O Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) participou na última segunda-feira (13) do Seminário “Violência nas Escolas”, realizado na Assembleia Legislativa do Paraná por iniciativa da deputada Luciana Rafagnin. A instituição foi representada no evento pela Conselheira Carolina de Souza Walger (CRP-08/11381), que defendeu a presença de Psicólogas(os) nas escolas junto à equipe multidisciplinar, como forma de compreender as circunstâncias e causas da violência que está presente neste ambiente e também formas de prevenção.
A conselheira comentou que este problema presente na escola não está descolado de um cenário de violência na sociedade e ressaltou que questões como a violência de Estado, de gênero, racial, contra a orientação afetivo-sexual ou contra escolhas religiosas, além da desigualdade social e dos demais preconceitos estão na raiz destes problemas.
“Embora a gente use o termo violência na escola – e ele não está errado – a gente está falando de violência, portanto de uma violência que é social e que se reproduz no ambiente escolar. Nós estamos falando de diversos tipos de violência e nós não podemos entender as escolas descoladas da sociedade, como se o problema estivesse localizado exclusivamente nas escolas ou exclusivamente nas universidades, mas fora desses muros estivesse tudo perfeito”, explanou. E complementa: “o fato é que as nossas crianças, adolescentes e jovens têm a escola como seu principal espaço de socialização e, naturalmente, é lá que a violência sofrida na sociedade e a violência sofrida muitas vezes dentro de suas casas irão se repetir, irão se reproduzir”.
A Psicóloga também ressaltou que o protagonismo da discussão pertence às(aos) professoras(es), alunas(os), pedagogas(os), inspetoras(es) de ensino e demais profissionais que atuam nas escolas, família e a comunidade, mas que a Psicologia pode e deve contribuir para a superação deste que é um desafio para a sociedade. “Esse debate só é possível de ser feito com quem vive na pele a violência, no dia a dia das escolas”, afirmou. No entanto, Carolina também ressaltou a importância da melhoria das condições de trabalho de professoras(es) e outros profissionais da educação, mas defende que não é razoável colocar sobre essas(es) profissionais o peso de resolver – sozinhos – a questão da violência nas escolas e a educação cidadã e devem contar com o apoio de outros profissionais, abrangendo a Psicologia.
Carolina explica que essa participação, no entanto, não deve ocorrer apenas em situações emergenciais e nem deve ser resumida a um processo de avaliação dos estudantes. Para ela, é preciso uma compreensão mais abrangente da atuação da(o) Psicóloga(o) no contexto escolar, o que inclui atividades com diversos públicos e de prevenção a partir de um olhar específico da profissão, necessitando de investimentos concretos do poder público. “Estamos falando de uma equipe multidisciplinar que consiga olhar e dar apoio a este professor que está em processo de sofrimento, para esses estudantes que estão em processo de sofrimento e, por que não, para essa comunidade em torno do contexto escolar que possa ser incluída neste trabalho.”
Debate
Participaram do seminário também o juiz auxiliar da segunda vice-presidência do TJ, Anderson Ricardo Fogaça, o procurador Olympio de Sá Sotto Maior Netto, a presidente da Comissão de Estudos sobre Violência de Gênero da OAB-PR, Helena de Souza Rocha, a chefe do Departamento de Diversidade e Direitos Humanos da Secretaria Estadual da Educação, Angela Nasser, o presidente da APP-Sindicato, Hermes Leão, o funcionário escolar Paulo Lima, a professora Andréia Ferreira, da rede pública estadual, a professora Loriane Trombini, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e a estudante Alana Letícia de Souza.
Alana, de 13 anos, alertou para a necessidade de Psicólogas(os) na escola. Ela conta que a exposição midiática centrada nos executores de situações de violência como a enfrentada pela escola Raul Brasil, em Suzano, que colocam em evidência os agentes da violência, seus passos e métodos, podem inspirar outros jovens a cometer atos semelhantes. “A escola precisa passar confiança para o aluno. O aluno precisa saber que a escola pode ajudar. (…) Se houvesse mais funcionários, mais especialistas, como a Psicologia que sabe como lidar com esses assuntos, ajudaria muito, seria importantíssimo. Porque os professores não sabem como lidar com isso, um aluno pede ajuda, mas o professor não sabe como lidar da forma certa”, afirmou.
Ela também comentou que a prioridade para a educação está no discurso, mas não se reflete em investimentos na educação. “Como um aluno vai entender que a escola é importante, sendo que o governo não reconhece a importância dela? Como a importância dos professores? O governo precisa reconhecer a importância deles. A educação é a base de tudo, então, ele devia investir primeiramente nisto.”
Assista aqui, na íntegra, o Seminário “Violência nas Escolas”
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O tema da violência nas escolas tem estado presente tanto nas discussões da Comissão de Psicologia Escolar e da Educação do CRP-PR como também nos debates promovidos durante as reuniões plenárias da instituição.
O CRP-PR também tem buscado a articulação junto aos parlamentares para a elaboração ou aprimoramento de Projetos de Lei que possam garantir a presença de profissionais da Psicologia no ambiente escolar e em outros projetos que envolvem a atuação de Psicólogas(os). Neste sentido, a instituição realizou também, no dia 08 de maio, reunião no gabinete da deputada Luciana Rafagnin e está buscando agenda com outros parlamentares para discutir assuntos caros à Psicologia.