A rotina mudou repentinamente. Em poucos dias a população brasileira viu os casos confirmados de COVID-19 aumentarem e as autoridades recomendarem o distanciamento social como única forma de frear a transmissão do novo coronavírus. A alteração brusca nos hábitos diários – ir à escola, fazer atividades com amigos, etc. – já é um desafio para a maioria das crianças, mas a angústia pode ser ainda maior para aquelas que apresentam o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
A Psicóloga Natalia Cesar de Brito (CRP-08/17325), que trabalha com crianças autistas, explica que a previsibilidade é um fator muito importante para elas. “Nós preparamos as crianças para mudanças na rotina, mas nesse caso tudo aconteceu muito rápido, nós não tivemos tempo. Algumas tinham em um dia contato com amigos e no outro dia não tinham nenhum”, conta.
Como cuidar da criança em casa?
Entender que um vírus invisível aos nossos olhos faz com que seja necessário ficar em casa para evitar o contágio é mais difícil para as crianças com TEA. Isso pode levar a criança a ter crises e apresentar sintomas como ansiedade e mesmo agressividade. Como as(os) profissionais que a acompanham não poderão estar presentes neste momento de distanciamento social, é importante que pais, mães ou responsáveis saibam como agir.
A Psicóloga explica que em primeiro lugar é preciso esperar a criança se acalmar, nem que isso demore a acontecer, oferecendo água ou outra coisa de que a criança precise. Depois, o uso de recursos visuais como vídeos voltados para a idade é um aliado para que a criança entenda a situação. “É recomendado fazer um reforço diário dessas informações, para a criança assimilar a informação”, explica.
Já no dia a dia, é importante que as(os) cuidadoras(es) tentem manter a rotina de horários para acordar e fazer atividades educativas, bem como envolver a criança em atividades domésticas próprias para a idade, como arrumar a mesa ou cuidar de animais de estimação. Além disso, a especialista dá uma dica: “Apesar de sermos contra o uso excessivo de eletrônicos, os jogos educativos podem ser grandes aliados para criar um momento produtivo de aprendizado”.
Atendimento psicológico
Com a indicação de suspensão dos atendimentos presenciais não emergenciais, as(os) Psicólogas(os) que atuam com crianças autistas precisam avaliar cada caso para decidir se cabe ou não um atendimento online. Natália comenta que alguns dos pacientes têm um grau maior de comprometimento, então a primeira opção da equipe foi gravar vídeos com orientações para os pais; em seguida, para crianças e adolescentes que aceitem permanecer um tempo maior frente ao notebook/tablet/celular, o atendimento online poderá ser uma opção.
Conscientização para o autismo
Neste ano de 2020 todas as atenções estão focadas na pandemia do Covid-19 e suas consequências, mas não podemos nos esquecer de sempre falar sobre o Transtorno de Espectro Autista. Informar sobre condição que afeta uma a cada 160 crianças no mundo – número que, se acordo com a Organização Mundial da Saúde, pode estar subnotificado – é o objetivo do Dia Mundial de Conscientização para o Autismo, em 02 de abril.
Presente na mídia em filmes e séries de televisão como Atypical, da Netflix, o espectro ainda é cercado de muitas dúvidas e estigmas. A Psicóloga Natalia Cesar de Brito destaca que, ainda que não tenha cura, o autismo pode ser manejado com acompanhamento multiprofissional. “A intervenção precisa ser realizada com carinho e cuidado, lidando com as expectativas dos pais e nunca fazendo comparações com outras crianças. Um paciente não está melhor que outro, ele está melhor que ele mesmo um tempo atrás”, explica.
Natália defende que as crianças têm condições de aprender, ainda que utilizando estímulos repetitivos, da mesma forma que se faz com crianças neurotípicas, sempre ressaltando que a intervenção precoce faz toda a diferença para o aprendizado de todas as crianças.
Atualização profissional
Para as(os) Psicólogas(os) que trabalham ou desejam atuar com o Transtorno do Espectro Autista, Natalia Cesar de Brito (CRP-08/17325) preparou uma lista de materiais, entre livros, filmes e séries, sobre a temática:
Livros
Espectro Autista: O que é? O que fazer?, de Maria Helena Keinert e Sérgio Antoniuk, Editora Íthala
O cérebro autista, de Temple Grandin e Richard Panek, editora Record
Mundo Singular – Entenda o Autismo, de Ana Beatriz Barbosa Silva, editora Fontanar
Filmes
Temple Grandin, Drama, EUA, 2010
Mary & Max – Uma amizade diferente, Animação, Austrália, 2010
Série
Atypical, EUA, 2017 (Netflix)