CONHEÇA 6 MULHERES NEGRAS QUE COLABORAM NO DESENVOLVIMENTO E FORTALECIMENTO DO COMPROMISSO SOCIAL DA PSICOLOGIA
Neste 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, o Conselho Regional de Psicologia do Paraná relembra a contribuição de algumas mulheres negras para o desenvolvimento e fortalecimento do compromisso social da Psicologia.
O nosso convite é para você conhecer mais pesquisadoras, escritoras e ativistas negras, incluindo as seis mulheres negras que destacamos neste post, que trazem com seus estudos e trabalho a perspectiva antirracista tão necessária à profissão da Psicologia.
1. Virginia Leone Bicudo (1910 – 2003)
Virgínia Bicudo nasceu na cidade de São Paulo em 1910. Estudou na Escola Normal Caetano de Campos, também na capital paulista, e foi a única mulher a obter o bacharelado em ciências sociais na Escola Livre de Sociologia e Política, em 1938. Ela também foi a primeira não-médica a ser reconhecida como psicanalista no país e se tornou uma das primeiras professoras universitárias negras, com aulas ministradas na Universidade de São Paulo, na Santa Casa e na Escola Livre de Sociologia e Política.
Pioneira nos estudos sobre o racismo na sociedade brasileira, realizou pesquisas sobre as relações raciais a partir das interfaces entre sociologia, antropologia, psicologia social e psicanálise, ressaltando a interação entre essas áreas do conhecimento, contribuindo e abrindo caminhos para que a Psicologia voltasse o olhar às interseccionalidades e ao sofrimento que o racismo provoca na vivência humana.
Para saber mais:
·Os Segredos de Virgínia: Estudo de Atitudes Raciais em São Paulo (1945-1955), tese de doutorado de Janaína Damaceno Gomes. https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-14032014-103244/publico/2013_JanainaDamacenoGomes.pdf
Atitudes raciais de pretos e mulatos em São Paulo. Livro de Virgínia Leone Bicudo, edição organizada por Marcos Chor Maio.
https://www.amazon.com.br/Atitudes-Raciais-Pretos-Mulatos-Paulo/dp/8562116033
2. Lélia Gonzalez (1935 – 1994)
Lélia Gonzalez foi escritora, filósofa e antropóloga brasileira entre muitas facetas. Referência nos estudos de gênero, raça e classe, influenciou a Psicologia ao relacionar e propor perspectivas interseccionais do racismo e seus impactos sobre a sociedade. Graduou-se em História, Geografia e Filosofia, estudou Comunicação no mestrado e Antropologia no doutorado, sendo essa trajetória imprescindível para sua rica produção intelectual.
Influenciada pelas ideias do psiquiatra martinicano Frantz Fanon, Lélia defendia a descolonização do feminismo e, consequentemente, a fundação de um “Feminismo Afrolatinoamericano”, protagonizado por negras e indígenas.
Para saber mais:
Por um feminismo afro-latino-americano. Lélia Gonsalez. https://www.companhiadasletras.com.br/livro/9788537818893/por-um-feminismo-afro-latino-americano
Lugar de negro. Lélia Gonzalez e Carlos Hasenbalg. https://www.companhiadasletras.com.br/livro/9786559790593/lugar-de-negro
Enciclopédia Mulheres na Filosofia – Lélia Gonzalez. https://www.blogs.unicamp.br/mulheresnafilosofia/lelia-gonzalez/
3. Neusa Santos Souza (1951-2008)
Neusa Santos Souza era psiquiatra, psicanalista e escritora brasileira. Em seu livro Tornar-se Negro, que discute os efeitos psíquicos do racismo na identidade de pessoas negras, Neusa explora e contribui para conectar a psicanálise com os impactos causados pelo racismo e a importância de se considerar a questão racial ao tratar aspectos emocionais e de saúde mental dessa população.
A data de nascimento de Neusa Santos não era consenso, até Luíza Nasciutti, afilhada da escritora, recuperar a informação precisa em sua tese de doutorado: Tornar-se NEUSA: Raça, subjetividade e memória a partir da trajetória e obra de Neusa Santos Souza. Hoje sabemos que Neusa nasceu em 30 de março de 1951.
