Texto produzido pela Comissão de Saúde do CRP-PR
O Dia Mundial da Saúde Mental, celebrado em 10 de outubro, nos oferece uma oportunidade para contemplar a profundidade e a complexidade dos processos psíquicos e a necessidade de cuidado. Em um cenário global marcado por desafios crescentes e a falsa oposição entre bem-estar social e liberdade individual, a saúde mental emerge não apenas como uma questão individual, mas como um tema social mais amplo, central para a construção de sociedades mais justas e saudáveis.
A Psicologia nos ensina que a saúde mental é elemento complexo e simples, ao mesmo tempo. Crucial para o bem-estar humano, afeta nossas relações, nosso desempenho e nossa qualidade de vida. Assim, precisamos cultivar espaços de escuta, acolhimento e compreensão. No entanto, nas últimas décadas, assistimos a uma crescente individualização das questões de saúde mental, muitas vezes associada à “patologização” das experiências humanas.
A individualização traz consigo a ideia de que problemas de saúde mental são de responsabilidade única do indivíduo, desconsiderando as influências sociais, econômicas e culturais que moldam nossa experiência de vida. Essa perspectiva pode levar à sensação de culpa e à crença de que a superação de desafios emocionais deve ser feita de forma isolada. Essa abordagem ignora as realidades que muitos enfrentam, como desigualdade social, discriminação e violência, fatores que têm um impacto significativo na saúde mental.
Além disso, a patologização das emoções e comportamentos tem gerado uma tendência preocupante: a medicalização de experiências que, embora complexas e, por vezes, difíceis, são parte da condição humana. Tristezas, ansiedades e angústias, muitas vezes naturalizadas em um mundo que exige produtividade constante, acabam sendo rotuladas como transtornos. Isso pode levar ao uso excessivo de medicamentos e a uma busca por soluções rápidas que não abordam as raízes dos problemas.
Assim, precisamos ir em direção a um movimento de despatologização, para além do psicodiagnóstico e suas formas de intervenção, e promover uma compreensão mais ampla da saúde mental. Observar, ainda, as dificuldades emocionais como manifestações de um ser humano em relação e interação com seu ambiente, defendendo a valorização da empatia, o suporte comunitário e a construção de redes de solidariedade, aspectos essenciais para o cuidado da saúde mental.
Neste Dia Mundial da Saúde Mental, convidamos todas as pessoas a refletir sobre a importância do cuidado integral do sujeito. Que possamos promover uma percepção mais compassiva e menos julgadora sobre as dificuldades que enfrentamos. E que, juntos, possamos lutar por uma sociedade que acolha a complexidade das experiências humanas, reconhecendo que cuidar da saúde mental é um compromisso coletivo, não apenas individual.
Cuidar da saúde mental é um compromisso contínuo com a vida em sua totalidade. Vamos juntos desconstruir estigmas, acolher histórias e promover a saúde mental como um direito de todas as pessoas!