subjetividade e no funcionamento psíquico. 

“A proibição e criminalização de pessoas que usam essas substâncias é não apenas um erro com flagrante ineficácia, mas também um modo de gestão com implicações de ordem política e econômica. A categoria precisa debater e construir diretrizes claras e seguras para a atuação. O Congresso foi um passo nessa direção.”

descrição da imagem: auditório do congresso composto por palestrantes e profissionais da PsicologiaJá Kássia, que pesquisa o tema de redução de danos desde 2016, salienta ainda que a categoria muitas vezes ainda confunde esta prática, que está alinhada aos direitos humanos, com uma suposta “apologia ao uso de drogas”, e que por isso a realização do evento é importante para aproximá-la de discussões de cunho científico. “Esses debates são fundamentais porque envolvem temas que afetam diretamente a prática clínica e o compromisso ético com a saúde mental. A inclusão de substâncias como a maconha e psicodélicos no tratamento de transtornos mentais é um campo emergente que demanda conhecimento crítico e ético dos profissionais”, afirma.

A profissional destaca ainda o papel do Sistema Conselhos de “se abrir para os diferentes lados da questão, apoiando a pesquisa científica rigorosa e defendendo que os estudos avancem de forma responsável”. “Ao mesmo tempo”, ela segue, “deve ser sensível às demandas sociais por uma política de saúde que ofereça alternativas de cuidado, respeitando o direito das pessoas que usam drogas e evitando a estigmatização desses corpos.” 

Leia também a cobertura do CFP sobre o “Congresso Brasileiro de Psicologia, Maconha e Psicodélicos: Ética, Saberes Ancestrais e os Caminhos para Atuação”: 

descrição da imagem: pessoa palestrando para as pessoas no congresso
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