Texto escrito pelo Núcleo de Psicologia Anticapacitista do CRP-PR
As relações humanas se estruturam sob vínculos de dependência que perpassam a história dos sujeitos e se mostram mais ou menos evidentes em seus diferentes contextos. Para algumas pessoas, tais vínculos se mantêm explícitos ao longo de toda a vida, devido à complexidade de suas demandas de cuidado e proteção.
Para pessoas com deficiência intelectual e múltipla, as condições de autonomia e protagonismo podem se expressar por meio de relações de interdependência, nas quais o suporte é prestado na medida de suas necessidades, sem que isso implique perdas na participação e no exercício da cidadania.
Nessa perspectiva, faz-se importante quebrar a dicotomia entre dependência e autonomia, na medida em que a tomada de decisão com apoio se configura como uma forma válida de expressão da vontade, e como instrumento para o protagonismo de pessoas com demandas complexas de cuidado.
A afirmação da interdependência, enquanto valor ético, implica a constituição de políticas públicas de cuidado e o rompimento da centralidade dos valores da produtividade e da individualidade capitalista.
Na prática, isso significa proporcionar às pessoas com deficiência intelectual e múltipla participação na vida social de forma amparada, com acesso às mediações que lhes forem necessárias. Significa a garantia do direito ao cuidado nas relações escolares e laborais, e assumir a responsabilidade coletiva na defesa do direito à diferença. Significa um esforço coletivo significativo em uma sociedade que nos direciona à competitividade, à superação e ao rendimento, à qual respondemos, numa perspectiva anticapacitista, com cooperação, colaboração e amparo.
Nesta Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, comemorada entre os dias 21 e 28 de agosto, convidamos a categoria a refletir sobre seu compromisso na garantia do cuidado enquanto direito humano fundamental, e na construção de uma sociedade mais inclusiva para pessoas com deficiência intelectual e múltipla.