Para saber mais:
· TORNAR-SE NEGRO Ou As vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social, livro de Nessa Santos Souza. https://www.companhiadasletras.com.br/livro/9786559790296/tornar-se-negro
· Enciclopédia Mulheres na Filosofia – Neusa Santos Souza, Érico Andrade e Priscilla Santos de Souza. https://www.blogs.unicamp.br/mulheresnafilosofia/filosofas/neusa-santos-souza/
4. Isildinha Baptista Nogueira
Isildinha Baptista Nogueira é mestre em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e doutora em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (USP). Fez sua formação nos Ateliers de Psychanalise, em Paris, com Radmila Zygourys, uma das fundadoras da instituição. Em 2022, foi indicada ao Prêmio Jabuti por sua obra Cor do Inconsciente: Significações do Corpo Negro. É psicanalista e pesquisadora. Desde 2022 é conselheira da Associação dos Artistas Amigos da Praça (Adaap,) e gestora da SP Escola de Teatro.
Em sua obra A Cor do Inconsciente: significações do corpo negro, Isildinha trata das marcas psicológicas de um corpo negro exposto a uma sociedade racista e o adoecimento psicológico de pessoas negras em razão do racismo.
Saiba mais:
· Entrevista com Isildinha Baptista Nogueira – Revista Traço. https://www.youtube.com/watch?v=vLx3Zh-0UZc
· A cor do inconsciente: significações do corpo negro. Isildinha Baptista Nogueira. https://editoraperspectiva.com.br/produtos/a-cor-do-inconsciente-significacoes-do-corpo-negro-isildinha-baptista-nogueira/
5. Cida Bento (Maria Aparecida Silva Bento – 1952)
Maria Aparecida da Silva Bento, mais conhecida como Cida Bento, nasceu em 1952, na zona norte de São Paulo. Doutora em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, ela é cofundadora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), e reconhecida por sua importância para o movimento negro e para a produção intelectual em Psicologia para o Brasil.
Cida foi eleita em 2015 pela The Economist uma das cinquenta pessoas mais influentes do mundo no campo da diversidade. Reconhecimento que explícita sua condição de propor à branquitude reflexão e reconhecimento de seu próprio lugar nas relações raciais.
Para saber mais:
O pacto da branquitude. Cida Bento. https://www.companhiadasletras.com.br/livro/9786559212323/o-pacto-da-branquitude
Pactos narcísicos no racismo: branquitude e poder nas organizações empresariais e no poder público. Tese de Doutorado de Cida Bento. https://doi.org/10.11606/T.47.2019.tde-18062019-181514
Assista ao programa Roda Viva (2023) com Cida Bento: https://www.youtube.com/watch?v=pA7bZnpRWnY
6. Jesus Moura (Maria de Jesus Moura)
Maria de Jesus Moura é Psicóloga, psicoterapeuta e professora universitária, sendo especialista em Psicologia Clínica (CFP), com especialização em Clínica de Orientação Analítica (UNICAP) e mestra em Psicologia, pela Universidade Federal de Pernambuco. Jesus Moura é fundadora e coordenadora nacional da Articulação Nacional de Psicólogas(o)s Negras(os) e Pesquisadoras(es) ( ANPSINEP).
Jesus Moura apresenta as especificidades do atendimento às mulheres negras, seja no consultório, seja nas políticas públicas. Em sua dissertação de mestrado, A produção de sentidos sobre violência racial no atendimento psicológico a mulheres que denunciam violência de gênero, apresentada em 2009, estudou a violência racial no atendimento psicológico a mulheres que denunciaram violências de gênero. Nos anexos de sua dissertação, a Resolução 018/2002 e em suas considerações finais, há uma mensagem de chamada à reflexão para todas as pessoas profissionais de Psicologia:
“Costuma-se dizer que a questão racial pertence às pessoas negras. Mas a questão racial é um problema social e, sendo assim, diz respeito a quem pertence e cuida do social. Enfim, todas as pessoas do Estado. Se de um lado a pessoa enquanto ser social deveria se preocupar em compreender o que acontece e o que se pode fazer para mudar esse cenário nacional, do outro, o profissional de Psicologia, independentemente do espaço onde ele/ela estiver inserido, poderá receber demandas de problemas desta ordem”.
Para saber mais:
A produção de sentidos sobre violência racial no atendimento psicológico a mulheres que denunciam violência de gênero. Dissertação de mestrado de Jesus Moura. https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/836
“Para você não romper o silêncio e manter as relações saudáveis, você tem que negar a sua cor”, entrevista publicada pelo El País https://brasil.elpais.com/brasil/2018/07/06/politica/1530885070_540009.html